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DISCURSO E PRECONCEITO

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Por:   •  2/10/2013  •  8.524 Palavras (35 Páginas)  •  733 Visualizações

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Discurso e Preconceito: Sentidos da valorização étnico-racial e da resistência nas músicas da banda Reflexu´s

Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e

Africanos

Glécia Carneiro Oliveira

Linha de pesquisa: Estudos Étnicos

Conceição do Coité,

2012

APRESENTAÇÃO

Este projeto tem como objeto de estudo a análise das letras das músicas da banda Reflexu’s, a partir da Análise do Discurso de orientação francesa (AD). Parte-se do pressuposto de que essas músicas têm seus sentidos construídos especialmente para dois aspectos centrais: a valorização étnico-racial e o protesto contra o preconceito racial. Partindo da premissa de que o negro sempre foi oprimido e posto em lugar de desvantagem se comparado ao branco, a banda, por meio das suas músicas, promovia a possibilidade de uma reflexão sobre a igualdade social em suas relações com as questões étnico-raciais. É necessário ponderar, que a banda utiliza-se de recursos baseados em discursos de resistência e valorização com intuito de transmitir uma mensagem contra o preconceito racial através da exaltação e valorização dessa etnia.

É fato que a participação do negro, em todas as dimensões da sociedade, sempre foi marcada pela submissão dos valores da cultura negra em relação aos brancos. Historicamente, os negros sempre estiveram subordinados na estrutura social e econômica, tanto no período escravocrata, quanto nos que se seguiram. Para Lilia Moritz (2002), o preconceito racial brasileiro tem suas raízes no século XVIII, quando se iniciou o tráfico dos negros escravizados para o país. A sociedade se desenvolveu preconceituosamente, mesmo sendo este um país de maioria afro-descendente. Esta questão, no entanto, não é amplamente discutida e abordada pelos veículos de comunicação, camuflando o preconceito com a afirmação da existência de uma suposta democracia racial.

Não são poucos os exemplos de manifestações sociais e culturais que existem em prol de uma política antirracista ao longo da história da humanidade. No Brasil não foi diferente. No decorrer da história brasileira é possível observar diversas ações e manifestações contra o preconceito racial. Um exemplo que pode ser citado é a organização do Movimento Negro Unificado (MNU), que produziu e incentivou no Brasil, desde a década de 1970, uma ampla discussão sobre questões raciais do ponto de vista das populações de ascendência africana.

A partir desses movimentos uma minoria de negros conseguiram amenizar, em parte, as barreiras impostas pelo preconceito e exclusão social. Entretanto, apesar de tantas lutas, a população negra continua sendo marginalizada pela sociedade e é vista ainda como despreparada, não porque tenha menos capacidade, mas porque nunca lhes foi possível expor a contento ou desenvolver todas as suas potencialidades.

Este problema social, enfrentado até hoje, tem suas origens quando foi abolida a escravidão e não houve nenhuma política social de integração dos negros às atividades comuns, o que ocasionou a formação de uma classe desfavorecida, a qual mais tarde, foi classificada atrevés de mecanismos preconceituosos surgidos a partir de estudos de evolução biológica do século XIX, período no qual se aplicou o conceito de raça à humanidade, marcando a relação de superioridade e inferioridade entre brancos e negros. Tal concepção justificou as respectivas relações de dominação. A noção de raça foi elaborada intrinsecamente para justificar e naturalizar as relações entre dominadores e dominados sob a falsa ótica de superioridade e inferioridade entre seres humanos.

Existe no Brasil um ideário de país cordial caracterizado pela presença de um povo pacífico, sem preconceito de raça. A etnia negra sempre foi discriminada por uma maioria da sociedade, a qual tende a negar a existência de uma discriminação racial.

O mito da democracia racial é uma crença, que por muito tempo vigorou, e ainda vigora, no Brasil, fazendo com que muitos acreditassem que não havia obstáculos para a ascensão social do negro, diferentemente de outros países como os EUA e a África do Sul, onde o racismo se efetiva através de conflitos raciais abertos. A imagem que por muito tempo se cultivou no Brasil era a de um país democrático no quesito racial. Porém, essa crença se chocava com a realidade nacional, onde sempre foi evidente a exclusão do negro.

A década de 1980 foi um período caracterizado por inúmeras manifestações político-sócio-culturais em prol da efetiva democracia racial brasileira, fazendo com que alguns artistas buscassem na música uma forma de denunciar o preconceito e as injustiças sociais que se manifestavam de diversas maneiras durante essa década. Diante disso, torna-se relevante e necessário aprofundar o conhecimento sobre esse tema, contextualizando e caracterizando o papel da música uma vez que esta, funcionará aqui como um alvo de análise sobre a produção de sentidos ao assumir-se como instrumento de contestação e resistência. Como bem evidenciado por Martin Stokes

Quando observamos a maneira como as etnicidades e identidades são colocadas em jogo na performance musical, não deveríamos esquecer que a música é uma das formas menos inocentes através das quais as categorias dominantes são impostas e contrastadas. (STOKES, p.8, 1997)

A música tornou-se assim, para os negros, mais que um espaço de representação sem fronteiras, para funcionar como um símbolo de resistência e contestação. As canções sobre o preconceito racial existe há muito tempo. No Brasil, foi a partir da redemocratização, na década de 1980, que a música como forma de protesto contra o preconceito racial ganhou popularidade. Desde então, a sociedade brasileira passou a buscar na música uma forma de representação social e protesto, oriunda de uma perspectiva que é possível integrar a esta elementos históricos e culturais.

Foi nesse contexto que a banda Reflexu's se destacou, tornando-se a primeira banda baiana a se projetar no cenário nacional dessa década. A trajetória da banda evidencia uma proposta especialmente de protesto, traduzindo musicalmente uma riqueza cultural, baseada na denúncia e na valorização da etnia negra.

Como

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