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CASA REFUGIO

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Por:   •  10/3/2015  •  5.797 Palavras (24 Páginas)  •  247 Visualizações

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abanas, domus, castelos, villas, palazzos, são denominações históricas do espaço unifamiliar. São representativas da arquitetura mais elementar, mais próxima e utilizável pelo ser humano, considerada a sua real terceira pele, logo após a epiderme e a roupa que o protege do meio ambiente onde vive. Entretanto, haverá uma palavra que, independente das classes sociais, sintetizará toda noção de habitação privada: a casa.

Primitivamente, o conceito casa surge durante o Império Romano como sinônimo de cabana, tugúrio, choupana, de característica rural, como antagonismo ao termo domus que indicava a habitação urbana. Domus nos deu domicílio. De domus originou-se dominius, “senhor”, porque o amo da casa era o senhor.

A progressiva degradação das condições de vida, o refreamento das atividades econômicas, os periódicos flagelos das guerras e das pestes durante a Idade Média, reduziram as domus de pedra e mármore, até quase extingui-las por completo, multiplicando-se as casae de madeira e barro. Até o século X, e mesmo depois, as únicas construções em alvenaria foram os castelos e as igrejas. Na cidade, a igreja distinguia-se por suas dimensões soberbas e pela estrutura firme, merecendo o nome de domus, a casa do Senhor, tendo ao seu redor uma extensão miserável de casae. Desde então, chamou-se duomo (domo), domus, a morada de Deus e casa a morada humana.

Até o presente momento não apresentamos a palavra lar como definidora do espaço privado, pois se confunde, freqüentemente, o uso das palavras casa e lar, chegando às vezes a uma total sinonímia. No entanto, existem pontos relevantes que distinguem ambos os termos.

Temos, hoje, o conceito casa como um edifício ou parte dele destinado à habitação humana. Estar destinado representa aqui um objeto construído à espera de um uso familiar em que as relações do plano físico e a troca emotiva de seus moradores, possam fazer da casa um lar. “Uma interrogante que aguarda uma resposta” (1) como diria Eduardo Sacriste. Assim a casa apresenta-se como um espaço/forma que busca estar adequada e ser resposta correta ao modo de vida de seus moradores e às características climáticas da paisagem onde se instala. A casa possui sempre um valor econômico a partir de fatores variáveis como a sua localização, a qualidade dos materiais empregados, a sua própria estética e os espaços propostos.

A unidade casa é resultante de um complexo processo no qual confluem fatores sociais, econômicos e técnicos determinantes de sua conformação e também de suas mudanças. Não somente os costumes e modos de vida dos povos orientam a configuração e transformação da casa humana. Desde outros níveis e vertentes, menos diretos porém de incidência igualmente sensível, a casa registra as alterações históricas e sociais, as inovações técnicas, e logicamente a situação econômica e o grau de desenvolvimento alcançado nesse aspecto por um estado ou região.

A configuração casa representa um invólucro delimitador entre o público e o privado, pois nos leva a um interior, representando a necessidade de estarmos situados. Adverte-se assim que a casa relaciona-se intimamente com o homem, pois sua configuração é dependente da situação e do modo de vida de seu habitante e quando este lhe infunde seu hálito vital e a transforma em algo próprio e pessoal, ela pode assumir uma dimensão simbólica.

“A casa segue sendo o lugar central da existência humana, o sítio onde a criança aprende a compreender sua existência no mundo e o lugar de onde o homem parte e regressa” (2), revelando, de diversas maneiras, as formas de viver da pessoa ou grupo familiar que embaixo de um teto instalou sua morada permanente.

“Nossas vidas estão inevitavelmente ligadas à casa. O fervor mais antigo de nossas primeiras vivenda, as imagens recônditas da infância têm eco em seus muros, às vezes com tênue resplendor de uma irrecuperável felicidade, outras com a nostalgia do que já não existe ou o frio desapego por ingratas evocações, já que ela é o cenário do drama cotidiano da vida” (3).

Eis aqui o princípio e a própria essência da casa. Sempre vista como refúgio familiar, abrigo de homens e mulheres, pais e filhos, patrões e empregados, família e indivíduo, a casa pode ser vista como um microcosmo privado sempre em confronto com um setor público, seja ele uma aldeia ou metrópole. A casa necessita de paredes e cercas para imaginar-se uma existência não ameaçada. É ela quem dá ao homem seu sítio sobre a terra. A casa é, simbolicamente, um castelo, uma fortaleza, um lugar de defesa contra as agressões externas como um local de descanso e prazer. Assim, a casa é um objeto construído que pode ser vendido ou alugado. Um objeto inerte, não estabelecendo valores de uso, convivência e entrosamento familiar. Projeta-se a casa, constrói-se a casa. Os seus moradores podem fazer dela um lar.

A palavra lar é uma corruptela de lareira. A lareira primitiva que faz do seu fogo o elemento inseparável da cabana rústica. O fogo que reúne ao seu redor todos os integrantes de um laço familiar, sendo, de um modo figurativo, um manto que aquece e une a todos num mesmo instante. A identificação do fogo está presente nas cabanas rústicas como o elemento mais semelhante à vida. O fogo cresce, move-se, aquece, destrói e é quente, uma das qualidades fundamentais associada à vida humana. Quando o fogo se extingue, suas cinzas tornam-se frias, do mesmo modo que esfria o corpo de um ser quando morre. Há um paralelismo entre o conceito da alma que anima o corpo físico e o fogo, o espírito que anima o corpo da casa, como podemos perceber nesta definição de Ricardo Severo:

“Para agasalhar o primeiro lar, o rústico altar do fogo sagrado – que foi a mais poderosa divindade dos primitivos cultos – edificou o homem a primeira casa, a um tempo habitação e templo” (4).

O fogo – representado por Héstia, a deusa grega do lar – associa-se à casa para representar a criação de um lar, que através de sua chama traspassa a imagem da fertilidade e metáfora da vida. O fogo representa a alma da casa, sendo um símbolo da fertilidade feminina e da vida, chama sagrada e benéfica. É no fogo que está o âmago da visão orgânica de Wright como nos lembra Luis Fernandez Galiano (5), onde a utilização do fogo passa a ser mais simbólica que funcional. Nas Prairie Houses podemos notar o papel protagonista que nelas desempenham as lareiras, foco em torno do qual se desenvolve o espaço arquitetônico e a vida de seus moradores e as chaminés que apelam a uma tradição primitiva que faz do fogo a alma e o símbolo do lar.

O lar é uma condição complexa que

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