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Meio Ambiente E Desenvolvemento Sustentavel

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Por:   •  28/10/2013  •  4.927 Palavras (20 Páginas)  •  256 Visualizações

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TRABALHO, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

IMPLICAÇÕES PARA UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CRÍTICA

Neise Deluiz*

Victor Novicki**

Abstract

This article focuses on the relations between work, environment, and education in the context of capitalist internationalization. It analyzes reflections about the impact of the neoliberal globalization process on the spheres of production, work, and the environmental crisis. It also discusses the theoretical and conceptual matrices that guide the different sustainable development projects being debated in contemporary society. The article assumes the perspective of “democratic sustainability” and seeks to point out guiding principles for a democratic proposal to educate critical and autonomous subjects.

Keywords: Work; Environment; Education; Sustainable Development; Economic Development.

INTRODUÇÃO

As questões ambientais e do trabalho vêm assumindo novas configurações com o aprofundamento do processo de globalização (Dowbor, L., Ianni, O.; Resende, P., 1997)1, com a reestruturação produtiva (Harvey, 1996)2 e a adoção das políticas econômicas de corte neoliberal (Fiori, 1997).3 Constata-se um duplo movimento: a dissolução das fronteiras políticas e econômicas ao desenvolvimento do capitalismo globalizado e desregulamentado (Hirst; Thompson, 1998)4 e a emergência de “novas” fronteiras ambientais que não podem ser desconsideradas em longo prazo por este modo de produção (Altvater, 1999).5

Esta situação lança desafios à questão democrática, particularmente no caso brasileiro, país profundamente marcado por uma cultura política autoritária e excludente, que impediu a sedimentação de uma experiência democrática e o exercício da cidadania de forma plena (‘).6 Como ocorrerá a participação da sociedade, a representação de interesses e, particularmente, a governabilidade do espaço ambiental, dadas as limitações impostas por processos econômicos sem fronteiras (Altvater, 1999)7 Como enfrentar a exclusão de amplos segmentos da população ocasionada por novas formas de organização da produção e do trabalho que os impedem de exercer plenamente seus direitos como trabalhadores e cidadãos? Que propostas de educação podem ser encaminhadas como contribuição para a formulação de um projeto de desenvolvimento ancorado na “sustentabilidade democrática”, no contexto atual do capitalismo internacionalizado?

A partir desta abordagem, o presente artigo tem como objetivo analisar as relações entre as temáticas ambiental e do trabalho na perspectiva da construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, com o propósito de indicar princípios norteadores para uma proposta democrática de formação de sujeitos críticos e autônomos.

O DEBATE SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE TRABALHO,

MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A degradação ambiental e a crise da sociedade do trabalho (Offe, 1989; Castel, 1998),8 e a conseqüente queda na qualidade de vida e aumento da exclusão/desigualdade social, estão a exigir no nosso entender uma discussão que aprofunde a articulação entre trabalho, meio ambiente e desenvolvimento econômico, pois se questiona até que ponto os recursos naturais e a humanidade suportarão o modelo hegemônico de produção, trabalho e consumo.

Em uma conjuntura perpassada por transformações econômicas, políticas, sociais, institucionais e culturais intensificam-se as crises socioambiental e do mundo do trabalho. Suas origens relacionam-se, por um lado, à desterritorialização da política, em que a soberania do Estado é colocada em xeque pelos padrões de internacionalização do processo decisório e de mundialização das atividades políticas,9 provocando a crise dos sistemas democráticos (Fiori, 1997)10 e, por outro, ao movimento crescente de desterritorialização de empresas e conglomerados industriais em direção àqueles países com oferta de condições operacionais favoráveis, ou seja, melhores preços da força de trabalho, economia de transportes e recursos de infra-estrutura, além de uma baixa preocupação em relação ao cumprimento das legislações trabalhista e ambiental. Esta mobilidade das empresas decorre das novas formas de organização da produção, que são muito mais flexíveis do que as baseadas no modelo fordista, pois permitem adaptações às flutuações das demandas de produtos e serviços e um aproveitamento melhor das vantagens comparativas em diferentes locais do mundo (Chesnais, 1996).11

Observa-se uma crescente integração dos mercados, mudanças nas estratégias de políticas econômicas (do keynesianismo ao neoliberalismo) e transição do padrão da organização industrial taylorista- fordista para o da acumulação flexível (Harvey, 1996).12 O aprofundamento do processo de globalização econômica traz novas demandas e exigências às empresas que utilizam, como estratégias de busca de competitividade, o emprego maciço de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção e do trabalho (Ianni, 1996).13

As novas tecnologias, basicamente a microeletrônica, as biotecnologias e os novos materiais têm, como característica comum, sua aplicação universal, tanto no desenvolvimento de produtos, quanto na organização da produção. O uso das biotecnologias e dos novos materiais redefine a relação da produção industrial e agrícola e dos seres humanos com a natureza (Hein Apud Sobral, 1997),14 com implicações para o meio ambiente no local de trabalho, comunidades/sociedade e em escala planetária. Com as novas formas de gestão do trabalho no padrão da acumulação flexível surgem novas tendências em relação ao trabalho: este se torna mais abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo e complexo. Não somente nos setores onde vigoram os novos conceitos de produção, mas em toda a estrutura produtiva são demandadas novas qualificações e competências profissionais para os trabalhadores, dentre as quais incluem-se as relacionadas à temática ambiental (Deluiz, 1996; 2001).15

Entretanto, se os processos de intensificação do uso de novas tecnologias e de novas formas de organização da produção flexíveis, enxutas e racionais trazem, por um lado, a possibilidade de um trabalho revalorizado, mais qualificado acarretam, por outro lado, o desemprego e a exclusão de trabalhadores (Antunes, 2000),16 pela racionalização de custos e a otimização

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