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A QUESTÃO DO MÉTODO EM MARX E LUKÁCS: O Desafio Da Reprodução Ideal De Um Processo Real

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Por:   •  3/5/2013  •  5.148 Palavras (21 Páginas)  •  1.084 Visualizações

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A QUESTÃO DO MÉTODO EM MARX E LUKÁCS:

o desafio da reprodução ideal de um processo real

Liana Brito

1. Introdução.

Como conhecemos? Como nos é possível pensar o movimento do real? Que elementos constituem a base para o conhecimento científico? Na busca de respostas para essas questões, encontramos hoje encaminhamentos diversos.

A chamada crise dos paradigmas das ciências sociais, que perpassa o debate sobre o conhecimento, enfatiza a problemática da relação entre subjetividade e objetividade e as diversas formas de aborda-la. Marcada pela presença do sujeito (homem que conhece) e do objeto (o real a ser conhecido), essas abordagens ora se centram na figura do sujeito, numa perspectiva racionalista, idealista, subjetivista, relativista, e ora se centra no objeto-factual, numa visão empirista, naturalista, materialista.

Diante da problemática posta pela crise dos paradigmas hoje, pretendemos nesse trabalho, defender a atualidade do método em Marx, pois acreditamos que se trata de um terceiro caminho, que supera o dualismo entre sujeito e objeto na construção do conhecimento. O que está subjacente nesse debate é, de fato, a questão da relação entre a consciência e a realidade objetiva, a qual tomaremos como ponto básico da nossa exposição. Para isso pretendemos responder às questões: como reproduzir idealmente um processo real? Quais as implicações desse processo para a práxis humana, para a práxis educativa?

Nosso objetivo é abordar a relação subjetividade/objetividade a partir da proposta marxiana. Para tanto, apresentamos os pressupostos básicos presentes no texto "O Método da Economia Política" (Marx,1997), em que Marx anuncia seu percurso, constituindo assim um método para apreensão e conhecimento da realidade. O método é entendido como um instrumento de mediação entre o homem que quer conhecer e o objeto desconhecido, como uma parte do real a ser investigado. Para Lukács, o método não é critério de verdade (Lessa, 2001 a), o critério de verdade encontra-se na própria objetividade do real.

2. Em busca dos pressupostos marxianos: a relação trabalho/conhecimento e suas categorias ontológicas.

O homem como ser natural, tem necessidades básicas materiais como qualquer ser vivo. A satisfação de suas necessidades será mediada pelas condições objetivas dadas pelo mundo concreto e pela sua ação de buscar, na natureza, elementos que satisfaçam suas necessidades. O homem é um “ser natural ativo” (Markus, 1974: 8) que através da sua atividade vital apropria-se das riquezas naturais, de suas causalidades, onde suas ações estão orientadas por uma intencionalidade, por isso é um ser teleológico. O trabalho permite ao homem ir para além de suas necessidades imediatas. Diferencia-se da atividade dos outros animais, marcada pela imediaticidade da satisfação das necessidades de cada espécie (portanto estão submetidos aos determinantes da natureza), O trabalho, como ação mediada pela teleologia e causalidade, é uma atividade criadora, que tem uma exterioridade objetivada. O resultado dessa ação humana se torna concreto e externo àquele que a criou, isto é, constitui-se como um novo elemento das causalidades postas a serem incorporadas pelas atividades futuras. Temos aí, portanto, a retroação sobre o próprio ser social, de toda objetivação humana.

As objetivações humanas passam a se constituir como forças essenciais (habilidades humanas), e como elementos externos de mediação da sua práxis. Novas necessidades vão surgindo constituindo o próprio movimento da vida social. Segundo Lukács (1976; Lessa, s/d;61) “o trabalho - já como ato do indivíduo- é por sua essência, social: no homem que trabalha se realiza a sua auto-generalização social, a elevação objetiva do homem particular à generalidade”. O resultado de sua ação passa a ser incorporado à vida dos outros homens, do ser social (gênero humano).

Ao se evidenciarem as categorias ontológicas do trabalho: teleologia, causalidade, objetivação/exteriorização, não podemos deixar de considerar que, imbricado nesse processo de relação do fazer-se humano, está o conhecimento. Este é resultado da atividade dos homens no mundo, movidos por necessidades objetivas. No seu intercâmbio com a natureza, os homens buscam a satisfação de suas necessidades. O trabalho exige, daquele que o realiza, um certo domínio das causalidades postas e dadas pelo real, o que representa um certo grau de conhecimento das condições objetivas da natureza. Esse conhecimento, apropriado pelo sujeito, passa a ser incorporado à vida e servirá de base para outras atividades. Ao agir sobre o mundo os homens vão conhecendo-o, transformando-o e, ao mesmo tempo, vão se transformando. Assim, a vida social vai se efetuando como processo histórico – construído, e não dado imediato pela imposição da natureza.

Encontramos nesse movimento de efetivação da vida humana o primeiro pressuposto apresentado por Marx: o da historicidade. O homem como sujeito é real, vive numa realidade objetiva concreta, material, e tem sua historicidade, é processual- construída, objetivada. O objeto do conhecimento é a realidade do sujeito, é o espaço material no qual está inserido. Além de estar inserido em dada realidade, esta é construída pelos próprios homens, não por suas vontades individuais, mas a partir das condições materiais que lhe são postas pela natureza, pelas conquistas e transformações anteriormente objetivadas e acumuladas, pelas suas necessidades e pelas novas relações que vão estabelecendo com o mundo e com os outros homens (Marx, 1987).

A realidade constitui-se um objeto histórico, em construção, e ao mesmo tempo concreto, que existe independente do sujeito que a conhece, e pretende conhecer exatamente porque o real, como pressuposto de sua própria existência, se mostra ao sujeito de forma complexa, confusa, caótica (Marx, 1991).

Temos então a tese de que o conhecimento não é fruto apenas da subjetividade do sujeito, mas é resultado do fato de este sujeito estar em um mundo no qual a sua relação com ele não ocorre pela imediaticidade. Portanto, historicidade e totalidade são duas categorias básicas do método em Marx. O homem age sobre o mundo objetivo e o transforma em um mundo humanizado, que retroage sobre ele mesmo, ele está sempre modificando-o e se modificando, num processo permanente de criação e superação de novas necessidades. Aqui nos deparamos com uma grande desafio: Se a realidade humana é histórica, e o movimento do real é, na sua essência, resultado da práxis social

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