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Cancioneiro Popular Nordestino

Por:   •  21/9/2022  •  Resenha  •  1.407 Palavras (6 Páginas)  •  98 Visualizações

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Há muito tempo a música popular brasileira tem no cancioneiro popular nordestino uma importante fonte de inspiração. O xaxado, os frevos, as marchinhas juninas, as cirandas, os repentes (desafios), o maracatu, o coco, o forró, o baião, entre outros, povoam as mentes criativas dos compositores de todo o Brasil. O tema muitas vezes é a figura do sertanejo em constante batalha pela vida diante de um clima hostil e escassez de recursos. A seca e a miséria sempre em contraste com a alegria de um povo que não se dá por vencido, destilando uma poesia de exaltação da natureza e das riquezas culturais de sua terra.

O interesse pela preservação do cancioneiro popular vem de longa data. Com a criação da Discoteca Pública de Municipal em São Paulo em 1935 teve inicio o primeiro acervo fonográfico brasileiro. De fevereiro a julho de 1938, Mario de Andrade, à época diretor do Departamento de Cultura de São Paulo, organizou a Missão de Pesquisas Folclóricas. Expedição de caráter etnográfico percorreu seis estados do norte e nordeste brasileiro registrando as manifestações musicais dessas regiões. A equipe formada por Luiz Saia (Chefe), Martin Braunwieser (músico), Benedito Pacheco (Técnico de Gravação) e Antônio Ladeira (Auxiliar), registrou aproximadamente 55 gêneros folclórico-musicais, entre cantos de trabalho, danças dramáticas, cantos de feitiçaria, cantos puros não ligados a danças e vários outros. Além do material fonográfico, fotos e filmes de curta duração foram registrados e adquiridos mais de 800 objetos (fetiches e instrumentos musicais). O objetivo de Mario de Andrade era a preservação e difusão da cultura do norte e nordeste brasileiro a toda a população. Todos os registros estavam disponíveis a época para todos os interessados. Porém, algumas das gravações foram feitas em discos de acetato. Este material era muito frágil. Os discos começaram a ser matrizados (transformados em discos de vinil). Porém, o Estado Novo Getulista, afastou Mario de Andrade de seu cargo e interrompeu seus projetos, inclusive a matrização do acervo o que tornou o material inacessível ao público. E continuou assim durante muitos anos.

A difusão da cultura do norte e principalmente do nordeste se deu através das emigrações para as grandes cidades. Rio de Janeiro e São Paulo enxergadas por muitos como a terra da promessa, abrigou muitos trabalhadores vindos dessas regiões. Na bagagem, além de seus pertences e da saudade, a cultura da terra natal. Diversos períodos da história musical brasileira estiveram marcados pela presença da musica nordestina. Luiz Gonzaga, o “Seu Lua”, foi um dos seus maiores representantes. Além da música, sua indumentária inegavelmente nordestina era marca registrada. Músicas como “Asa Branca” ficaram gravadas na memória de várias gerações. O chamado “Sul” se rendia ao contagiante novo ritmo. Dominique Dreyfus, biografa do sanfoneiro, afirmou: “o maior êxito de Gonzaga foi o de ter afirmado, com personalidade própria, sua originalidade, interpretando não aquilo que estava na moda, como fazia nos bares e nos dancing’s, nas esquinas das ruas e nos programas de calouros, mas o que ele próprio estava a fim de tocar”. Artistas como Gilberto Gil, Hermeto Paschoal, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gal Costa, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Belchior, Fagner, Quinteto Violado, Raul Seixas, entre outros estiveram sob a influência de vários ritmos do nordeste. A irreverência, outra marca da expressão musical nordestina fica bem aparente no trabalho do Trio Nordestino. Sua música “Procurando tu” foi um estrondoso sucesso na década de 70 chegando a vender um milhão de cópias. O conjunto chegou a ser convidado para o programa de Flavio Cavalcanti, grande sucesso na época. Porém, foi proibido de executar sua música carro-chefe por ser, de certo modo, de duplo sentido. A curiosidade serviu de aperitivo para que programas como de Haroldo de Andrade na Radio Globo, executassem a música. O sucesso garantido no Rio. E em São Paulo, seguindo a tendência, Silvio Santos passou a executar em seu programa. A música passou notáveis noventa dias em primeiríssimo lugar. O fato curioso é que um dos integrantes do Trio, antes do sucesso, chegou a pedir auxílio ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Este, porém, negou a ajuda. Mas como todo bom nordestino nunca se deixaram abater pelo desânimo. [pic 1]

Na cronologia da vertente cultural do cancioneiro popular nordestino:

Luiz Gonzaga (1912-1989). Primeiro astro pop do Nordeste. Inventou o baião com base no trio triângulo / zabumba / sanfona, retirado do folclore e popularizou a cultura nordestina em outros cantos do Brasil, adotando postura e figurinos para ressaltar suas origens. Começou tocando fados, valsas e tangos. Teve seu auge nos anos 40 e 50. Seu maior sucesso é “Asa Branca”, que teria impressionado os Beatles.

Jackson do Pandeiro (1919-1982) Popularizou o coco, o rojão, a embolada, típicos do sertão paraibano, e se aproximou do samba carioca. Era famoso por sua presença de palco. Seu melhor momento aconteceu nos anos 50 e 60. Caiu no ostracismo com o predomínio do iê-iê-iê. “Sebastiana” e “Chiclete com Banana” são seus maiores sucessos. Fazia dupla com a mulher, Almira.

Alceu Valença (1946) Expoente de uma geração de músicos nordestinos que, nos anos 70, eletrificou alguns ritmos regionais, como frevo e maracatu. A geração posterior é considerada, dentro de suas particularidades, herdeira de suas inovações. No início da carreira encontrou alguma dificuldade para divulgar seu trabalho devido à ação de empresários que o consideravam extravagante demais. Luiz Gonzaga definia o som de Alceu como “Banda de Pífanos Elétrica”.

Chico Science (1966-1997) Misturou funk e rap com a batida do maracatu. Atraiu os ouvidos para a música nordestina atual e ajudou a abrir novamente as portas da industria fonográfica. Ao lado de Fred 04 (Mundo Livre S/A) e da Nação Zumbi, é co-fundador do movimento mangue-bit. Alceu Valença, padrinho do pop rock nordestino chegou a definir como avesso da antropofagia: “Já assimilamos tudo de fora. Agora puseram o computador na mão dos índios, e os estrangeiros vão ter de nos deglutir também”.

Muitos expoentes da nova geração da MPB usam os ritmos contagiantes do norte e nordeste. O maranhense Zeca Baleiro, ouvia emboladores, repentistas e sanfoneiros que tocavam na farmácia de seu pai. Admirador confesso de Luiz Gonzaga. O pernambucano Lenine, fã de Jackson do Pandeiro, traz em seu ritmo muito da cultura nordestina. O paraibano Chico César passou a infância ouvindo e admirando as festas populares. O som eletrônico de Otto leva às pistas o som vindo do sertão.

Para finalizar gostaria de deixar um trecho de um discurso proferido em 31 de outubro de 2001, na câmara dos deputados, pelo Deputado Ariston Andrade. Recitou alguns versos do cancioneiro popular nordestino que deixam muito claro todos esses aspectos característicos:

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