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Gonjasufi — A Sufi and a Killer (resenha de álbum)

Por:   •  7/12/2018  •  Resenha  •  793 Palavras (4 Páginas)  •  159 Visualizações

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O álbum de estréia de Gonjasufi lançado este ano pela Warp Records é sem dúvida um oásis na estereotipada (e sinceramente ridícula) atual cena Hip Hop — deserto cheio de clones criados a partir de uma fórmula estético-conceito-comercial esdrúxula centrada no ego, baseada na glamourização do pimp lifestyle, da persona gangsta, sua grana, seus carrões & suas bitches.

“Deveria ser uma regra: se você ganha uma quantia de dinheiro, uma porcentagem isso deve servir para se conseguir água potável e coisa do tipo  [shit, no original — termo inclusive muito usado por ele, coisa de rapper?, na ótima entrevista concedida ao site The Quietus, da qual aqui traduzo passagens como esta] para o resto do mundo”, responde quando questionado sobre o que acha do atual estado da música pop. “É frustante porque eu tenho filhos. (…) Você vê vários rappers por aí e tudo que eles estão falando é sobre dinheiro. E eles têm talento, sem dúvida.”

Gonjasufi é Sumach Ecks, rapper, MC, DJ e instrutor de yoga. Norte-americano, iniciou sua carreira no hip hop californiano no início dos 90 junto ao coletivo Masters Of The Universe. Durante a primeira década de 2000, ainda como Sumach (ou Sumach Valentine) lançou (até onde descobri) três álbuns. São discos que já indicam uma busca (gradual) por novos caminhos, ainda que possuam uma atmosfera mais próxima do que conhecemos como hip hop. Os ruídos, chiados e a estética lo-fi (os três álbuns foram gravados e lançados de forma independente) já estão presentes, mas a principal diferença que percebo é na forma de cantar, mais propriamente na voz de Ecks, que nesta nova encarnação chamada Gonjasufi apresenta um vocal mais sujo, crú, enfumaçado, empoeirado & irregular.

Ganhou notoriedade em 2008, ao cantar a faixa “Testament” no debut de Flying Lotus. Agora, sob produção do próprio FlyLo juntamente à Mainframe e Gaslamp Killer, lança este álbum, The Sufi and the Killer — certamente um dos melhores lançamentos do ano.

De difícil classificação, ao longo de suas 20 faixas divididas em pouco mais de 50 minutos, o álbum apresenta um universo/realidade/personalidade fragmentada, aleatória e incerta, porém auto-consciente e confiante em si — e isso faz toda diferença. Para compor o álbum Ecks se isolou no deserto de Mojave (será que ele visitou Clutch Hopkins por lá?) para sozinho enfrentar seus demônios e (ao menos tentar) expurgá-los através da música.

O resultado são músicas distintas, anômalas & complementares, na qual seu vocal transita por entre delays, reverbs e outros efeitos, mesclando doces melodias à berros guturais numa mesma faixa. Assumidamente lo-fi (a um passo do no-fi em alguns momentos), Sumach nos apresenta uma espécie de diário, livro de rascunhos, na qual o artista expõe suas idéias, conflitos e possibilidades de solução, tudo misturado muitas vezes numa mesma página, idéias sobrepostas & caóticas, canções multilayer unindo o a tradição e o misticismo oriental ao vazio espiritual/consumismo do ocidente, fazendo colagens com elementos aparentemente encontrados ao acaso. Se o disco fosse uma obra plástica, arrisco dizer que poderia ser a fusão da simultaneidade do Picasso cubista, com as pinceladas expressividade de Pollock e a sinceridade urbana dum Basquiat. “Eu acho que esta é uma sociedade que está se comendo viva.”, filosofa Ecks.

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