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A Classe Trabalhadora Vai Ao Paraiso.

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Por:   •  15/11/2013  •  1.954 Palavras (8 Páginas)  •  529 Visualizações

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Trabalho, consumo e sociedade

ritmo desumano de produção, na tentativa de ganhar um valor extra no salário referente a uma premiação por peça. O movimento sindical local está justamente em luta contra esse sistema de produção por peça, que representa um retrocesso em relação à remuneração por tempo de trabalho. Produtividade.

Temos aqui um exame clínico da condição do operário sob o capitalismo.

O operário-padrão, sem consciência de classe, acredita que o trabalho duro pode lhe dar os meios para melhorar de vida. Por acreditar nisso, persegue caninamente as metas traçadas pelos patrões. Mas o dinheiro nunca é o bastante para satisfazer a todas as necessidades.

O desgaste físico e mental impede que o trabalhador obtenha alguma fruição até mesmo dos objetos de consumo aos quais tem acesso.

devastação física do trabalho. em todos os sentidos, o trabalhador é um ser mutilado, um homem pela metade, um rebotalho esmagado e triturado diariamente pela rotina massacrante. Raiva,frustração, desânimo, sem saber como encontrar a solução para a existência auto-destrutiva em que vive.

Trata-se de uma solução que vai além da problemática de um único indivíduo, mas envolve a totalidade dos seres humanos submetidos ao capitalismo. Didaticamente, somos apresentados ao longo do filme aos quatro momentos da alienação descritos na análise clássica de Marx:

O homem se aliena dos resultados do seu trabalho, dos objetos sob a forma de mercadoria, da materialidade circundante em geral.

Na civilização burguesa é mais importante conservar os objetos do que satisfazer os seres humanos.

O homem se auto-aliena no processo de trabalho. O processo de trabalho não é a realização, mas a negação do homem. Aqui ele se sente objeto e não sujeito. O homem se torna um apêndice das máquinas. O operário-modelo Lulu escraviza-se ao ritmo repetitivo das máquinas, esforçando-se para cumprir cotas de produção e superar os demais operários. Ele haure motivação inserindo conotação sexual aos seus gestos. Trabalha repetindo para si mentalmente o refrão: “uma peça, um rabo, uma peça, um rabo, uma peça, um rabo”, desviando para a atividade de trabalho o desejo sexual por uma colega de trabalho.

O trabalho é uma atividade torturante que não tem significado em si, mas é necessário como meio de sobrevivência. O homem se desumaniza quando trabalha, pois torna-se máquina, animal de carga. O trabalho é sua tortura e não sua realização. O trabalhador se sente humano quando está fora do trabalho e não dentro dele. E no entanto, este “sentir-se humano” é um mero intervalo escapista no qual não são permitidas outras atividades criativas, nem sequer o sexo, pois o intervalo se destina apenas a repor as forças do animal-trabalhador para a jornada seguinte.

3. O homem se aliena em relação à finalidade do seu trabalho. O resultado do dia de trabalho de um operário é uma porção de objetos que lhe são estranhos, indiferentes. O operário é considerado louco porque não consegue ver o sentido humano daquilo que faz, o que torna o seu trabalho desumano. O velho Militina, ex-operário internado no manicômio, explica a Lulu que a sua loucura foi diagnosticada quando inquiriu da direção da fábrica o destino daquilo que produziu. Por que produziu parafusos durante a vida inteira? Para onde iam os parafusos? Qual seria o seu uso? Como continuar trabalhando sem saber o uso a ser dado ao produto do seu trabalho? Além de instigar essas interrogações no espectador, a visita de Lulu a Militina proporciona uma coleção de frases de efeito, que são um dos momentos altos do filme.

4. Sob o capitalismo, o operário deve se contentar em vender a sua força de trabalho ao capitalista e adquirir em troca a possibilidade do consumo, sem o direito de questionar para que trabalha e porque deve consumir o que lhe é oferecido. Ele tem um papel na sociedade, o qual lhe cabe cumprir servilmente. Não lhe é dado opinar, decidir, escolher, propor nada, visto que a administração da sociedade está totalmente fora de seu alcance, entregue a um mecanismo distante e impessoal. Lulu não sabe nem sequer quem é o proprietário da fábrica, a pessoa que dirige o empreendimento. Não há mais um capitalista empreendedor. Há uma sociedade de pessoas que participam em maior ou menor grau da propriedade capitalista. Uma sociedade de pessoas que se põem em relação ao dinheiro como meios para o fim da acumulação. Nessa medida, o capitalista é tão alienado quanto o trabalhador, embora a alienação tenha diferentes efeitos sobre cada um.

Nessa última dimensão do processo, o trabalhador acaba alienado de si mesmo como homem e dos outros homens. Para o capital, é indiferente a individualidade das pessoas de que se serve. Lulu encarna essa mentalidade quando não se interessa sequer pelo nome dos operários a quem dá treinamento. Só interessam ao capital como fonte de força de trabalho. O homem deixa de ser sujeito e de ter valor enquanto indivíduo, para ser mero repositório quantitativo de força de trabalho. O homem se torna estranho para outro homem e para si mesmo.

Essas quatro formas de alienação, naturalmente, se articulam e se sobrepõem simultaneamente. Para desvendar alguns desses traços de alienação peculiares à figura histórica do trabalhador assalariado, Lulu será vítima de um acidente de trabalho. No esforço de cumprir as cotas, sofre um acidente e perde um dedo, ficando incapacitado de trabalhar no mesmo ritmo. Sem a possibilidade de vender sua força de trabalho, o trabalhador perde aquilo que define o seu ser. Mas o aspecto humano do problema nunca é levado em consideração. O homem não interessa senão como máquina. O capital, interessado em restituir o mesmo nível de produtividade ao operário mutilado, manda-o ao psicólogo, encarregado de convencê-lo a voltar para a “normalidade”.

O incidente com Lulu é o ponto de partida para conflitos sindicais que culminam na demissão dele. Na condição de desempregado, Lulu encara a sua posição de indivíduo deformado pelo capital, vendedor de força de trabalho, consumidor de mercadorias, incapaz de corresponder à expectativa da família, dos companheiros de trabalho e do capital simultaneamente. Ele conscientiza-se da própria alienação, e paulatinamente se integra na atuação sindical, que culmina na sua readmissão ao emprego. Mas ele não é mais o mesmo operário modelo e não tem mais as mesmas ilusões de realização dentro do consumismo.

Ele aprende que é preciso derrubar um “muro”, metáfora das condições sociais

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