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Os Modos De Gestão: Da Heterogestão à Autogestão

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Por:   •  26/4/2014  •  2.861 Palavras (12 Páginas)  •  7.241 Visualizações

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1.1.1 Os modos de gestão: da heterogestão à autogestão

Tradicionalmente, o conceito de gestão está relacionado ao ato de gerenciar ou administrar instituições públicas e privadas. Esta visão se liga diretamente às perspectivas funcionalistas da sociedade, que caracterizam a gestão apenas como instrumentos técnicos o planejamento, a administração financeira, a administração pessoal, o marketing e a elaboração de projetos, dentre outros que se encontram nos “clássicos” livros de administração. Isso pode ser observado nas concepções de Follet (1973), que acreditava no gerenciamento como uma função, e não uma ferramenta. A autora afirmava que a empresa era um serviço à sociedade, na qual representava papel dominante, cabendo aos indivíduos cooperar com ela. Estas mesmas perspectivas da gestão estão presentes nos “pais” da administração, Taylor, Fayol e Ford. Basta recorrer aos fundamentos científicos de Taylor (1980) para compreender que a gestão é uma função que deve se estruturar na busca pela eficiência. Com isso, recorre-se a técnicas e a ferramentas para alcançar este objetivo, de modo que “deve-se” estruturar a gestão da seguinte maneira: planejar, organizar, dirigir e controlar (FAYOL, 1981).

Em contraposição a essa perspectiva hegemônica nos estudos organizacionais, autores como Tenório, Paes de Paula e Fischer não se limitam a analisar a gestão apenas como uma função em busca da eficiência. Tenório (1998) relata que a gestão pode ser vista como um processo participativo, na qual as decisões incluem diferentes sujeitos sociais. Nesta mesma consonância, Paes de Paula (2005b, p.10) define a gestão “entendida como uma ação política deliberativa, na qual o indivíduo participa decidindo o seu destino como pessoa”. E Fischer (2002, p.27) a descreve como “um ato relacional que se estabelece entre pessoas, em espaços e tempo relativamente delimitados, objetivando realizações e expressando, interesses de indivíduos, grupos e coletividade”.

Não restringindo a gestão apenas aos contextos organizacionais empresariais, Guillerm e Bourdet (1976) ressaltam que esta deve ser ampliada, com o intuito de estudar e repensar modos de gerir toda a sociedade. Para isso, os autores criaram uma proposta de categorização da gestão que abrange a heterogestão, a participação, a cogestão e a autogestão. Estas categorias serão analisadas na sequência.

1.1.2 Heterogestão

Motta (1981), ao caracterizar a heterogestão, relata que este modelo se torna mais presente exatamente no momento em que a organização manufatureira do trabalho traz consigo o surgimento das técnicas de organização. No começo da manufatura, ainda que fosse predominantemente manual, o trabalho sofreu uma divisão, por meio da qual os trabalhadores se individualizaram em funções especificas para alcançar um máximo de eficiência e de continuidade. Criaram-se, então, corpos de mestres e supervisores para garantir a continuidade, e apareceu uma hierarquia mais clara na própria força do trabalho.

Contudo, com o advento do maquinário, o trabalhador perde o controle de suas operações específicas, pois agora as funções básicas são realizadas à qual ele tem pela máquina, de subordinar-se, técnica e organizacionalmente. A introdução da mecanização equivale, paralelamente, à maior subordinação do operário à autoridade fabril, equivalendo à maior concentração de decisões nas mãos da direção, ao maior divórcio entre o trabalho intelectual e o trabalho manual. Aqui, surge um dos primeiros pontos que caracteriza a heterogestão: a divisão entre as atividades intelectuais e atividades manuais. Motta (1981, p.18) descreve:

A dualidade entre o que gere e o que é gerido; entre o que planeja, organiza, comanda e controla, e o que executa, sendo, portanto planejado, organizado, comandado e controlado, é a essência da heterogestão, que separa dois aspectos indissoluvelmente ligados do trabalho humano: concepção e execução.

Ao mesmo momento em que impõe uma regulação social, dividindo o trabalho intelectual e o manual, a máquina cria novos personagens adequados à natureza do processo produtivo. Com isso, a submissão do trabalhador à máquina significa também um proliferação de novas funções administrativas. Essas funções são as de maquinaria de processo (ou diretivas), sendo mais dilatadas do que as funções mecânicas. Cumpre, então, aos engenheiros, eletricistas, técnicos de mineração e outras ocupações afins realizar esta atividade e fiscalizar a execução das atividades mecânicas. Isso, entretanto, desemboca em um outro problema:

Este saber especializado ganha seu primado, mas inclui o saber administrativo como condição de detenção de poder decisório. O conhecimento propriamente técnico da lugar a um conhecimento mais político, na medida em que se aproxima dos cargos de direção. Vigiar e punir, ou recompensar, constituem aspectos essenciais desse saber, que torna mais sutil a dominação, quanto mais afastada da sua base (MOTTA, 1981, p.16).

Este é o segundo ponto que caracteriza a heterogestão: a concentração de poder nos que detêm o saber técnico. Assim, este modo de gestão implica concentrar o saber na administração e concentrar a ignorância na produção. Por fim, o terceiro ponto que se pode levantar da heterogestão consiste na criação de um imaginário sobre a unidimensionalidade da realidade social. Este imaginário permite a crença de que a separação entre dirigente e dirigido deve ser vista como algo natural, na medida em que exprime diferenças de competência, saber ou habilidade. Pregam-se a necessidade dessa divisão de tarefas e a concentração das tomadas de decisões apenas na diretoria, pois é dado que é impossível que todos decidam sobre tudo.

Da mesma forma que a heterogestão naturalizou a função diretiva do capital sobre o trabalho, ela agora naturaliza a função diretiva do saber sobre o não, saber, bem como coloca em princípios acessíveis os benefícios do saber pelo aprendizado, pela submissão, pela aceitação do universo, simbólico da organização, com seus mitos geralmente ligados a mobilidade social (MOTTA, 1981, p.18).

Assim, a criação deste imaginário leva os trabalhadores a crer que o fato de receberem salários bem inferiores ao de seus chefes e de não poderem decidir sobre o processo produtivo é normal, por causa de seu limitado conhecimento técnico. O autor ainda relata que esse unidimensionamento não é algo apenas funcional, mas serve ao sistema capitalista como garantia de sua própria reprodução ampliada. Com isso, a heterogestão

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