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Eurípedes e As Troianas

Por:   •  20/3/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.133 Palavras (21 Páginas)  •  191 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES




A perspectiva trágica em As Troianas, de Eurípides.

Disciplina de graduação: Formas do Teatro Trágico no Ocidente

Professora Drª Isa Etel Kopelman


Aliane Gonçalves de Aguiar Silva
RA: 101358

Graduação: Ciências Sociais – Antropologia

Campinas, 2014

Introdução

A época histórica caracterizada como modernidade é marcada profundamente pela crise de seu sistema de valores. Desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo e a Revolução Científica, a humanidade se viu atrelada a um fio condutor comum, articulando elementos do cientificismo, do racionalismo, da ironia, do utilitarismo, sempre procurando emancipar a humanidade das malhas do divino e da tradição, e sempre procurando tornar o ser humano racional, senhor da natureza e senhor absoluto do seu destino, no contra fluxo do pensamento trágico. A nossa época é caracterizada pelo anti-herói. É sem dúvida por isso que, em todas as épocas de crise, como a nossa, sentimos a necessidade de retornar às tragédias gregas e desvelar o que reverbera ainda hoje. A modernidade se encontra com esses tempos míticos. Aristóteles nos diz que o historiador narra o que aconteceu e o poeta, aquilo que poderia acontecer. Isto não quer dizer, no entanto, que a mitologia representava para os gregos o mesmo que representa para nós hoje, até porque na Antiguidade não havia a noção de uma linearidade contínua de passado-presente-futuro. Os gregos deste período possuem apenas uma série de “contos” míticos, as suas memórias e de algumas gerações anteriores, transmitidas oralmente, em família.

A tragédia grega se desdobra na modernidade, pois envolve um espectro muito amplo de temas da humanidade; seu brilho se prende com a amplitude de sua significação, com a riqueza do pensamento que os autores souberam dar-lhe: a tragédia grega apresentava, numa linguagem diretamente acessível da emoção, uma reflexão sobre o homem. O trágico resiste como visão de mundo, como visão de arte. É um discurso que fala de nós, de nossa condição.

A tragédia representa, em sua essência, a afirmação da vida. Na perspectiva nietzschiana – que nos convida ao eterno prazer do existir, o herói trágico nos afirma, com sua angústia e desespero, a vida eterna da vontade. Na tragédia grega, a luta, a dor, a destruição dos fenômenos parecem necessários para nós, porque deixam entrever algo de mais profundo que transcende qualquer herói individual, o eterno vivente criador, eternamente lançado à existência. A arte transfigura todo existente, mas só a tragédia exprime a crença na eternidade da vida.

Justificativa


        Com intuito de desvelar um pouco mais a dramaturgia euripidiana, mais exatamente a que se insere no chamado “Ciclo Troiano”, nos apropriamos de
As Troianas (415 a.C.), tragédia na qual nos deparamos com a impotência humana e os  trágicos destinos das cativas de Tróia, principalmente, Hécuba, Helena, Cassandra, Andrômaca e Polixena. O presente trabalho busca apreender o mais organicamente possível, a perspectiva trágica da peça numa leitura contemporânea. Buscamos pensar sobre o mito (o transcendente), o herói, a ação trágica, o que há de mítico (no meio do caminho entre a ação humana e o transcendente).

O Teatro Euridipiano e As Troianas

Dos três grandes tragediógrafos, Eurípides pertence à outra época intelectual. Fora menos fiel ao pensamento religioso que Ésquilo e Sófocles. Eurípides impregnou no palco o racionalismo apreendido no convívio dos filósofos contemporâneos, principalmente o movimento sofista e a descrença nos antigos valores morais e religiosos. Aberto a todas as influências, o poeta reflete em seu teatro muito das novas ideias, dos novos problemas. A experiência que o marcou, é o período sangrento, desagregador e destrutivo da guerra do Peloponeso, acontecimento que influenciou a desordem com que se debatem as suas personagens.
        O drama nasce com a tragédia e Eurípides pode ser considerado um dramaturgo, que prenuncia certo realismo. Claro que falar em realismo é cometer um anacronismo, mas quando dizemos hoje, que Eurípides é um realista, nos referimos a sua vontade em retratar os dramas humanos, em apresentar os homens realisticamente como eles são, com seus conflitos e indecisões, e não como eles deveriam ser, tal como delineava Sófocles em suas peças. Nas obras euridipianas, as relações entre os personagens são mais psicológicas. Os heróis de Eurípides são vítimas de todas as fraquezas humanas: alguns cedem às suas paixões e são retratados com realismo; outros cedem aos seus interesses e são medíocres. As personagens de Eurípides obedecem a uma nova psicologia: estão mais próximas de nós do que os heróis dos outros tragediógrafos e também são mais inteiras nas suas paixões. O mundo por ele evocado, já não tem nada desta ordem pela qual suspiravam, cada um à sua maneira, Ésquilo e Sófocles: neste mundo, onde ousamos criticar os deuses, pelo menos na sua forma lendária, o acaso parece brincar com os homens com uma crueldade que Eurípides gosta de evidenciar. A sua arte sabe extrair grandes efeitos patéticos de uma ação com múltiplos acidentes, de que o homem é sempre a vítima, mas de que não pode retirar nenhuma lição. Seus heróis são tão mais tocantes, por terem uma vida tão semelhante à dos outros homens.

Eurípides imprimiu ao gênero trágico uma profunda renovação. Radicalizou ainda mais a questão da ação, impulsionando seus personagens a agir assim como analisando suas ações, forçou efeitos, libertou a música, multiplicou personagens, retirou o herói do seu pedestal, agregou comicidade através do patético, trouxe orientações políticas a suas peças, trouxe para o palco a cotidianidade e características paródicas constituíam suas peças.
        Criticado por Nietzsche como cúmulo da decadência do trágico, Eurípides fora fortemente associado a Sócrates. Nietzsche estabelece que a tragédia grega antiga  sucumbiu  pela  ação combinada de Sócrates e Eurípides, pelo socratismo de Eurípides. Nesta ação combinada com Eurípides, subestima-se o valor da música grega antiga, substrato da tragédia, levando esta à sua decadência. A junção entre as duas pulsões artísticas da natureza, o apolíneo e o dionisíaco, se vê dissolvida diante da aliança entre Eurípides e Sócrates. Esse fenômeno ocorre, segundo a visão nietzschiana, devido ao fato de que Sócrates desejava “reparar a existência” através de uma divindade distinta daquelas formadoras da tragédia grega antiga, a saber, a razão.

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