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A POÉTICA E A POLÍTICA DO CURRÍCULO COMO REPRESENTAÇÃO

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Por:   •  25/7/2014  •  5.427 Palavras (22 Páginas)  •  267 Visualizações

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A POÉTICA E A POLÍTICA DO CURRÍCULO COMO REPRESENTAÇÃO

Tomaz Tadeu da Silva

Fala-se muito, hoje, de uma suposta “crise da representação”. Essa expressão condensa a idéia mais ampla de uma fissura, de uma instabilidade, de uma incerteza, no centro mesmo das epistemologias que uma vez regeram, com tanta segurança, os projetos de domínio da natureza, do mundo e da sociedade. No contexto da chamada “virada lingüística”, epistemologia tem a ver, fundamentalmente, com representação: com a relação entre, de um lado, o “real” e a “realidade” e, de outro, as formas pelas quais esse “real” e essa “realidade” se tornam “presentes” para nós – re-presentados. Na perspectiva pós-estruturalista, conhecer e representar são processos inseparáveis. A representação – compreendida aqui como inscrição, marca, traço, significante e não como processo mental – é a face material, visível, palpável, do conhecimento. A “crise” de legitimação que está no centro das nossas formas de conhecer o mundo está, pois, indissoluvelmente ligada à “crise” no estatuto da representação – nossas formas de representar o mundo.

Há quem, como Baudrillard (1991), por exemplo, faça uma afirmação mais radical: não se trata simplesmente de uma crise, mas de uma verdadeira implosão da representação. Enquanto uns proclamam o fim da representação, entretanto, outros reivindicam o direito à representação. Os questionamentos lançados às epistemologias canônicas, às estéticas dominantes, aos códigos culturais oficiais partem precisamente de grupos sociais que não se vêem aí representados. Há uma revolta das identidades culturais e sociais subjugadas contra os regimes dominantes de representação. É essa revolta que caracteriza a chamada “política de identidade”. Os “universais” da cultura são sistemas de significação cuja pretensão consiste em expressar o humano e o social em sua totalidade. Eles são, entretanto, sempre e inevitavelmente, sistemas de representação: construções sociais e discursivas parciais e particulares dos grupos que estão em posição de dirigir o processo de representação. A “política de identidade” se situa, pois, na interseção entre representação – como forma de conhecimento – e poder.

Representação e significação

A representação é um sistema de significação. Utilizando os termos da lingüística estruturalista, isso quer dizer: na representação está envolvida uma relação entre um significado (conceito, idéia) e um significante (uma inscrição, uma marca material: som, letra, imagem, sinais manuais). O processo de significação é fundamentalmente social. A semiótica – como prática de descrição e análise da significação – está preocupada com aqueles objetos que resultam de um processo de construção social, isto é, precisamente aqueles objetos que, na formulação de Saussure, podem ser caracterizados pela relação “significante/significado” – signos.

Como sabemos, Saussure, tendo como foco a língua, destacou o caráter arbitrário do signo. Não existe nenhuma relação intrínseca, “natural”, entre significante e significado: um significante determinado deve sua forma e sua conexão com um determinado significado exclusivamente à convenção social. Na ausência desse vínculo “natural”, um determinado signo só se destaca em sua singularidade e identidade por ser diferente de outros signos numa cadeia de significação. Aquilo que um signo é só fica estabelecido nessa cadeia de diferenças. Sua identidade é sempre dependente da diferença.

A semiótica pós-saussureana, ao ampliar o terreno da significação para signos que extrapolam o domínio da língua, vai se preocupar com signos nos quais a relação entre significante e significado não é puramente arbitrária, como, por exemplo, na fotografia e em outros tipos de imagem (sistemas analógicos de significação).

Nessa ampliação do processo de significação, a semiótica estruturalista acabou por caracterizar de forma talvez demasiadamente rígida e fechada os processos e as práticas de significação. Ao descrever e analisar os códigos, as convenções, as estilísticas, os artifícios, as estruturas que dirigem as práticas de significação, destacando o pólo da produção de sistemas de significação como a literatura, publicidade, a moda, o cinema, a fotografia, a televisão, a semiótica pós-saussureana limitou e estreitou o alcance da significação, tornando-a refém dos artifícios de sua construção e produção.

O próprio Barthes, que contribuíra, de certa forma, na sua fase estruturalista, para esse fechamento, vai antecipar, na última fase de sua obra, a perspectiva pós-estruturalista na qual a significação iria se tornar mais incerta, mais instável e mais aberta. Embora ele tivesse limitado a concessão desse caráter aberto a certas e raras obras literárias, chamando-as de “escrevíveis”, em oposição àquelas que são apenas “legíveis”, Barthes rompia aqui com alguns dos pressupostos estruturalistas que davam à significação seu caráter rígido, fechado, determinado, definitivo. Com o conceito de “escrevível”, Barthes abria a significação para a produtividade.

Por sua abertura e indeterminação, o texto escrevível permite que o leitor se torne um produtor. O texto apenas “legível”, em contraste, não permite mais do que a leitura: uma leitura. O texto legível não pode ser “escrito”, mas tão-somente “lido”. Para Barthes, o texto legível fica limitado ao domínio da representação, aqui entendida, restritamente, como simples mimese, imitação, reflexo, reprodução. Barthes se refere aqui, evidentemente, aos textos literários clássicos chamados de “realistas”. O princípio básico de construção desses textos é o de uma relação não-mediada com a “realidade”. Eles funcionam para produzir o “efeito de realidade”, fazendo o leitor esquecer os códigos e artifícios de representação pelos quais a “realidade” transmuta-se em “significado/significante”. O texto realista “esconde” essa passagem: nisso consiste seu truque.

Caberia a Derrida, entretanto, efetuar uma das transformações mais radicais na caracterização do processo de significação. Derrida iria expurgar definitivamente da formulação saussureana de signo qualquer traço de separação entre “significado” e “significante”. O “significado” não existe como entidade mental separada, anterior

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