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Arte Africana

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Por:   •  30/5/2014  •  7.665 Palavras (31 Páginas)  •  385 Visualizações

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Arte Africana

Bertina Lopes, "Maternidade", óleo s/tela, 80x100 cm, 1971

Chika Okeke

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A arte moderna africana tem sido uma anomalia no mapa da modernidade artística do século xx. Acompanha-nos desde os começos do modernismo e no entanto, numa espécie de ritual cíclico, parece ter sido frequentemente necessário validar a sua inclusão no estudo da arte do século xx. Acresce que as marcas de uma consciência moderna na obra de artistas africanos têm sido invariavelmente ligadas à missão civilizadora e à acção disciplinadora do projecto colonial europeu.

Quer o colonialismo tenha ou não inadvertidamente plantado as sementes da arte moderna africana, a medida em que essa arte continua a dever-se a metodologias europeias permanece sujeita a intenso debate. Os primeiros estudos argumentavam muitas vezes que as raízes do movimento moderno em África assentam na introdução dos currículos convencionais europeus nas escolas secundárias coloniais no início do século xx, mas esta versão da história exige exame mais cuidado, pois que a sua lógica obedece à suposição de que a emergência da África na modernidade se deveu em larga medida à mediação do colonialismo. E aqui estou a referir-me n‹o apenas ao vasto território designado como África sub-saariana, mas a todo o continente, do Magrebe até ao Sul, ao Oeste e ao Este de África.

A perspectiva que vê na educação colonial o agente da emergência da arte moderna africana defronta-se com várias contradições e um paradoxo. Para começar, apesar da introdução da educação artística europeia em zonas néo-islâmicas do continente ter acarretado uma mudança na atitude do colonizado face ao colonizador, a missão colonial não foi aí de modo nenhum o principal agente de produção artística. Na realidade, inicialmente não prestou qualquer atenção às artes visuais, centrando sobretudo as suas preocupações na satisfação das necessidades dos poderes coloniais em recrutar o trabalho de mão-de-obra subalterna, ¬ por exemplo funcionários para a administração pública. Nos casos em que a arte fazia parte dos currículos coloniais, restringia-se à noção de artesanato. A inclusão da arte nos programas apenas se iniciou quando africanos escolarizados o exigiram.

Existe aqui uma contradição; outra é a existência durante a época colonial de um vasto corpo de práticas de escultura e performance que confrontaram o projecto colonial com crítica acerba, humor e empatia, explorando sobretudo aquilo que a condição moderna implicava para os africanos em termos de alienação. Esta alienação era dupla, existindo primeiro a nível temático toda uma categoria de géneros de performance analisaram a figura do colonialista, parodiando a sua presunção de controlo das produções subjectivas africanas. Uma segunda alienação emergiu através da alteração do cânon tradicional, no seio do qual se realizou esta inserção crítica. O que tornou estas intervenções locais no espaço colonial intensamente pungentes e modernas foi a sua criação de um domínio em que se desenvolvia um discurso dialéctico sobre as relações de poder, com a audiência reconhecendo de imediato o significado da caricatura colonial no interior de um clássico corpus africano. E aqui o funcionário colonial vivia uma alienação mais profunda, pois mal era capaz de decifrar os códigos críticos de actividades em que por vezes desempenhava o papel de um hóspede de honra.

Isto leva-me ao paradoxo no interior do qual a arte moderna africana funciona. Os intelectuais e artistas ocidentais contemporâneos reconhecem geralmente que um dos pontos de partida para a paradigmática mudança de direcção da arte europeia no século XX ocorreu quando os artistas ocidentais descobriram objectos "etnográficos" de África e da Oceania e reconheceram as potencialidades que eles ofereciam para mudanças formais na pintura e escultura europeias. Do cubismo ao surrealismo, de Pablo Picasso a Paul Klee, Georges Braque, Constantin Brancusi, Henry Moore, Alberto Giacometti, Amedeo Modigliani, Julio González, Wilfredo Lam, e outros, a demonstração ficou suficientemente clara. Mas a contrapartida desta descoberta dos artistas ocidentais foi a descoberta da arte europeia pelos artistas africanos surgidos na mesma altura. No sul da Nigéria, por exemplo, as missões cristãs que aí se tinham estabelecido em meados do século XIX baniam completamente a educação artistica. Não foi senão no início da primeira década do século XX que o primeiro artista moderno da região, Aina Onabolu (1882-1963) lançou a sua cruzada solitária para convencer a administração colonial de Lagos a criar um curso de arte nas escolas secundárias. Do mesmo modo, as administrações coloniais francesa e inglesa não encorajaram a criação do ensino artístico no Magrebe, muito embora muitos artistas ocidentais tenham visitado o Norte de África islâmico no século XIX, especialmente durante a época Romântica (depois da invasão do Egipto por Napoleão em 1798 ter aberto a região à expansão colonial europeia), e apesar de vários daqueles artistas se terem estabelecido na Argélia, no Egipto e em Marrocos. Foi o príncipe Yusef Kamal ¬ membro do Partido Nacional Egípcio, que defendia a independência da Inglaterra, quem criou a primeira escola de arte no Egipto colonial: A Escola de Belas-Artes do Cairo, que abriu em 1908.

Parece, portanto, que a arte africana moderna se tornou realidade, não tanto devido à introdução da educação ao estilo ocidental, mas sobretudo devido a algumas pessoas para quem a arte como prática autónoma se tornou um meio de expressão da sua individualidade e de tomada de consciência das suas circunstâncias socio-políticas¬ com as suas próprias modernidades emergentes. Se o desenvolvimento da arte moderna na África colonial parece ter sido bastante lento (isto é, se desprezarmos algumas das já referidas práticas indígenas no domínio da escultura e da performance), isso pode dever-se ao facto de a subjectividade artística moderna estar associada à independência política. A ideia de liberdade artística era a antítese do espírito do colonialismo. Previsivelmente, a primeira vez que de forma clara, continuada, se vê arte modernista em África foi no Egipto, que atingiu cedo a independência política e criou um discurso nacionalista antes da Primeira Guerra Mundial. [i] O resto do continente, e apesar dos esforços pioneiros de algumas pessoas, teria de esperar pelo fim da Segunda Guerra Mundial para criar as condições para o aparecimento

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