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NOTA DO AUTOR

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Por:   •  29/9/2014  •  Tese  •  1.734 Palavras (7 Páginas)  •  248 Visualizações

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NOTA DO AUTOR

Esta é menos uma nota e mais um lembrete do autor sobre o que apareceu impresso em letras pequenas algumas páginas atrás: Este livro é uma obra de ficção. Eu o inventei. Nem os textos nem os leitores se beneficiam de tentativas de descobrir se há fatos reais por trás de uma história fictícia. Tais esforços são um ataque direto à crença de que histórias inventadas podem ser relevantes, o que é mais ou menos a crença fundamental da nossa espécie. Agradeço a sua colaboração neste quesito.

CAPÍTULO UM

altando pouco para eu completar meu décimo sétimo ano de vida minha mãe resolveu que eu estava deprimida, provavelmente porque quase nunca saía de casa, passava horas na cama, lia o mesmo livro várias vezes, raramente comia e dedicava grande parte do meu abundante tempo livre pensando na morte.

Sempre que você lê um folheto, uma página da Internet ou sei lá o que mais sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que, na verdade, ela não é um efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo. (O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade.) Mas a mamãe achava que eu precisava de tratamento, então me levou ao meu médico comum, o Jim, que concordou que eu, de fato, estava nadando numa depressão paralisante e totalmente clínica e, portanto, ele ia trocar meus remédios e, além disso, eu teria que frequentar um Grupo de Apoio uma vez por semana.

O grupo era formado por um elenco rotativo de pessoas com várias questões psicológicas desencadeadas pelos tumores. A razão de o elenco ser rotativo? Efeito colateral de se estar morrendo.

O Grupo de Apoio era megadeprimente, óbvio. A reunião acontecia toda quarta-feira no porão de uma igreja episcopal — uma construção no formato de cruz com paredes de pedra. Nós nos sentávamos em uma roda bem no meio da cruz: onde os dois pedaços de madeira um dia se cruzaram, onde esteve o coração de Jesus.

Sabia disso porque o Patrick, Líder do Grupo de Apoio e o único naquele lugar com mais de dezoito anos, falava sobre o coração de Jesus todo raio de reunião, sobre como nós, jovens sobreviventes do câncer,

F

estávamos sentados bem no sagrado coração de Cristo, e tal.

Bem, era assim que acontecia no coração do Senhor: os seis ou sete ou dez de nós chegávamos lá a pé/de cadeira de rodas, comíamos um pouco daqueles biscoitos velhos com limonada, sentávamos na Roda da Esperança e ouvíamos o Patrick contar pela milésima vez a história ultradeprimente e superinfeliz da sua vida — sobre ter tido câncer nas bolas e acharem que ele ia morrer, mas não morreu, e ali estava, já adulto, no porão de uma igreja na 137ª cidade mais linda dos Estados Unidos, divorciado, viciado em videogames, quase sem amigos, levando uma vida sem graça explorando seu fantástico passado com câncer, ralando para terminar um mestrado que não vai melhorar sua perspectiva de progresso na carreira e esperando, como todos nós, que a espada de Dâmocles traga para ele o alívio do qual escapou muitos anos atrás, quando o câncer levou seus testículos e lhe deixou algo que só a alma mais generosa poderia chamar de vida.

E VOCÊS TAMBÉM PODEM TER ESSA SORTE!

Aí nós nos apresentávamos: Nome. Idade. Diagnóstico. E como estávamos no dia. Meu nome é Hazel, dizia na minha vez. Dezesseis. Tireoide, originalmente, mas com uma respeitável colônia satélite há muito tempo instalada nos pulmões. E está tudo bem comigo.

Depois do último da roda, o Patrick sempre perguntava se alguém queria se abrir. E aí começava a punheta grupal de apoio mútuo: todo mundo falando de lutar, combater, vencer, remitir e examinar. Para não ser injusta com o Patrick, ele nos deixava falar da morte. Mas a maioria ali não estava morrendo. A maioria viveria até a idade adulta. Como o Patrick.

(Isso significa que havia muita competição, com todo mundo querendo vencer não só o câncer, mas também as outras pessoas da roda. Tipo, eu sei que não faz o menor sentido, mas quando você ouve que tem, por exemplo, vinte por cento de chance de viver cinco anos, e faz as contas e conclui que isso é uma chance em cinco… você olha em volta e pensa, como qualquer pessoa saudável faria: eu preciso durar mais que quatro desses desgraçados.)

A única coisa que salvava no Grupo de Apoio era um menino

chamado Isaac, um magrelo de rosto comprido, com cabelos loiros e lisos que cobriam um de seus olhos.

E seu problema eram os olhos. Ele teve um tipo inacreditavelmente improvável de câncer ocular. Um olho foi extraído quando ele era pequeno, e agora o Isaac usava um par de óculos fundo de garrafa que fazia os olhos (tanto o de verdade quanto o de vidro) parecerem sobrenaturalmente grandes, como se a cabeça inteira fosse basicamente o globo ocular de mentira e o de verdade olhando para você. Pelo que pude entender das raras vezes que ele se abriu para o grupo, uma recorrência colocou o olho que resta em perigo mortal.

O Isaac e eu nos comunicávamos quase exclusivamente por meio de suspiros. Cada vez que alguém falava de dietas anticâncer, de cheirar cartilagem de tubarão em pó ou sei lá, ele me olhava e suspirava de leve. Eu balançava a cabeça em um movimento microscópico e dava um suspiro em resposta.

* * *

Então o Grupo de Apoio deu o que tinha de dar, e depois de algumas semanas eu passei a surtar quando tocavam no assunto. Na verdade, na quarta-feira em que conheci o Augustus Waters, tinha feito de tudo para me livrar da ida à sessão de grupo enquanto estava sentada no sofá com a mamãe, no meio da terceira parte da maratona de doze horas da temporada anterior de America’s Next Top Model, que, confesso, já tinha visto, mas mesmo assim…

Eu: ‚Eu me recuso a ir ao Grupo de Apoio.‛

Mamãe: ‚Um dos sintomas da depressão é a falta de interesse em participar de atividades.‛

Eu: ‚Por favor, mãe, deixe eu ficar vendo America’s Next Top Model. Isso é uma atividade.‛

Mamãe: ‚Televisão é passividade.‛

Eu: ‚Pô, mãe, por favor…‛

Mamãe: ‚Hazel, você já é adolescente. Não é mais criancinha. Precisa

fazer amigos, sair de casa, viver sua vida.‛

Eu:

...

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