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O Mergulho

Por:   •  19/9/2016  •  Ensaio  •  626 Palavras (3 Páginas)  •  230 Visualizações

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Não fui uma pessoa ruim, e por este motivo sempre me imaginei no paraíso. Filho único, mimado, sempre dentro de casa com a cabeça enfiada nos livros.

Ao contrário de meus pais não segui nenhuma religião e assim que alcancei idade o suficiente abandonei a igreja que eles me obrigavam a frequentar semanalmente, isso não quer dizer que eu não acreditava em nada, tinha minhas próprias convicções, meu próprio céu e meu próprio inferno.

Sempre levei uma vida saudavel, sem nenhum vício, nunca ao menos cheguei a exprementar um cigarro, minha primeira cerveja foi quando completei 18 anos, tudo isso por medo do que aconteceria caso meus pais descobrissem.

Nem sequer me casei, nenhuma de minhas companheiras eram boas o suficiente para minha mãe, já para o meu pai pouco importava, o que ele queria mesmo era que eu garantisse sua aposentadoria.

Não cheguei a sair de casa, quem saiu de casa foram meus pais, minha mãe com 40 anos acabou sofrendo um derrame cerebral de tanto gritar comigo e meu pai. Se me sinto culpado? Não. Meu pai só se foi 12 anos depois.

Mesmo levando uma boa vida o cancêr de pulmão me encontrou por meio de toda a mistura de gases tóxicos no ar, um pequeno risco que se corre ao viver em grandes centros urbanos.

Passei por todo o processo sozinho desde o diagnóstico até o último dia no hospital.

Hoje após 8 meses de tratamento, exatamente 3 semanas após meu quinquagésimo quarto aniversário me despeço do meu leito.

Sempre imaginei minha morte fria e calma, que meus pulmões simplesmente parariam de funcionar comigo dormirndo e eu nunca mais acordaria, mas ao contrário disso a morte veio quente e desespera junto com todo o sangue que ao mesmo tempo em que eu tossia eu me afogava, até que por fim a sensação que percorria pelo meu corpo não era mais a do meu leito quente e febril, a morphina que por tanto me guardou já não existia mais e a dor que durante tantos meses me perseguiu de tão perto parecia enfim ter me alcançado.

Senti que comecei a afundar, e descer em um longo mergulho, quanto mais fundo eu mergulhava, mais próximo  de min eu ficava, eu pesava como o mundo, que por sua vez me esmagava cada vez mais e cada vez mais as sensações de frio e de medo me acompanhavam pelo silencio da escuridão que eu me encontrava. A descida era tênue e suave mas por mais de uma vez além do medo eu me encontrava com o desespero, que aos poucos ia  tomando conta de mim e que transformava meu mergulho de algo suave para algo turbulento, mas de nada adiantava o desespero então do mesmo modo que ele chegava ele ia embora e eu continuava afundando .

Já havia perdido noção do tempo em que eu estava ali, podia fazer apenas alguns segundos, ou então dias quem sabe até meses, tempo concerteza era algo que não mais existia. Até que eu comecei a esquecer onde eu estava, e esquecer de onde eu vim, quanto mais fundo eu ia mais eu esquecia e então não havia mais lembranças não havia mais conciência.

Quando voltei a recobrar meus sentidos senti algo pegajoso ao meu redor de total repugnância, me encontrava ao meio de uma sujeira, em volta só existia os dejetos do mundo.

Afundei até não existir mais nada, nem em min nem ao meu redor eu não era mais atormentado por dor nenhuma tampouco por angustia ou ansiedade mas tambem ja não sentia mais alegria, satisfação ou prazer.  Nem mais a escuridão e o frio que por tanto me acompanharam. Não havia mais nada, nem em mim nem ao meu redor, a única sensação que ainda residia era a do mergulho.

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