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O Ator Compositor

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Por:   •  19/3/2015  •  1.809 Palavras (8 Páginas)  •  297 Visualizações

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Quarta-feira, 17/4/2002O Ator CompositorRennata AiroldiIntrodução:Caros leitores, hoje trago para vocês uma entrevista com o ator Matteo Bonfitto que acaba de lançar seu livro “O Ator Compositor”, que é resultado de sua pesquisa de mestrado sob orientação de Jacó Guinsburg. -Gostaria de saber, para começar, um pouco sobre a sua formação.MB:Bom, minha formação começou na EAD ( Escola de Arte Dramática), e no final do curso, diante das possibilidades ou da falta delas, eu decidi utilizar a minha cidadania italiana e por acaso encontrei a Universidade de Bologna na Itália. Lá existia um curso chamado DAMS,( departamento de arte, música e espetáculo), onde são integradas quatro áreas: arte, filosofia, teatro e cinema. O mais interessante deste curso era a relação prática e teoria. As matéria teóricas eram dadas por professores da universidade e as práticas por profissionais convidados. Foi aí que eu tive a possibilidade de conhecer o trabalho do Yoshi Oida, que é ator do Peter Brook, atores do Odin Theatre.-Este livro, “O Ator Compositor”, é resultado de uma pesquisa. O que te levou a buscar este caminho enquanto ator?MB:Para mim uma das maiores dificuldades na formação do ator é a quantidade de referências de técnicas de atuação. Por exemplo, eu acho que até hoje é muito comum que um ator que esteja se formando faça uma espécie de shopping; ele faz um curso de Stanislavski, um curso de Brecht, um de comédia del’arte, um de clown. Isso foi um ponto de partida, porque fica uma experiência super fragmentada e que não há como sintetizar, construir um percurso artístico a partir disto. Tudo parece desconexo, sem relação. Com tudo isso comecei a pensar porque no caso do ator não existia esse termo que é usado em todas as outras áreas que é “Composição”. Existe na dança, na escultura, na pintura, no cinema e não no trabalho do ator. Enfim, a partir destes dois problemas foi que eu comecei a pesquisar e cheguei numa espécie de eixo: que é a questão da Ação Física.-Isso que eu queria saber. Durante o seu percurso teve alguma linha que te chamou mais atenção durante a sua formação que você pudesse dizer é por aqui que eu começo a trilhar o um caminho?MB:Na verdade este eixo foi encontrado depois de todas as experiências que eu já tinha tido até agora. Não foi uma coisa elaborada antes da prática. Eu fui percebendo que este conceito de ação física, a partir das bases que o Stanislavski constrói, podia estar presente no trabalho de outros pensadores, de outros artistas. E comecei a perceber que a questão principal da ação física que é essa conexão que existe entre a expressão exterior e processos interiores, que isso estava presente de formas diferentes em Brecht, em Barba, em Grotowski.-Seria um ponto universal entre as coisas?MB:A aposta desta pesquisa é afirmar que a ação física está acima das diferenças entre as práticas teatrais.Seria como o átomo para matéria?MB:É seria o átomo do trabalho do ator. A célula expressiva, na medida em que você conecta uma expressão exterior a um processo interior a ação física já existe a partir daí. A formalização disso é que é diferente em cada artista. Assim a questão central do livro é pensar a composição do trabalho do ator a partir da ação física enquanto conceito que foi ampliado. Mas ao mesmo tempo, esta constatação fez com que outras questões surgissem, por exemplo, qual é a diferença entre movimento, ação e gesto, que são termos super inflacionados em todos os cursos e cada um fala de um jeito e sugere uma definição diferente. E mesmo assim, a partir das onze referências que eu escrevi, dentre elas o Kabuki e a Pina Baush, dança e teatros orientais, mesmo internamente no discurso destas pessoas poderia existir um denominador comum para o que eles chamavam ação, movimento e gesto. Outra questão complicada do livro foi a questão da improvisação. Porque há milhares de cursos de improvisação e tipos diferentes. Tentar reconhecer diferentes práticas de improvisação, na verdade desde o teatro mais careta e amador, existe um nível de improvisação ali, até o teatro mais experimental e de pesquisa. Na verdade, o livro é resultado da pesquisa de mestrado sob orientação do Jacó Guinsburg.MB:Eu nunca esperei publicar esse material. Aconteceu a partir da formalização do resultado. O Jacó achou que era importante e que ajudaria a refletir sobre o trabalho do ator. Porque o ator acaba sempre ficando de lado, se pesquisa sobre encenação e dramaturgia mas pouco se fala sobre o trabalho do ator. É sempre um mito ou uma cobaia. Na verdade, a questão do ator compositor não substitui a sensibilidade e a subjetividade, é impossível mas eu acho que busca lidar com aspectos que são concretos. É um material objetivo de reflexão sobre o trabalho do ator.Mesmo porque entre a reflexão a prática há uma distância muito grande.MB:É eu vejo o ator compositor enquanto alguém que se propõe a refletir a própria prática, sem intelectualizar “a priori” a própria prática. Uma outra questão que o livro se propõe a refletir é a questão da personagem. Se você observar a dramaturgia contemporânea, vai ver que não existe mais a proposta de uma fábula, personagens que têm uma unidade psicológica, não existe referência de tempo ou espaço. Na maioria das vezes são fluxos de discursos abertos. Como traduzir cenicamente isso e que tipo de ser ficcional é esse que não é um tipo e nem indivíduo. Então comecei a pensar que para construir este ser ficcional você precisa ser um ator compositor que compõe estes seres a partir de diferentes referências teatrais. Cada momento deste ser pode exigir uma referência diferente e a ação física é o eixo. Como você vê a questão da pesquisa para o ator no Brasil?MB:Cada vez mais as pessoas estão se dando conta que existe um campo de saber na arte. O trabalho do ator pode ser um objeto de conhecimento. Claro que a mídia ainda faz prevalecer o banal. Mas a realidade é aquilo que insiste, existem grupos de pesquisa que estão conseguindo conquistar um espaço como o LUME, o Teatro da Vertigem, o meu grupo, ARS Teatro com direção da Beth Lopes. Aos poucos vamos ganhando um certo espaço, num certo tipo de mídia e também verbas e patrocínios. Embora ainda seja pequeno perto de um grande espetáculo comercial. O problema é que não há um mercado no Brasil e poucas pessoas se propõe a pesquisar e entender o trabalho do ator. Existe por parte da maioria dos atores uma auto- piedade, uma postura de alguém que está esperando uma oportunidade. Aqui os

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