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Por:   •  9/10/2014  •  3.119 Palavras (13 Páginas)  •  298 Visualizações

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A história nos contempla com a contribuição de dois grandes pensadores: o sociólogo Max Weber e a filósofa Hannah Arendt. Dentre tantas contribuições que sua construção teórica apresenta, destacamos o entendimento sobre Política.POBREZA POLÍTICA (POBREZA HUMANA)

Pedro Demo

Pobreza política não é outra pobreza, mas o mesmo fenômeno considerado em sua

complexidade não linear. A realidade social não se restringe à sua face empírica

mensurável, mas inclui outras dimensões metodologicamente mais difíceis de reconstruir,

mas, nem por isso, menos relevantes para a vida das sociedades e pessoas. Estamos

habituados a ver pobreza como carência material, no plano do ter: é pobre quem não tem

renda, emprego, habitação, alimentos, etc. Esta dimensão é crucial e não poderia, em

momento algum, ser secundarizada. Mas a dinâmica da pobreza não se restringe à esfera

material do ter. Avança na esfera do ser e, possivelmente, alcança aí intensidades ainda

mais comprometedoras. Mais drástico do que não ter mínimos materiais para sobreviver é

não ser nada na vida. O PNUD, desde o RDH de 1997, maneja o conceito de pobreza

humana, para indicar – por mais incipiente que a discussão ainda seja – que, ao lado da

pobreza material, existem outras dimensões importantes, sinalizadas na noção de pobreza

humana. O aspecto mais desenvolvido até ao momento é o da democracia e regimes

democráticos, mas espera-se que este conceito possa desdobrar-se em análises mais

pertinentes da complexidade não linear da pobreza e tornar-se referência ainda mais

explicativa desta realidade tão desafiadora hoje.

Sugere-se que pobreza tem seu fulcro mais renitente na dinâmica política que a

envolve, por mais que, à primeira vista, pareça reduzir-se a carências materiais já bem

conhecidas nos estudos recorrentes. Cada vez mais se aceita que pobreza tem, por trás, o

problema da desigualdade social, o que implica reconhecer que se trata substancialmente

de dinâmica política. Ser desigual quer dizer várias coisas, mas o centro mais duro da

questão estaria no confronto entre minorias que comandam a cena e maiorias que

sustentam os privilégios dessas minorias. Este jargão é, em poucas palavras, o resumo mais

consistente da história humana conhecida. Em sociedade não disputamos apenas bens

materiais escassos. Disputamos talvez ainda mais poder, prestígio, vantagens, liderança,

oportunidades, não só porque somos, biologicamente falando, “score keepers”, mas

sobretudo porque historicamente falando nos organizamos em espaços dialéticos de poder.

É por isso que muitos abandonam a pretensão de igualdade social, a não ser como utopia

crítica negativa, preferindo a noção de igualitarismo. Aquela é exageradamente linear, como

se fosse possível alinhar a todos em padrões reversíveis, enquanto este é mais realista, à

medida que aceita a unidade de contrários: as pessoas querem ser, simultaneamente, iguais

e diferentes. Carência material, em si, não implica necessariamente desigualdade, se for a

mesma para todos. Quando há seca, temos carência de chuva, mas não necessariamente

desigualdade, a menos que surja a “indústria da seca”, ou seja, a transformação política de uma carência material em fonte de privilégios para minorias. Para resolver este problema,

sequer bastaria “fazer chover”, porque, mesmo havendo água para todos, alguns saberiam

tornar seu acesso um privilégio social. Teríamos que mudar também e, possivelmente,

sobretudo, as relações de acesso a poder. Assim, não existe propriamente desigualdade

econômica, porque bens materiais não são agentes históricos – desigualdade somente

aflora entre agentes históricos que disputam poder e outras dimensões correlatas, como

prestígio, oportunidade, vantagens, liderança.

Em educação, Paulo Freire cunhou o termo “politicidade”, para designar que aí se

trava confronto substancialmente político entre incluídos e excluídos, não se restringindo a

disputa a coisas materiais, mas implicando principalmente a habilidade de conduzir com

autonomia seu próprio destino. Enquanto o oprimido esperar sua libertação do opressor, não

será o construtor e gestor de sua própria vida, já que oprimido não é apenas quem não tem

bens materiais, é principalmente quem não é capaz de se governar. O oprimido não pode,

assim, ser apenas objeto de distribuição de bens na condição de simples beneficiário,

porque isto não desfaz o nó mais duro desta dinâmica: ser massa de manobra. Por isso,

toda estratégia de combate à pobreza supõe que o pobre se torne sujeito crucial da

alternativa. Enquanto for apenas objeto, está à mercê de forças políticas que não domina e,

muitas vezes, sequer tem idéia delas. O conceito de “desenvolvimento como oportunidade”

já acena para esta dimensão e, não por acaso, o indicador primeiro é educação. A guinada

mais efetiva desta

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