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Ciencias Sociais

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Por:   •  7/10/2013  •  4.526 Palavras (19 Páginas)  •  185 Visualizações

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As ciências naturais assumiram uma autoridade inigualável nas culturas ocidentais nos últimos séculos. Os questionamentos das bases dessa autoridade cognitiva proliferaram a partir da segunda metade do século XX nos estudos históricos, sociológicos, filosóficos, nas críticas de teóricas feministas, mas não mobilizaram de forma mais densa e articulada os estudos de gênero em História das Ciências no país. Diferentemente de outras áreas das ciências humanas – em História das Ciências, no Brasil, apesar de iniciativas anteriores, só muito recentemente gênero começou a ser incorporado de forma mais ampla como uma perspectiva de abordagem teórica e possível linha de pesquisa sancionada institucionalmente.1

Nas Histórias das Ciências elaboradas no mundo norte-atlântico, gênero foi construído enfrentando entre inúmeros aspectos, a questão de que as atividades das mulheres diferentemente das atividades dos homens, permaneceram e têm permanecido fora das análises do mainstream das culturas ocidentais. Nos últimos 30 anos as reflexões em torno da sub-representação das mulheres nas ciências ou mesmo, em determinados contextos específicos, sua exclusão das práticas e instituições científicas, ganharam enorme consistência teórica e empírica, através das discussões de como gênero tem sido um fator significativo na estruturação das instituições e práticas científicas e como as hierarquias de gênero têm direcionado pesquisas e moldado prioridades e teorias científicas. (Schiebinger, 2003)

Tais estudos têm explicitado que a exclusão não significa, necessariamente, que essas atividades não ocorreram, não foram importantes, ou particularmente, não foram ciências. (Ginzberg, 1989) A exclusão das mulheres das diferentes abordagens sobre as práticas científicas em momentos da História, apenas significa que as mulheres e as atuais perspectivas de gênero não mereceram – como muitos homens e outras abordagens analíticas2 – a atenção devida dos integrantes das culturas hegemônicas das mais diferentes áreas disciplinares.

Apesar de inúmeros avanços, particularmente no que se refere ao reconhecimento das especificidades e localidades da produção de conhecimentos científicos, gênero – como um conceito historicamente datado – permanece de difícil assimilação no campo da História das ciências no Brasil. É, no entanto um conceito que poderia ser entendido a partir de um paralelo com o conceito de paradigma. Se sujeitássemos boa parte dos textos das teóricas feministas ao escrutínio que Margaret Masterman (1979)3 fez do livro de Kunh (1962), talvez chegássemos até mesmo a um total maior para a quantidade de possíveis empregos do termo em cada texto.

Suas múltiplas abordagens e imprecisões o tornam útil, particularmente após o fantástico aumento dos estudos de gênero das últimas décadas, que foram acompanhados de uma certa perda de definição. Gênero como um conceito multifacetado, tem quase uma existência orgânica para Ludmilla Jordanova. Alterna camadas de significados, do mesmo modo como os estratos geológicos que se superpõem, são erodidos, destruídos pelo tempo e novamente depositados em processos diagenéticos não necessariamente, calmos. O conceito inevitavelmente apoiado em uma maneira dual de pensar permite identificar a persistência desse dualismo engendrado, por longos períodos de tempo, enquanto sua história – recente – alerta de que não se trata de mais um conceito necessariamente universal e atemporal. (Jordanova, 1999:7-9) Como um conceito relacional, implicando que atributos masculinos e femininos sejam definidos um em relação ao outro, pressuporia também que termos como sexual, feminino, masculino não fossem tomados como auto-evidentes, mas sim também considerados em sua historicidade. (Jordanova, 1989) Como Ludmilla Jordanova ainda nos lembra, gênero é um tópico sedutor e importante, mas também um conceito extremamente difícil de ser trabalhado.

Essas dificuldades se entrelaçam a aspectos da própria história da construção do conceito de gênero. Relacionam-se muito mais ao não questionamento das idéias de universalidade, neutralidade e objetividade das ciências, que permanecem ainda amplamente referendadas (mesmo entre teóricas feministas, estudiosos de gênero e muitos historiadores das ciências), do que à não operatividade do conceito para a construção de historicidades locais. Sua maior assimilação no país, nos estudos de caráter cientométrico, restringindo muitas vezes o conceito a uma variável empírica – acompanhando o que muitas vezes se faz com raça/etnia, classe, religião –, embora tenha total relevância, é em muitos casos mais uma evidência dessas dificuldades.

Gênero e Ciências

Os termos conjugados gender and science apareceram pela primeira vez em 1978, como o título de um artigo em que Evelyn Fox Keller (1978), considerava as relações entre subjetividade e o que ela definia como "objetividade dinâmica", por oposição à "objetividade estática". A partir de uma argumentação psicanalítica, a autora identificava uma "associação historicamente onipresente" entre masculino e objetivo, caracterizada por ter simultaneamente um "ar de auto-evidente" no âmbito do conhecimento comum e por "não ter sentido" no âmbito do conhecimento científico. O silêncio virtual sobre o tema lhe sugeria que a associação entre masculinidade e pensamento científico, possuía status de um mito que ou não podia ou não devia ser investigado a sério, uma vez que entrava em conflito com nossa imagem da ciência sexual e emocionalmente neutra. Considerando o conceito de objetividade como a busca de um entendimento do mundo que nos rodeia, como o mais autêntico possível, e por isso o mais fiável possível, Fox Keller considerava que a objetividade dinâmica era a busca de conhecimento que fizesse uso da experiência subjetiva em interesse de uma objetividade mais efetiva, em oposição à objetividade estática, que se caracterizaria pela busca de conhecimento que se inicia pela separação entre sujeito e objeto, sem tentar desvendar as intrincadas uniões que se produzem entre um e outro.

Na década de 1990, referindo-se à origem, história e política do tema, que rapidamente ganhou dimensões internacionais, a autora considerava que gender and science havia se tornado cada vez mais problemático. Evelyn Fox Keller (1992, 1995) referia-se a três linhas de investigação: mulheres na ciência, construções científicas de gênero e influência do gênero nas construções históricas da ciência. Revisando a expansão das pesquisas, cursos, textos sob essa denominação, a autora, admitindo que o campo já havia proliferado profusamente

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