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Ciência e poder: crítica ao Positivismo na obra “O Alienista”, de Machado de Assis

Por:   •  22/4/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.709 Palavras (11 Páginas)  •  1.056 Visualizações

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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação Thiago Asperti Mendes Ciência e poder: crítica ao Positivismo na obra “O Alienista”, de Machado de Assis São Paulo 2015 Thiago Asperti Mendes Ciência e poder: crítica ao Positivismo na obra “O Alienista”, de Machado de Assis Trabalho temático apresentado para as disciplinas do 1° semestre do curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação. São Paulo 2015 Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. Machado de Assis RESUMO No final do século XIX o Brasil passava por grandes mudanças na política, e o positivismo desempenhou um papel central no processo de Proclamação da República no Brasil, na criação da bandeira Nacional e em muitos outros assuntos da época. Machado de Assis se colocou contra o positivismo e seus ideais científicos. Buscamos identificar na obra "O Alienista" críticas ao positivismo. Para atingir tal objetivo, explicamos a relação de Simão Bacamarte com a ciência, a influência do positivismo no século XIX, a ideias de Machado frente a essa filosofia e finalmente chegamos as críticas ao positivismo na Obra. RÉSUMÉ Dans la fin du XIXe siècle, le Brésil était subir des changements majeurs dans la politique , et le positivisme a joué un rôle central dans le processus de la République Proclamation au Brésil , la création du drapeau national et de nombreuses autres questions de l'heure . Machado de Assis a été placée contre le positivisme et son idéal scientifique . Nous cherchons à identifier dans le livre " Le psychiatre " positivisme critique. Pour atteindre cet objectif , nous avons expliqué à Simon Bacamarte relation avec la science , l'influence du positivisme du XIXe siècle , Machado transmettre des idées à cette philosophie et a finalement obtenu la critique du positivisme dans le travail . SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................6 2 SIMÃO BACAMARTE E O “PODER DA CIÊNCIA”..................................................7 3 O POSITIVISMO NO BRASIL NO FINAL DO SEC. XIX............................................9 3.1 MACHADO DE ASSIS E O POSITIVISMO............................................................10 4 A SUTILEZA IRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS..................................................12 4.1 "PLUS ULTRA!"......................................................................................................12 5 CONCLUSÃO...........................................................................................................15 REFERÊNCIAS...........................................................................................................16 6 1 INTRODUÇÃO No final do século XIX o Brasil passava por grandes mudanças na política, e o positivismo desempenhou um papel central no processo de Proclamação da República no Brasil, na criação da bandeira Nacional e em muitos outros assuntos da época. Machado de Assis faz diversas críticas ao movimento positivista em seus folhetos e em algumas de suas obras. Neste contexto analisou-se a obra “O alienista” para identificar essa crítica. O objetivo deste trabalho é demonstrar que por trás da loucura tratada no livro. Machado de Assis, de forma irônica e sutil faz uma critica aos positivistas que se achavam acima do bem e do mal e a sociedade que se deixava levar por essas “verdades”. Para atingir tal objetivo, usamos como fontes de pesquisa artigos e teses que também buscaram identificar críticas ao positivismo na Obra. Explicamos a relação de Simão Bacamarte com a ciência, a influência do positivismo no século XIX, a ideias de Machado frente a essa filosofia e finalmente chegamos as críticas ao positivismo na Obra. 7 2 SIMÃO BACAMARTE E O “PODER DA CIÊNCIA” “A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único[...]” (ASSIS, 2014, p.13). Machado já nos mostra na primeira pagina da obra, o amor e dedicação de Simão Bacamarte pela ciência.Em seguida Bacamarte usa a ciência para escolher sua esposa, mesmo D. Evarista não sendo “bonita nem simpática”, “reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes” (ASSIS, 2014, p.14). Simão Bacamarte decide usar a ciência para desvendar os mistérios da mente humana, para ele só a ciência pode explicar algo tão complexo, "A ciência é a ciência" afirma Bacamarte colocando a ciência acima do bem e do mal, com isso ele adquiriu “imunidade” para colocar na Casa Verde quem a “ciência” determinasse louco, até mesmo o próprio Simão. Podemos notar que Simão faz uso explicito do terceiro estágio da “Lei dos três estados” de Auguste Comte, onde diz que “tudo é explicado por pesquisas científicas sobre evidências concretas que levam a leis científicas”, Simão passa a subordinar a loucura à observação e experimentação. A rotina de Itaguaí mudou completamente com a intervenção da “ciência” e suas “verdades” “O terror acentuou-se. Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido. (...)” (ASSIS, 2014, p.44). Bacamarte conseguia persuadir todos com o seu “saber”. A população de Itaguaí se deixou manipular pelas “verdades da ciência”, pois essas verdades vinham da pessoa que tinha o conhecimento científico. “Meus senhores, a ciência é coisa séria, e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus.“ “[...]o que não farei a leigos, nem a rebeldes.”(ASSIS, 2014, p.53). Roberto Gomes define este discurso como perfeito exemplo do poder e da imunidade da ciência: 8 É difícil encontrarmos discurso mais perfeito sobre as imunidades e privilégios que a ciência a si mesmo concede, ancorada nas instituições que falam em seu nome. O único tribunal do cientista são mestres (igualmente cientistas, é claro) e Deus (que não costuma interferir em polêmicas deste tipo). Dar razão de seu sistema seria negar-se; e isso é fácil entender: o poder decorrente do saber científico não é um anexo que lhe seja acrescentado em certas condições; tal poder está no interior mesmo da concepção e do projeto científico.(GOMES, Roberto. Tempo social. São Paulo: USP, v.5, n.1-2, p.158, 1993.). 9 3 O POSITIVISMO NO BRASIL NO FINAL DO SEC. XIX As ideias positivistas chegaram com força ao Brasil no Segundo Reinado, por volta de 1850, brasileiros que estudaram da França, alguns inclusive alunos de Auguste Comte que as trouxeram. Porem a filosofia Comteana só ganhou força quando apareceu nas Universidades como a Escola Militar e Politécnica do Rio de Janeiro. O Brasil passava por diversas mudanças políticas, culturais, econômicas e sociais, e é neste momento, cujo o país carecia de uma filosofia para nortear seus próximos passos, aparece com força os ideais de Comte, com o propósito de mudar a vida política e social, agora constituída sobre a nova religião da ciência positiva e não mais na tradicional. Os intelectuais encontraram no positivismo a forma de se libertarem dos poderes do Imperador e de "Deus", o poder passava para as mãos de quem tinha o conhecimento cientifico. Em suma, o espírito positivo, segundo Comte, instaura as ciências como investigação do real, do certo e indubitável, do precisamente determinado e do útil. Nos domínios do social e do político, o estágio positivo do espírito humano marcaria a passagem do poder espiritual para as mãos dos sábios e cientistas e do poder material para o controle dos industriais. (COMTE, Auguste. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultura, p.XII 1983). Um dos marcos do surgimento do positivismo no Brasil foi a publicação da obra “As três filosofias” de Luís Pereira Barreto, como aponta o Autor (GIANNOTTI, 1983, p. XIV) "O passo mais importante do positivismo no Brasil foi dado por Luís Pereira Barreto (1840-1923), com a obra As Três Filosofias, na qual a filosofia positivista era apontada como capaz de substituir o poder intelectual exercida pela Igreja Católica." Com isso o positivismo não parava de ganhar adeptos, pessoas importantes como intelectuais, professores, militares e políticos. Auguste conte pregava que os ensinamentos do positivismo deveriam ser passados a todos, principalmente 10 às camadas mais pobres, mas isso não foi possível no Brasil devido o baixo nível de instrução de grande parte da população. O positivismo teve importante participação nos principais acontecimentos do final do século XIX, dentre eles podemos destacar a abolição da escravatura, a proclamação da República e a criação da bandeira nacional, que foi inspirada no princípio positivista: "O amor por princípio, ordem por base e o progresso por fim". 3.1 MACHADO DE ASSIS E O POSITIVISMO A literatura brasileira também passava por mudanças, e o Realismo chega com força ao país.Um fato curioso é que “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis é considerado como um marco do Realismo no Brasil, porem o realismo tem muita influencia de Filosofias que Machado defrontava, uma delas é o Positivismo. A produção literária do Realismo, apresenta características herdadas pelos princípios do positivismo como: objetividade no compromisso com a verdade e reprodução da realidade observada. Para os realistas, assim como para Comte, o mundo é compreensível e, portanto, explicável. (SILVA, Edilza 2009, p.56) Por meio das obras analisadas, acredita-se que Machado não pode ser colocado como Realista, ele estava muito a frente de seu tempo, ele tinha um estilo próprio, Machado constituiu “um mundo à parte, um estilo composto de técnicas precisas e eficazes” (COUTINHO, 2004, v.3, p.138. apud SILVA, Edilza 2009, p.55). Como citado anteriormente, o positivismo via na ciência a explicação para os males e mistérios do mundo, e apesar de pouco abordado por autores, Machado não simpatizava com a ciência muito menos com intelectuais positivistas. 