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Síntese Sigam-me os bons: apuros e aflições nos enfrentamentos ao regime da heteronormatividade no espaço escolar

Por:   •  22/4/2019  •  Resenha  •  1.684 Palavras (7 Páginas)  •  178 Visualizações

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Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência

Disciplina: Relações de Gênero, Diversidade Sexual e Educação Matemática

Docentes: Prof. Dr. Harryson J. Lessa Gonçalves e Profª Dra. Ana Lúcia Braz Dias

Discente: Meire Cristina Martins Camili

SEFFNER, Fernando. Sigam-me os bons: apuros e aflições nos enfrentamentos ao regime da heteronormatividade no espaço escolar. Educ. Pesqui. São Paulo v.39, n.1, p.145-159, jan/mar.2013.

        O trabalho descreve uma pesquisa etnográfica de cenas escolares em três escolas públicas de Porto Alegre, autoclassificadas como de “combate a homofobia”, “respeito pela diversidade” e “inclusão para todos”, abordando os desafios enfrentados quando se busca modificar os regimes de desigualdade na escola relacionados a atributos de gênero e sexualidade.

        O texto está estruturado em três unidades e seu título e subtítulos são expressões do personagem de televisão Chapolin Colorado com o objetivo de mostrar os equívocos em torno das ações de combate à desigualdade e a homofobia no ambiente escolar.

        Na primeira unidade, intitulada E os olhos como são? São azuis, um pouco esverdeados, talvez um pouco cinzentos, mas em compensação são bem negros, aborda parte da discussão conceitual e política que envolve diferença, diversidade, inclusão, igualdade, desigualdade e visibilidade associados com as categorias do campo específico: gênero, sexualidade e masculinidades no espaço escolar.

        A educação, notadamente gerida por demandas políticas, sofre grandes impactos, pois as questões de gênero e sexualidade, em especial as que envolvem a homossexualidade masculina, são significativamente politizadas, ocasionando debates que se opõem a grupos organizados, lideranças políticas e religiosas e políticas públicas de educação.

        O acesso universal as escolas por garantia de direitos e inclusão social colaborou para a visibilidade de novos públicos, porém com a diversidade, surgiram novos conflitos, a escola torna-se um espaço público de negociação das diferenças.

A inclusão, a diversidade e muitos outros conceitos, assumem bandeiras políticas e quando associados às questões de gênero e sexualidade tornam-se muito mais complexas, pois estas questões estão intimamente ligadas, tanto na escola como na sociedade, com os valores morais e religiosos, o que explica manifestações, qualificadas pelo autor como pânico moral.

        O conceito de identidade é culturalmente construído nas relações de poder que posicionam determinados grupos como diferentes, no qual essa diferença é tomada como referencial de hierarquização, de normatização, relegando alguns grupos à categoria de uma humanidade inferior. A forma como esse conceito é utilizado nas falas e documentos favorece uma apropriação com tributos mais essencialistas, seja por ele se vincular a uma identidade biológica, identidade psicológica ou seja porque existe um essencialismo cultural.

        Identidade e diferença se articulam com o regime da heteronormatividade, entendida como norma que articula as noções de gênero e sexualidade, de forma binária, estabelecendo como natural certa coerência entre sexo, gênero e orientação sexual. O que difere dessas orientações entendida como “normal” são marginalizadas e qualificadas como doentes, desviantes, transtornados, etc.

        A estruturação das políticas públicas de inclusão no âmbito educacional é realizada em três movimentos: nomear, reconhecer e incluir.

        Na segunda unidade, intitulada Todos os meus movimentos são friamente calculados, explicita-se o método de etnografia de cenas escolares, situando o contexto das escolas e dos grupos de alunos.  

        A observação, a descrição e a reflexão de cenas escolares impacta positivamente na construção da experiência docente. A experiência vem da reflexão sobre esses acontecimentos nas cenas no ambiente escolar estabelecendo uma compreensão sobre sua prática docente. Os dados das pesquisas surgem das cenas que devem ser anotadas, discutidas e analisadas interligadas com o estudo acadêmico. No entanto, observar e efetuar o registro adequado para posterior análise exige alguns procedimentos, como: desenvolvimento de estranhamento para com os acontecimentos escolares, foco na observação, manutenção de uma rotina de observação e anotação, descrições do contexto e dos autores envolvidos na cena do início até sua finalização. Professor pesquisador é o professor observador das cenas escolares, buscando agregar valores ao saber docente, que segundo Tardif (2003), são os conhecimentos práticos que surgem do dia a dia da docência e que em geral não são sistematizados e nem valorizados.

        Em geral, nota-se que os professores que atuam no ensino fundamental e médio não levam os acontecimentos que lhe ocorrem à reflexão e sim à reclamação. Um olhar crítico e reflexivo para a realidade educacional torna-se essencial para o crescimento profissional e pessoal e em consequência uma carreira docente de qualidade.

        As cenas trabalhadas no texto foram coletadas em três escolas públicas que atendem clientela de classe média baixa em Porto Alegre. Nas três escolas, apesar de sofrer algumas interrupções ao longo dos anos, nos últimos cinco anos sempre ocorreram ações ou campanhas ligadas aos temas de combate à homofobia, valorização da diversidade de gênero e sexual e de respeito aos direitos humanos, todas elas vinculadas às diretrizes do Programa Brasil Sem Homofobia. Tais interrupções ocorreram devido à diversos fatores, como transferência de professores, desinteresse de docentes, parcerias eventuais com organizações não governamentais como LGBT, falta de verbas e materiais instrucionais.

        A terceira unidade, com o subtítulo Não contavam com minha astúcia! narra algumas cenas, articulando seu conteúdo com questões de ordem teórica e com diretrizes de políticas públicas vigentes na área.

        A primeira cena descreve uma turma de 8º ano que trocam provocações, brincadeiras e uso de palavrões referindo-se a um jogo de futebol disputado no dia anterior e a questões de sexo. Em suas “brincadeiras” mencionam um aluno nitidamente mais delicado e reservado de forma pejorativa e as noções de maioria e minoria são entendidas na ótica de uma geopolítica de ataque e defesa. Percebe-se que há um distanciamento entre o se diz, o que se faz e o que se valoriza no interior da escola, prevalecendo situações da “vida lá fora”.  Corroborando com esse pensamento, cita- se Ceccon(1991), inspirado em Paulo Freire:  uma parte importante do que é aprendido na escola é vista como sem valor no mundo “lá fora”, assim como uma parte enorme de conhecimentos e questões do “mundo lá fora” não entra e não é problematizada na escola.

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