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IMAGINÁRIA DEVOCIONAL MINEIRA: TIPOLOGIA E ICONOGRAFIA.

Por:   •  24/4/2016  •  Artigo  •  1.972 Palavras (8 Páginas)  •  455 Visualizações

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IMAGINÁRIA DEVOCIONAL MINEIRA: TIPOLOGIA E ICONOGRAFIA.

Ao longo do séc. XVIII  a imaginária devocional católica, em terras brasileiras, sofreu forte influência dos escultores oriundos de Portugal, sobretudo aqueles ligados às escolas de Lisboa e da cidade do Porto. Isso se deve às descobertas da minas auríferas na colônia portuguesa que atraíram esses artesãos lusitanos, que trouxeram em sua bagagem de conhecimento imagens devocionais mais sóbrias na gestualidade e de fisionomias mais serenas, características estas determinadas pela tradição gótica, além daquelas registradas em gravuras rococós, franco-germânicas, espalhadas em profusão pelos países da Península Ibérica.

As escolas de imaginária devocional, no século XVIII, de maior significação no Brasil, foram: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão. Cada qual com características regionais específicas, claramente definidas. A escola devocional mineira possui grande variedade de tipologias e estilos. Exclui aspectos repetitivos, o uso da policromia e do douramento são mais discretos, as cores possuem padrões mais uniformes, tornando-se mais suaves nas últimas décadas do século XVIII, o que demonstra clara influência do estilo rococó. As feições dos santos, anjos e outras divindades transparecem certa ingenuidade e o panejamento das vestes não possui caimento lógico. Os artesãos responsáveis pela produção da imaginária devocional mineira concentravam-se em oficinas, espécies de organizações herdadas da tradição corporativa medieval e ainda vigente no século XVIII colonial.

As esculturas devocionais são divididas em quatro categorias principais: imagens retabulares; imagens processionais (dentre essas as imagens de roca); cenas escultóricas e imagens de oratório.

As esculturas retabulares, ao longo do período barroco, foram as mais produzidas e sua destinação eram a exposição em retábulos para veneração em capelas e igrejas, adequando-se à formalidade do retábulo, acompanhando a evolução dos estilos em voga. Ao longo do período do barroco joanino, os retábulos, de grande complexidade ornamental e excessivamente dourados, receberam esculturas de formas agitadas e douramento abundante. Quando o estilo rococó passou a vigorar, os retábulos e a imagens tornaram-se mais elegantes e de policromia mais leve, com marmorizados mais delicados. Tanto no barroco quanto no rococó as imagens recebiam expressividade mais dramática, para facilitar a comunicação necessária à oração e o impacto visual a distância. As técnicas mais usuais eram a encarnação a óleo para as partes visíveis do corpo, estofamento a têmpera para a indumentária, incluindo ou não douramento, complemento com os “olhos de vidro”, que acentuam a sugestão de vida ao olhar.

TIPOLOGIA DAS IMAGENS

Imagens retabulares: concebidas para exposição frontal e em posição elevada, geralmente com o olhar direcionado para baixo, com a finalidade de alcançar o olhar do fiel; oferecem maior ângulo de visão quando enfocadas de baixo para cima. Possuem acabamento simplificado na parte posterior.

Imagens processionais: destinadas a serem contempladas de perto, não possuem ângulo de visão privilegiado. Seu realismo é acentuado por roupagem e cabeleiras naturais e membros articulados, passíveis de movimentação. São popularmente conhecidas como “imagens de vestir”. Seus corpos tem execução sumária, uma vez que destinados a permanecer invisíveis sob a roupagem. As imagens de roca, também são uma tipologia das imagens processionais, sendo que nestas o corpo é reduzido a uma armação de ripas, oferecendo a dupla vantagem de reduzir o preço e, aos carregadores, o peso para transportá-las nas procissões.

Cenas escultóricas: só podem ser apreendidas na totalidade de sua estética e iconográfica no âmbito de sua ação. Os principais conjuntos de cenas escultóricas são os presépios e os grupos de passos, relacionados ao ciclo do natal e da páscoa.

Presépios: no barroco, durante o Brasil colonial, os presépios derivam da modalidade napolitana, com esculturas em escalas reduzidas e incorporando cenas populares adicionais aos grupos básicos.

Grupos de Passos: são quase sempre compostos por esculturas de tamanhos próximo ao natural, formando cenas diversas da Paixão de Cristo, Última Ceia com os apóstolos à Crucificação no Monte Calvário. Organizados em pequenas capelas construídas especialmente para abrigá-las ou conservados em dependências das igrejas matrizes, afim de serem armadas na Semana Santa. Ocasionalmente são transformadas em imagens retabulares, com redução da cena ao personagem central do Cristo.

Imagens de oratório: com menos de 30 cm, em geral, destinadas à devoção doméstica, abrangem um universo multifacetado, subordinado às práticas do devocionário católico na esfera privada. Incluem desde peças eruditas com vistosa policromia e douramento às mais toscas imagens populares.

Santana mestra

Santana, assim como Nossa Senhora da Conceição, tem uma ligação muito estreita com a formação de Minas Gerais. Chegou com os bandeirantes, em seus oratórios ambulantes, e logo as instalaram nas primeiras igrejas matrizes. A princípio, não obtiveram templos próprios, o que só veio ocorrer a partir do terceiro quartel do Setecentos. Santana, como Santo Antônio e Conceição darão origem a vários topônimos de localizações mineiras ainda hoje vigorantes. Dentro da Igreja Católica o culto à mãe da Virgem é bem antigo. A sua festividade começou a fazer parte do calendário católico e cristalizou-se nos martirológios. No século XV tão popular se fez seu culto que a Igreja Católica temia que este sobrepujasse ao da filha, principalmente nos países ibéricos, sobretudo em Portugal e em seus domínios ultramarinos.

Como é sabido a história de Santana não se encontra nas Sagradas Escrituras e foi criada das fontes dos chamados “escritos apócrifos”, como o “Proto-Evangelho de São Tiago” ou o “livro sobre a Natividade de Maria”. Nesses escritos apologéticos Santana é destacada como uma mãe devotada à educação exemplar da filha, direcionando-a ao caminho da perfeição, da castidade, da obediência a Deus, espelhada nos valores religiosos prescritos nos livros sagrados. A par disto, o culto ganha força e divulga a idéia de uma Santana Mestra ou Guia, temática que seria explorada a exaustão pelos artistas, especialmente no piedoso ambiente artístico português. Todo esse entusiasmo que os portugueses devotavam à mãe de Nossa Senhora é trazido, então, ao Brasil, tanto pela própria piedade da população que para a colônia se trasladou, quanto pelas corporações que a Santana confiavam sua proteção, ou ainda pelos religiosos instalados nas capitanias brasileiras.

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