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Por:   •  1/3/2015  •  2.369 Palavras (10 Páginas)  •  135 Visualizações

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Para Stuhlberger, da Verde, Deus conspira contra o país: "não dá água e energia e os preços das commodities estão caindo"

Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia conta a saga de Jó, um homem de quem Deus tirou todos os bens, a família e a saúde para testar sua fé. É a essa imagem que recorre Luis Stuhlberger, gestor do mais conhecido multimercado brasileiro, o fundo Verde, para ilustrar as provações pelas quais o investidor vai passar neste ano. "2015 vai ser o ano de Jó", afirmou em entrevista exclusiva ao Valor, a primeira no controle da Verde Asset Management, nova gestora que nasce com R$ 30 bilhões sob gestão e o Credit Suisse como sócio minoritário. "Você tem Deus conspirando contra o Brasil: não dá água, não tem energia, os preços das commodities estão caindo, o governo aperta em 2% do PIB...", afirma, antes de emendar a ironia: "mas vamos estar mega otimistas, porque 2016 vai ser melhor".

Stuhlberger passa longe de compartilhar a paciência de Jó. Mesmo surpreendido positivamente pela nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, montou posições que ganham com a queda da bolsa brasileira e com a alta do dólar. Acertar os movimentos da moeda americana, seara em que poucos economistas ousam especular, foi a estratégia que mais rendeu ganhos na história do Verde, ainda que se expurgue a maxidesvalorização, forte movimento de queda do real em 1999, quando o fundo teve seu maior ganho, de 135,4%.

Nos 18 anos de vida, o Verde rendeu 9.337%, contra 1.313% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). A carteira somente perdeu para o referencial duas vezes: em 2008, o Verde teve o único retorno negativo de sua história, de 6,44%, enquanto o CDI rendeu 12,37%, e, em 2014, o fundo obteve 8,8%, ante 10,81% do CDI. Apesar da diferença pequena para o benchmark, o gestor aponta o ano passado como um dos mais sofridos de sua história. Para ele, suas teses provaram-se corretas - reeleição de Dilma Rousseff, dólar forte, estagflação e piora fiscal -, mas a execução foi prejudicada, entre outros motivos, pela inesperada versão "Dilma 2.0". Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Colapso do modelo

Muito pouco tem se falado neste começo deste ano sobre a tendência econômica do Brasil, que chamo há dois anos de colapso do modelo. Estávamos muito certos disso independentemente do preço dos ativos ou da questão da execução. É algo importante que o mercado não está levando em conta, [estando] 'in love' com Joaquim Levy. O que é o modelo brasileiro dos últimos 24 anos, desde a Constituinte? Um modelo de crescimento sem nenhuma reforma. É um modelo que tem dois pivôs: cresce o tamanho do governo, principalmente em pagamentos a pessoas: funcionários públicos, salário mínimo, gastos sociais. A participação do governo cresceu absurdamente, de 25% para 40% do PIB em 25 anos. E cresce a fatia do mercado de trabalho. Os salários, que no Brasil eram baixíssimos em relação ao PIB, hoje suspeitamos que estão beirando 58% do PIB.

Queimando na carne

O que sempre foi claro para mim que aconteceria com o modelo: se o tamanho do consumo do governo e do trabalho é tão grande, não sobra nada para os lucros. A lucratividade das empresas não financeiras está colapsando. Quem está pagando um pouco a conta são elas. Todo mundo sobrevive, mas queimando na carne, não gordura, quer dizer, queimando capital de giro, lucros, tomando empréstimos para diminuir prejuízos. É simplesmente impossível crescer sem reforma.

Dilma 2.0

O colapso do modelo nos levou a ter um PIB quase zero nos últimos dois anos, com uma inflação alta e o crescimento de despesas do governo ainda na faixa de 7% a 8% ao ano acima da inflação. Acho que a presidente Dilma viu que isso ia obviamente nos levar à perda do grau de investimento. O Brasil tem uma vantagem enorme sobre outros países, como Argentina e Venezuela, porque ele sabe muito bem que perder o grau de investimento é um desastre.

Efeito surpresa

Por que fiquei muito surpreso com Joaquim Levy? Eu jamais esperaria alguém tão ortodoxo. Ele é muito mais ortodoxo do que qualquer um que o PSDB pensasse em colocar. Mas a gente tem que estar preparado para o próximo passo, que tem que ser logo, que são as reformas. Porque senão tudo isso adianta pouco ou vai servir só para ganhar tempo.

Reformas, mais que ajustes

A primeira coisa a fazer é um ajuste fiscal. Agora, isso não resolve nosso problema, nem de longe. Melhora a alocação de capital, mas não é por conta disso que você vai crescer. O que o governo está fazendo agora não são reformas, mas cortar coisas grosseiramente erradas, como alguém ficar seis meses no emprego e ter seguro desemprego, não ter Cide - todo país do mundo tem Cide -, segurar tarifa pública... Todo mundo ficou muito impressionado com a rapidez e agilidade com que o Joaquim Levy fez isso. Mas, para crescer, o Brasil tem que resolver esse dilema de tamanho do governo e do mercado de trabalho. E é a parte mais dura de fazer. Por que eu sou cético? Porque isso não é o que o PT quer. Obviamente quando estivermos perto da próxima eleição, aí essas questões voltam à tona.

Chão da fábrica

A análise desses fatos vem sendo dada por consultorias ou bancos que olham do lado otimista. Não é alguém que está no chão da fábrica, com milhares de funcionários e lidando com esse problema de falta de reformas. Eu diria que a confiança do empresário que está na economia real é bem distante [daquele] da economia financeira. A vida está bem mais difícil e será bem mais difícil. Não que aqui a gente não sofra junto, sem IPOs, sem fusões e aquisições, mas obviamente não se compara com a situação da indústria e do comércio, que têm de competir com China, Coreia, México, e que vão ver essa fase do ajuste bem dolorosa nas suas vendas deste ano.

A sorte acabou

Estamos passando por essa fase ruim junto com uma queda expressiva de preço das commodities e com um risco de racionamento de água e de energia. Isso aí não é culpa de ninguém, simplesmente a nossa sorte acabou. Tem um lado do mercado hoje que diz: puxa, finalmente a matriz econômica é boa. E tem um lado da esperança, que é importante, de confiança dos estrangeiros, que gostam do que estão vendo. E você vai passar o ano inteiro numa espécie de batalha entre expectativa e realidade, entre ver o quanto você aguenta do ruim para esperar um futuro melhor.

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