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O Que é Etnocentrismo

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Por:   •  12/9/2014  •  4.155 Palavras (17 Páginas)  •  174 Visualizações

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O que é etnocentrismo

A VOLTA POR CIMA

Em 1908 muitos dos nomes citados ao longo dos capítulos anteriores estavam produzindo sua Antropologia. Claude Lévi-Strauss estava nascendo. Com ele iriam nascer, também, algumas das mais importantes obras da literatura antropológica.

Cerca de cinqüenta anos depois, ao dar a aula inaugural da cátedra de Antropologia Social no College de France, faria uma homenagem a todos os grandes mestres, fundadores e pioneiros da disciplina. Encerrou, porém, sua palestra falando do "outro". No caso, Lévi-Strauss homenageia os "índios dos trópicos e seus semelhantes pelo mundo afora", que são, para ele, merecedores de muita ternura. Diz-se, ainda, devedor do que aprendeu com eles, e suas últimas palavras, nesta aula, são para lembrar que destes "outros" gostaria de ser, entre nós, "discípulo e testemunha".

Tudo isso indica muito daquilo que venho procurando demonstrar deste longo caminho que a Antropologia percorreu no sentido da relativização. Em todos os passos dados por esta "ciência da diferença" você, leitor, pode ter observado a existência constante de uma tentativa, quase um compromisso. Trata-se de escapar ao etnocentrismo, a uma percepção do "outro" que fosse centrada no próprio "eu". Trata­ se, acredito, ao longo de todas as diversas formas de se pensar antropologicamente, de uma busca de compreensão do sentido positivo da diferença. Acho que a Antropologia sempre soube, mesmo em seus momentos mais distantes, que conhecer a diferença, não como ameaça a ser destruída, mas como alternativa a ser preservada, seria uma grande contribuição ao patrimônio de esperanças da humanidade.

Foi este o lado da Antropologia que tentei buscar na medida em que o vejo como o principal motor, a força fundamental, que cedo se instaurou como capaz de contrabalançar o etnocentrismo.

O etnocentrismo está calcado em sentimentos fortes como o reforço da identidade do "eu". Possui, no caso particular da nossa sociedade ocidental, aliados poderosos. Para uma sociedade que tem poder de vida e morte sobre muitas outras, o etnocentrismo se conjuga com a lógica do progresso, com a ideologia da conquista, com o desejo da riqueza, com a crença num estilo de vida que exclui a diferença.

Mas, a "diferença" é generosa. Ela é o contraste e a possibilidade de escolha. É alternativa, chance, abertura e projeto no conjunto que a humanidade possui de escolhas de existência. Creio que foi isto que o jogo da Antropologia, de alguma forma, sempre soube. A própria opção de ser o estudo do "outro", estando ele na porta da rua, numa ilha do Pacífico ou nas savanas do Brasil central, já atesta, de toda evidência, esta "vocação" da Antropologia de preservar a experiência da diversidade.

Assim, ao falar sobre o tema do etnocentrismo procurei fazê-lo exatamente por dentro de uma ciência, de um campo de conhecimento, de uma disciplina que foi obrigada a sentir mais de perto, à flor da pele, essa questão do etnocentrismo.

Nesta série de pequenas viagens pelo interior da Antropologia, acompanhamos como um dos seus conceitos centrais - o de cultura - foi se relativizando. E o foi precisamente porque mais e mais a Antropologia alçava seu vôo autônomo, independente, mais e mais repassava esta autonomia para a compreensão do "outro".

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Everardo P. G uima rães Hoclrn - O que é eü:wcentrismo?

Se não vejamos: de todo este retrospecto de algumas das principais vertentes da Antropologia Social vimos sempre o conceito de cultura como que articulado, conjugado, preso a uma determinada visão da história humana. Isto, me parece, colocou sempre problemas para uma compreensão relativizadora da sociedade do "outro".

O paradoxo da Antropologia está no fato de ser um tipo de ciência, de reflexão, nascida e criada na sociedade do "eu" com vistas ao estudo das formas diversas com que os seres humanos assumiram sua existência na terra. Este paradoxo levou, muitas vezes, a Antropologia a ter como parâmetro, modelo, norma constante, para pensar o mundo do "outro", os costumes, comportamentos e idéias do mundo do "eu". A Antropologia havia de pensar com instrumentos do mundo do "eu" porque este é o mundo onde se criou.

Com o "trabalho de campo" o mundo do "outro" começa a ter presença, na vida concreta dos antropólogos, como uma experiência da diversidade. Esta experiência começa a invadir a própria teoria antropológica que passa assim a se influenciar pelo mundo do "outro".

Por exemplo, durante muito tempo os primitivos, os índios, ou melhor, as sociedades tribais, como menos etnocentricamente convém chamá-las, foram vistas como tendo uma economia de subsistência. Isto, na verdade, seria o óbvio, pois o objetivo de qualquer sistema de produção é fazer subsistir os indivíduos que dele fazem parte. Mas, o que estava por trás desta idéia era a imagem da sociedade tribal como que lutando frente ao meio ecológico, utilizando seus parcos recursos técnicos para não morrer miseravelmente de fome.

Esta imagem de uma sociedade esmagada por uma incapacidade de maior produção é que se encontra por trás da noção de economia de subsistência. Economia de subsistência se traduz, neste sentido, em economia de sobrevivência ou, mais diretamente, de miséria.

Mas, será esta uma verdade integral e indiscutível? Parece que não! Observando, comparando, estudando a vida destas sociedades, um professor americano, antropólogo Marshall Sahlins, comprova que, nelas, muito pouco tempo é dedicado a atividades econômicas. Três ou quatro horas por dia, com muitas interrupções e com apenas parte da população se empregando na tarefa, parecem ser suficientes para satisfazer materialmente as necessidades do grupo.

Ora, uma máquina produtiva que, dedicando-se tão pouco a esta tarefa, se desincumbe dela de forma tal que não falta nada para ninguém, está muito longe da imagem de uma economia de subsistência, sobrevivência ou miséria. Muito pelo contrário, esta economia permite a existência de uma sociedade de abundância.

Aqui podemos ter o exemplo do significado do respeito aos dados etnográficos, dados obtidos pelo trabalho de campo, que podem transformar a teoria antropológica. Para uma sociedade - a nossa - que

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