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Cuidado De Si

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Por:   •  28/11/2014  •  1.448 Palavras (6 Páginas)  •  356 Visualizações

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Na primeira hora do curso do dia 20 de janeiro de 1982, Michel Foucault evidencia a transformação pela qual o “cuidado de si” passou desde Alcebíades, de Platão, até o início dos séculos I e II de nossa era, caracterizada por ele como “uma verdadeira idade de ouro na história do cuidado de si” (P. 79) [1] [2].

Segundo o filósofo, esta transformação influenciou claramente as culturas posteriores, sobretudo a moral sexual européia moderna, com o regime de aphrodisia [3], entendida como uma experiência greco-histórica dos prazeres, a substância ética da moral antiga, diferente da experiência cristã da carne e da experiência moderna da sexualidade.

Seu objetivo era de destacar as relações subjetividade/verdade de uma maneira mais geral, colocando-as na dimensão histórica e, sobretudo, mostrar que, com a evolução, o cuidado de si tornou-se um verdadeiro fenômeno cultural como princípio de toda conduta racional, em toda forma de vida ativa que queria obedecer ao princípio da racionalidade moral. Não se ignorando que ele sofreu uma série de outras transformações no cristianismo primitivo, medieval, no Renascimento e no século XVII.

O autor considera que existem dois preceitos: o epimeleia heautou que é o cuidado de si-mesmo, a preocupação consigo-mesmo, etc.; e a prescrição délfica da gnôthi seauton – fórmula fundadora da questão das relações entre sujeito e verdade – que quer dizer conhece-te a ti mesmo [4]; que em certo número de textos platônicos se conjugam, como, por exemplo, em Apologia a Sócrates. Em Alcebíades, no entanto, o gnôthi seauton sempre teve uma espécie de subordinação ao epimeleia heautou, como uma maneira de aplicação concreta da regra geral de ocupar-se de si-mesmo.

Encontramos, em Alcebíades, três condições que determinavam, ao mesmo tempo, a razão de ser e a forma do cuidado de si: 1- aqueles que deveriam se ocupar de si mesmos eram jovens destinados a exercer o poder; 2 – o objetivo era o bom exercício do poder; 3 – a forma exclusiva onde ocupar-se de si é conhecer a si próprio.

Em Platão, estas três condições, que Foucault chama, também, de “determinações” ou “limitações”, desapareceram. Primeiramente, os que deveriam ocupar-se de si não eram mais, exclusivamente, jovens políticos, mas todos poderiam fazer isso, sem importar-se com a idade ou o status [5]. Em seguida, não existia mais o único objetivo de bem governar os outros, mas o cuidado tem o fim em si mesmo: em Alcebíades o objeto do cuidado era o próprio cuidado, mas o fim era a cidade, mais tarde, o “si” torna-se objeto e fim. A característica exclusiva do cuidado de si se atenua e torna-se coextensivo à vida, em um conjunto mais vasto, o que podemos chamar de conversão, epistrophê – conhecer o verdadeiro, liberar-se – um movimento que pode nos conduzir deste mundo para outro [6].

Foucault separa os gêneros de expressão em quatro famílias: 1 – os atos do conhecimento: cuidar-se de si, voltar seu olhar para si, examinar-se a si próprio,...; 2 – a idéia de movimento: conversão do olhar, vigilância necessária a si, “movimento global da existência que é levada, convidada a girar, de alguma maneira, sobre ela mesma e a se dirigir ou voltar-se para si.” (P. 82); 3 – o vocabulário médico, jurídico e religioso: cuidar-se, sarar-se, amputar-se, abrir seus próprios abscessos, reivindicar-se a si mesmo, liberar-se, render-se culto, honrar-se,...; 4 – a relação de controle: dar prazer a si mesmo, satisfazer-se, etc.

Com Alcebíades, o momento de se ocupar de si mesmo era a idade da passagem da adolescência à fase adulta, em que o moço deveria passar do erótico ao político. Após Platão, o cuidado deveria ser permanente. Mesmo antes do século I, Epicuro escreveu:

Quando se é jovem, não se pode evitar de filosofar e, quando se é velho, não se deve cansar de filosofar. Nunca é muito cedo ou muito tarde para cuidar de sua alma. Aquele que diz que não é ainda, ou que não é mais tempo de filosofar, parece àquele que diz que não é ainda, ou não é mais tempo de atingir a felicidade. Deve-se, então, filosofar quando se é jovem e quando se é velho, no segundo caso (...) para rejuvenescer ao contato do bem, pelas lembranças dos dias passados, e no primeiro caso (...) afim de ser, ainda que jovem, tão firme quanto um velho diante do futuro. (P. 85)

Assim sendo, filosofar é cuidar de si e isto é uma felicidade (encaixando-se na última família de expressões que vimos acima) pois o objetivo é ser feliz na presença de si próprio. A vida, sobretudo na velhice, torna-se mais feliz. Esta nova forma é, para todos os jovens, uma preparação para ser velho e, para os velhos, uma forma de revigorar-se com o bem.

Esta mudança faz do cuidado de si um corretor, além de formador. A formação que se seguiu mudou de forma: no lugar da formação profissional teve-se a formação para que se suporte, adequadamente, os problemas da vida; é um mecanismo de segurança. No final da adolescência (no caso de Alcebíades) é necessária, preferencialmente, a formação, e na idade adulta (em que, segundo Sêneca [7], o mal está no interior do homem) é preciso a correção, a crítica.

Em seguimento, há uma aproximação da medicina marcada, primeiramente, pelo

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