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A música contemporânea artística de 2000

Por:   •  18/5/2015  •  Ensaio  •  13.392 Palavras (54 Páginas)  •  163 Visualizações

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I

Capítulo 01

 Macho não chora, moleque.

1

        A aventura é o ápice da liberdade humana; um resquício vivo das eras perdidas de muito tempo atrás. Leve um sapato – ou uma chinela arrebentada com um prego segurando a tira –, algumas camisetas no saco de arroz furado da semana passada, uns shorts e algumas calças para os bosques que com certeza você irá passar. Junte tudo, coloque a bolsa em suas costas de uma forma que não o machuque muito depois de vários dias a caminhar, escreva um bilhetinho para quem quer que seja que fique preocupado com você e fuja.

        No meio da noite.

2

        Os sapatos do senhor, seu pai, sempre, sempre, fazia aquele mesmo barulho. Ele andava como um touro, talvez para continuamente provar a sua masculinidade para os filhotes de sua casa no caso de alguém torcer o braço querendo ser o macho da casa. Era um baque, toda vez que seus pés pousavam não tão calmamente no chão de barro seco. TUUUM... TUUUM... TUUUM: Assim seguia. Explosões, Frankie pensaria, se soubesse o que era uma explosão naquela época. Mas não sabia, então relacionava o som com os de trovões numa tempestade grande, pois o assustava do mesmo jeito. Mas o som não era o grande problema para Frankie, ah, não... o grande problema é que ele – o som – chegava cada vez mais perto de onde o menino arrumava seus panos de dormir no seu colchãozinho de folha palhas.

        TUUM-TUUM-TUUM, agora ainda mais perto. Seu pai devia estar à alguns poucos passos de onde ele dormia, seu corpo estremeceu com aquele frio na espinha que agora ele só associava à levar uma surra do cacete, era a palavra que seu pai colocava no final: cacete. Ele não sabia o que era, mas repetia a palavra quando deitava, quando seus olhos soltavam água. Uma surra do cacete, não é, chorão? E não ouse, não OUSE chorar agora. Vá preparar sua cama (do cacete) e durma, antes que eu resolva te dar outra surra do ca-ce-te. Ele repetia, baixinho.

        O estrondo dos pés do homem pararam de repente. Ele se viu com uma leve ponta de esperança de não levar aquela surra (do cacete) agora. Seus olhos se abriram e brilharam juntos pela primeira vez em algum tempo; a ponta de esperança o alegrou ainda que minimamente, mas o baque voltara a acometer seus pequenos ouvidos.

        A verdade era que o moleque – moleque era seu segundo nome, Frankie tinha certeza, pois o pai só o chamava assim – merecia. Pelo menos era o que Frankie pensava. Seu pai o amava, não era? Sim, claro, ele ouviu isso muito dele por muito tempo. Porque ele batia no menino? Ora, ele se preocupava com o moleque; queria ensinar umas poucas e boas pra ele, pois ele era só um menino pequeno e Deus sabe – Frankie sempre imaginou que Deus era um amigo imaginário que respondia suas perguntas – que os meninos pequenos precisam levar uma boa surra quando fazem merda. Frankie aceitava e entendia isso com aspecto que lhe lembraria um adulto, pois era sempre culpa dele. E aprendeu isso cedo para sua sorte.

        Havia uma certeza sobre o motivo dele levar uma surra (do cacete) aquela noite. Ele pensou nisso no momento em que esquecera de levar a enxada do pai para dentro de casa depois de capinar e separar as ervas daninhas. O pai do menino já ficaria furioso porque o filho teve de entrar mais cedo por causa da chuva, perdendo assim mais da metade de um dia de um trabalho por uma porra de chuva fraca. Quando o menino correu para dentro de casa, gritando sorrisos para a mãe, ocorreu a ele que a enxada ficara lá... e não havia problema, ele a buscaria... depois da chuva acabar, porque sua mãe não iria querer água no seu chão de barro, ah, não, imagine se isso acontecesse?

        Dias de chuva eram maravilhosos naquela época; o pai não estava em casa na maioria das tardes, seus irmãos estavam estudando – Frankie já era suficientemente velho para largar os estudos e trabalhar, pois macho têm que sustentá a casa, moleque, pois é. Foi a resposta que o menino recebeu do pai quando ele perguntou porque ele tinha de trabalhar tanto. Além disso, não queria largar a escola –, e sua mãe estava ocupada demais cozinhando junto com a mulher da fazenda da frente. Ele poderia achar um cantinho, levar para lá seu caderno e desenhar até a chuva acabar ou seu pai chegar. Isso tornava seu dia o mais alegre possível, pois enquanto movia as mãos para lá e para cá em cima das folhas marrons de papel, seu sorriso ia abrindo suavemente até atingirem a sobrancelha também, seus olhos brilhavam de desejo e aspiração, do prazer de estar criando algo com suas próprias mãos e uma pequena ferramenta que se chamava carvão e foi bem isso que ele fez.

        Desenhou em seu caderninho sujo um sol banhando uma casa em cima dum monte com vários animaizinhos correndo: galinhas, cavalos, gatinhos e cachorrinhos, também havia uns passarinhos se você olhasse com atenção. Dentro da casa que era aberta na frente, havia ele, sua mãe e seus irmãozinhos, todos com um grande sorriso no rosto. Porque meu pai foi embora, por isso, moleque. Ele pensou, quando decidiu colocar os sorrisos no rosto redondo das pessoinhas. Nesse momento, seu rosto, e principalmente os seus olhos, passaram de um tom cinza para um colorido vivo, como se os carvões pudessem pintar o que os olhos viam quando ele corria para o córrego para ficar sozinho nos dias de sábado, suas bochechas inflaram com a tensão do sorriso que ele deixou ter. E de repente, lágrimas caíram dos seus pequeninos olhos. Frankie não sabia o porquê dele estar chorando, mas tinha alguma ideia; a de que seu pai lhe amassaria os dedos se visse aquele desenho, por isso ele logo o amassou assim que terminara de chover lá fora. O dia tinha enegrecido de um forte céu azul para um azul escuro cinzento e nublado, mas os raios de sol escapavam por entre as nuvens, formando um amarelado com pequenos tons de rosa e fora isso que Frankie vira assim que abrira a porta pesada de madeira.

        Ficou maravilhado com tal visão, de repente lhe veio à cabeça uma breve imaginação que mais tarde ele compararia com um filme passando em sua cabeça: milhares de soldados do sol abrindo caminho pelas nuvens para chegarem até as plantas e fazerem elas crescerem. Sorrira baixinho e voltou ao seu trabalho caminhando lentamente.

        Lá chegando, sua mente demorou um pouco para perceber. Talvez porque ela podia estar debaixo da lama ou apenas um pouco longe para que ele não a visse pois não estava olhando com atenção. A enxada sumiu. Ele percebeu. Sim, ela havia sumido. Não teria como estar debaixo da lama, pois ele a largou em cima das pedras. De repente aquela sensação péssima, o frio corroendo sua espinha correu para todas as pontas de seu corpo cortando tudo que havia entre uma parte e outra. Ele se sentiu, não, ele viu o seu próprio futuro, e ele chegaria em passos largos – BUUUUM... BUUUUUM... BUUUM... – com uma vara na mão. Mas mais ainda; ele via as marcas sendo já formadas em seus braços, costas e bumbum. Ah, ele ia levar. Sabe porquê? Porque ele merecia. Havia deixado a enxada ser roubada por descuido dele próprio e agora... ele tinha de levar, e iria levar muito, pra aprender.

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