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Cronica Do Dia

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Por:   •  21/9/2014  •  696 Palavras (3 Páginas)  •  220 Visualizações

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Conheço essa menina que é linda, linda. Não é conversa fiada, porque não sou a única que acha isso. Ela é linda e branquinha. Eu também sou branquinha, minhas irmãs, idem. Se bem que, quando o sol era bondoso comigo, na época em que eu ousava brincar debaixo dele, eu era mais parecida com a minha família. Eu era neguinha, neguinha. Eu adorava sê-lo.

Conversando com minha mãe e tias, revisitei o passado com mais curiosidade. Minha tataravó se casou com um bugre, minha bisavó, que era negra, com um português. Meu avô materno tinha olhos azuis. Minha mãe tem olhos verdes. A família do meu pai é clarinha, clarinha. Nascemos branquinhas, fomos enegrecidas pelo sol de horas de brincadeira em quintais, o nosso e dos primos e amigos. Quando as brincadeiras infantes cessaram, desbotamos. Uma pena...

Nasci com o cabelo pixaim, com o nariz de tomada. Ao menos foi o que muitos dos meus colegas de escola disseram, mas essa deveria ser uma verdade que não os ofendesse. Sempre fui gordinha, então daí vieram muitos apelidos também. Pra piorar, mal abria a boca, apenas escrevia meus poemas. Essa mania eu cultivei cedo e vem me acompanhando, desde então.

Até os dezessete anos, eu não me atrevi a deixar os cabelos crescerem. Era a forma eficaz de deixar de lado essa de cabelo pixaim. Não raro me confundiam com um moleque, mas eu nunca liguei pra isso, que às vezes caprichava nos cortes, o que era divertido. Quando decidi deixar os cabelos crescerem, estava no colégio. Por causa da sociabilidade que estudar música me ofereceu, sentia-me mais corajosa, naquela época. Então, durante algum tempo, enquanto os cabelos cresciam, ganhei mais alguns apelidos, que o meio-termo também não cabia no gosto popular. Em quase três anos, meus cabelos ficaram longos e encaracolados, um pixaim de primeira. Não entendi porque eu o evitei por tanto tempo.

Certa vez, em um almoço em minha casa, o pai de uma amiga, assim, do nada, disse que eu tinha “boca de nega”. Como fiquei magérrima somente por um período da minha vida, obviamente outros nicknames, e me tornei vítima de endocrinologistas de boteco. Cliente na fila do banco, cobrador de ônibus, colega de sala no curso de inglês, prima da amiga da amiga, dono do mercadinho do bairro, e por aí vai, pediram, com delicadeza, devo destacar, para tocar os meus cabelos. “Quero ver se parece mesmo Bombril.”. A conversa era quase sempre a mesma, e a delicadeza do tom da pergunta não amortecia o comentário. Mas dependendo da situação, eu matava a curiosidade deles.

Certo dia, eu estava em um táxi com um amigo, que para caber outro amigo, se ajeitou, colocando o braço sobre o meu ombro, tocando, sem querer, os meus cabelos. “Nossa, eu não imaginava que fossem tão macios!”. A surpresa dele me surpreendeu, afinal, eu sempre cuidei bem dos meus cabelos. De um jeito simples, mas eficaz.

Pois é, meu pixaim é macio. Eu adoro o meu pixaim, mesmo mais curto do que naquela época, quando eles eram longos que só. Além do mais, meus sobrinhos adoravam os meus cabelos quando bebês, o que criou lembranças das mais valiosas para eu carregar pela vida.

Mas como eu dizia, aquela menina é linda. Linda e tem somente quatorze anos, ou seja, uma vida toda para descobrir a si e ao mundo. Ela é inteligente, interessante e interessada, criativa. Há vários motivos para

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