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O Castelo Branco

Por:   •  26/7/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.771 Palavras (8 Páginas)  •  142 Visualizações

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         O texto aqui proposto se refere ao livro O Castelo Branco, de Orhan Pamuk e a relação com educação que se pode fazer realizando sua leitura. Desde o seu início, o livro demonstra uma relação de paixão e amor pelo conhecimento, quando um bibliotecário acha um livro misterioso e se empolga em achar o seu autor,  que não está identificado no livro. A partir daí se tem a introdução da narrativa do livro, no qual os personagens são apresentados e começo a busca por criar relações com as temáticas educacionais relacionadas e discutidas em sala na disciplina de Didática. Para isso me debrucei sobre alguns aspectos dos personagens principais que me fizeram refletir em relação a concepção de conhecimento, ciência, sabedoria, assim como sobre a disputa entre misticismo e ciência e a retórica como uma importante aliada de quem tem a intencionalidade de transmitir ao outro o que acredita ser importante de ser conhecido, ou até mesmo se existe a intenção de convencimento de seus pares.  

        A história do livro se passa no século XVII e se inicia quando um navio que parte de Veneza a Nápoles é rendido por soldados turcos e sua tripulação é rendida. Conhecemos então um dos principais personagens, que é alguém que estudou ciência e arte em Florença e Veneza, o que faz com que ele se aproprie de sua formação para não ser morto ou mandado para os remos do navio pelos turcos. O personagem, que chamarei nesse texto de italiano, consegue escapar da morte e dos remos alegando ser médico, ou seja, alguém que tem uma funcionalidade muito prática dentro de um navio com muitos feridos. O personagem não é realmente um médico, mas sim possui alguns conhecimentos sobre anatomia e remédios de acordo com os seus estudos e leituras de livros sobre o assunto. Dessa forma o italiano consegue se manter a salvo e ganha um certo prestígio, mesmo após desembarcar na Turquia e ser preso, assim como alguns dos outros que estavam no navio no momento da abordagem turca. O italiano se sobressai por causa de seus conhecimentos, chegando a ser chamado a prestar serviços a chefes de estado do alto escalão da Turquia

        O italiano tem um nível de conhecimentos científicos mais elevado do que boa parte das pessoas a sua volta, e por isso se livra de morrer e de sofrer severos castigos, esse fato pode remeter a ideia de que quem obtém um determinado conhecimento (podemos chamar de conhecimento científico/acadêmico) se sobressai a outras pessoas e de certa forma tem uma vantagem em relação a elas. No caso do personagem não é somente os seus conhecimentos em assuntos técnicos e científicos que faz com que ele consiga algumas vantagens, mas são seus conhecimentos aliados a uma boa capacidade de argumentação e convencimento. O italiano é vendido como escravo a Hoja, um homem estudioso que tem interesses científicos e ambição de ser reconhecido por todos por sua capacidade intelectual. Hoja quando sabendo das habilidades do italiano espera este o ensine tudo o que aprendeu em seu país europeu. É um tanto incomum e inusitado que o escravizado seja de valia para seu dono pela sua intelectualidade, e não pela sua mão de obra manual, não pelo seu corpo físico, e sim pela sua mente e espírito. Poderia o ser humano ser prisioneiro da sua habilidade de produzir conhecimento? Uma relação de dependência se estabelece entre esses dois personagens, um que tinha a intenção de ser o sábio (Hoja) e o outro que era o detentor de uma sabedoria (o italiano), mestre e escravizado se mesclam em uma relação entre mestre e aprendiz. Essa relação se inicia com uma admiração e ânsia em saber do turco e uma certa prepotência e satisfação do sábio em ser o agente principal dessa relação, que apesar de estar sendo prisioneiro, tem a admiração de seu senhor.Em um dado momento a relação entre eles não é mais a de admiração de Hoja, e passa a ser agressiva, desconfortável, na qual o aprendiz acredita não precisar mais de seu tutor, já que acredita já ter extraído tudo o que era possível e o considera agora ultrapassado e inútil.

Parece ser possível uma análise sobre a relação professor – aluno, uma relação de poder que nos anos iniciais costuma se apresentar como admiração pelos alunos com seus professores, mas em algum momento, quando se passa para uma idade escolar mais avançada, o estudante passa a questionar a credibilidade a utilidade de seu professor, claro que sem generalizar as relações, considerando que todas elas sejam assim, mas de acordo com o contexto educacional que temos conhecimento pode-se apontar essa relação de desvantagem e descrédito que professores enfrentam em muitas situações. Esse abalo na relação pode ser um reflexo da descrença da sociedade na própria escola e não necessariamente em relação ao professor, a descrença no professor é o que se apresenta mais visível, já que o professor é a caracterização da própria educação, porém o questionamento verdadeiro é sobre a credibilidade e a utilidade das instituições educacionais.

A sociedade na qual os personagens se encontram é religiosa, isso faz com que as ideias sobre tecnologia e ciência sejam consideradas por algumas pessoas como algo misterioso e um pouco místico, como algum tipo de bruxaria. O autor do livro, Orhan Pamuk, parece se aproveitar desse aspecto da época, demonstrando o quanto os personagens principais aos olhos de algumas pessoas pareciam desconexos com a realidade, enfurnados em casa lendo livros, observando o céu ou planejando a criação uma arma surpreendentemente poderosa. Isso os faz parecer ao mesmo tempo loucos e gênios, mentirosos e astutos, o que parece reforçar a ideia de que se alguém é sábio, conseguiria tudo que deseja por causa dessas habilidades. Hoja acreditava que somente a ciência poderia livrar a Turquia de um possível ataque dos inimigos e de seu declínio, assim como acreditava que somente o conhecimento de todas as coisas poderia salvar as pessoas de sua idiotice intrínseca e natural, que quem busca o conhecimento das coisas está em um estado elevado do ser e merece ser reconhecido pelo seu feito. Então ele espera pacientemente que o Sultão da Turquia o financie em suas pesquisas em prol da ciência, mesmo que isso demore anos. Hoja acredita que só esse caminho pode ser seguido, porém não se atenta que ele mesmo pouco sabe sobre as coisas que diz saber e em consciência pretende enganar o Sultão com coisas místicas, interpretando sonhos e os astros de forma a compreender a realidade ou inventando histórias sobre coisas inexistentes. Mesmo sabendo de suas próprias mentiras, Hoja seguiu seu plano de persuadir o Sultão para ter êxito em seus pedidos de financiamento para suas pesquisas científicas. Com isso questiono se todo o esforço dele pelo avanço da ciência que acreditava produzir poderia ser admirado, ou deve ser repreendido pelas mentiras e enganações realizadas. Seu objetivo final era elevar a Turquia a uma potência através da ciência e tecnologia. Toda forma de chegar a esse objetivo seria então aceitável? 

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