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Gareth Morgan

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Por:   •  7/5/2014  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  340 Visualizações

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Resenha: “A criação da realidade social: as organizações vistas como culturas”

Publicado em novembro 18, 2009 por Rômulo Cristaldo

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Por Rômulo Cristaldo

MORGAN, Gareth. A criação da realidade social: as organizações vistas como culturas. In: ______.Imagens da organização. Tradução Cecília Whitaker Bergamini, Roberto Coda. São Paulo: Atlas, 2009. p. 115-144.

Gareth Morgan[1], no quinto capítulo de seu famoso livro, toma como objetivo examinar as organizações vendo-as enquanto fenômenos culturais. Isto significa conceituar a firma[2] como um mosaico de mitos, rituais e concepções de senso comum, características de um grupamento social complexo. O capítulo se divide em três partes: a primeira parte defende três argumentos – inicialmente o autor tenta demonstrar como a organização é um fenômeno cultural em si mesmo; em seguida defende que sua atividade é influenciada pelas particularidades culturais das sociedades nas quais está inserida; então aponta que, internamente, a organização possui uma cultura própria, além de subculturas distintas e talvez até mesmo conflitantes. Na segunda parte do capítulo Morgan toma esta assertiva da organização enquanto possuidora de cultura e a aprofunda, propondo que a cultura organizacional é o resultado de uma estrutura de representações e realizações mais ou menos comuns a aquele grupo de pessoas. O texto é finalizado, tal como os demais capítulos do referido trabalho, com algumas considerações acerca das contribuições explicativas e dos limites impostos à capacidade performativa desta metáfora.

Inicialmente Gareth Morgan tenta esboçar um conceito para cultura. Este termo acaba sendo definido como algo denotaria o fato de “que diferentes grupos de pessoas têm diferentes estilos de vida.” (p. 116). No entanto, na seqüência do texto e graças à recorrência do uso, é possível perceber que o autor assume a cultura como um conjunto de “idéias comuns, crenças e valores” (p. 117) referentes a um grupo social.

Citando Robert Presthus, Morgan alega que as organizações são um fenômeno cultural fundado em modos de socialização próprios, as quais compõem o que chama de “sociedade organizacional” (p. 116). Indivíduos que vivem neste tipo de coletividade teriam relações mediadas por organizações e por sua racionalidade técnica, desde a coordenação e divisão do trabalho até a fruição do lazer. Também cita Emile Durkheim ao defender que a expansão das organizações acabaria por solapar os padrões tradicionais de sociabilidade, substituindo o marco de coesão nas culturas pré-existentes por um conjunto fragmentado de valores baseado na divisão social do trabalho e na ética da fábrica. Ainda, o disseminar da empresa, da lógica fabril, poderia ser definido como a formação de uma sociedade industrial em escala mundial.

Entretanto, segundo o autor, mesmo que o crescimento e a disseminação das organizações imponham às sociedades um conjunto de idéias comuns, crenças e valores baseados na ética da empresa, estas não deixam de ser influenciadas pelas muitas culturas com as quais acabam mantendo contato. Morgan cita o exemplo de como alguns pesquisadores atribuíram a fatores culturais o sucesso da indústria automobilista japonesa sobre a americana nas décadas de 70 e 80; alude também ao fato de como tais análises tendem ignorar elementos históricos e institucionais daqueles acontecimentos. Mas, com base no autor, mesmo assim seria possível observar traços de distinção entre as organizações originárias de diferentes países: (1) como nos EUA, onde a firma se funda num individualismo competitivo; ou como na (2) indústria inglesa, que exibe marcas de uma histórica e acirrada luta de classe; ou ainda no fato de (3) nas empresas japonesas parece sobreviver os traços coletivistas tão característicos da rizicultura local, associados à ética de serviço que compunha o código samurai.

Gareth Morgan declara também que a organização, além de ser um elemento cultural e estar inserida em dessemelhantes estruturas sociais, ainda guardaria dentro de suas fronteiras um complexo de formas de pensar, mitologias e normas de conduta próprias: ou seja, haveria uma cultura singular em cada empresa. Esta “cultura organizacional” (p. 125) seria também permeada por subculturas: tanto porque as empresas são formadas por profissionais oriundos de diversas áreas do conhecimento, que inevitavelmente contribuem trazendo modos de agir e falar próprios; como porque as grandes multinacionais têm colocado em contato, num mesmo ambiente de trabalho, pessoas provenientes de distintos grupos étnicos e mesmo de diferentes países; ou ainda por conta de que cada casta na hierarquia funcional encerra um modus vivendi particular. O choque entre estas subculturas, segundo o autor, poderia descambar em conflitos desagregadores ou, ao contrário, se harmonizar em torno de um objetivo maior. De modo geral o embate se manteria num ponto do continuum entre os extremos.

O autor, na segunda parte do capítulo, empreende duas linhas argumentativas: (1) afirma que cultura é resultado das representações interpretativas da realidade que são comuns a muitos indivíduos; e, sendo assim, (2) as organizações são complexos representativos socialmente construídos cuja existência é principalmente subjetiva.

Citando o sociólogo Harold Garfinkel, Morgan afirma que “[...] a natureza de uma cultura [é] encontrada nas suas normas sociais e costumes [...].” (p. 133), regras não-escritas de socialização às quais indivíduos aderem inconscientemente e reproduzem diariamente. O reproduzir automático dos códigos tácitos de comportamento é o que o autor citado denomina realização. Isto contribuiria para formação do substrato subjetivo que batizamos por cultura. Morgan ainda cita o psicólogo Karl Weick ao defender que “[...] o processo através do qual configuramos e estruturamos a nossa realidade [é] um processo de representação.” (p. 134, grifo do autor). A exposição destes dois conceitos seriam maneiras de afirmar que a realidade grupal é construída pela ação consciente-inconsciente dos sujeitos, o que conferiria à cultura um aspecto dinâmico, resultado do encontro psicossocial dos indivíduos. Cultura seria uma representação coletiva da realidade, e mesmo talvez a realidade em si.

Partindo desta premissa, Morgan assevera que a organização é, enquanto fenômeno cultural, composta principalmente pelas construções de realidade que são comuns aos seus membros. Desse modo, as regras, as estruturas, as políticas, os procedimentos, entre outros, seriam apenas manifestações de um processo mais profundo, ou

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