11 É nesse contexto que analisa-se a obra “O alienista” de Machado de Assis, enquanto escritores de sua época deslumbravam-se com a moda cientifica, Machado usou sua ironia para criticar o positivismo e a pretensão de seus adeptos de se colocarem acima do bem e do mal. 12 4 A SUTILEZA IRONICA DE MACHADO DE ASSIS A ironia é marca registrada das obras do Machado de Assis, tanto que ganhou um termo entre pesquisadores literários, a “ironia machadiana”. Machado com seu humor inteligente e irônico fazia criticas pesadas ao comportamento da sociedade brasileira, que em sua grande maioria não as entendiam devido à sutileza com que ele usava essa Ironia. Muitos leitores eram criticados sem saber que faziam parte daquele contexto. Machado esteve tão à frente de seu tempo que até hoje é difícil definir a “ironia machadiana”. Miguel Reale diz que: Montaigne e Renan,a bem ver,não transfundem ceticismo a Machado de Assis,mas o ensinam a dourar de ironia o seu pessimismo: a lei machadiana da “equivalência das janelas” não significa a suspensão dubitativa do juízo entre alternativas todas inverificáveis,mas implica antes a compensação relativa que a vida humana pode nos oferecer graças à contingência de termos de renunciar a um bem almejado,contentando-nos,em troca,com algo que se lhe assemelhe. De certo modo,superase o ceticismo quando se aceita,embora com amargura ou contido protesto,o “resto” que nos lega a vida. Talvez resida aí, bem distinto do humour inglês,a ironia machadiana,na qual talvez se oculte a capacidade brasileira de dar-se um jeito, quand-même*,os tropeços da existência. (REALE, 1982, p.12) E é usando toda sua ironia que Machado de Assis nos leva a “Vila de Itaguaí”, “em tempos remotos”, já usando a distância do narrador para os fatos como ironia. 4.1 "PLUS ULTRA!" Após passarmos pelo contexto histórico para entendermos os motivos de Machado de Assis e como ele usava seu humor e ironia com sutileza para que o leitor se perdesse nas críticas sem saber que estava sendo criticado, 13 chegamos ao ponto chave de nossas pesquisas, como diria Bacamarte, “PLUS ULTRA”. Machado usa como pano de fundo a loucura, apesar de parecer, esse não é seu tema central, Machado usa a loucura pra satirizar o homem da ciência, aos positivistas que como Bacamarte, achavam que poderiam encontrar a resposta para tudo usando a ciência. Machado nos coloca frente à ciência e seu poder, que poder é esse? Como pode homens se colocarem acima de Deus? Comte via na ciência uma forma de colocar ordem no mundo, o que nos leva a Bacamarte, um homem frio e calculista, não se rende as paixões, “A ciência é seu único emprego”, logo no inicio, Machado já nos mostra que a ciência falha, “D. Evarista mentiu às esperanças do DR. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos.”(ASSIS, 2014, p.14), mas a ciência precisa de tempo para agir, e “nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco..”(ASSIS, 2014, p.14), e mesmo depois de esperar e fazer diversas pesquisas, a ciência falha e com isso vem a “extinção da dinastia dos Bacamartes” nas primeiras paginas Machado já deixa seu cartão de visitas, mas sua ironia não o deixaria parar por ai, e novamente mergulhamos na ciência, “Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas”.”(ASSIS, 2014, p.14). Simão Bacamarte mergulha em um campo pouco explorado, a mente humana, algo tão complexo que só a ciência pode explicar. Machado nos mostra como a ciência pode ser contraditória. Bacamarte não consegue chegar a uma conclusão e muda seu foco de pesquisa, a ciência nunca está errada, ela é uma "investigação constante" e quando nenhum de seus estudos chega ao "remédio universal para a loucura" Bacamarte se tranca na casa verde, a ciência não poderia estar errada, "A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. "(ASSIS, 2014, p.87) "Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos[...]" (p.87). Não poderia ser diferente vindo do nosso Machado, coloca os ideais positivistas em cheque, segundo GOMES: 14 Trata-se de um ardil, é claro. A ciência é investigação constante, ele repete. Este homem não cede à loucura senão para melhor submetê-la ao domínio possível da ciência. Ardil enlouquecido, no entanto: atrai para si o malefício que irá afrontar. Quando todas as experiências falharam, quando todas as teorias foram refutadas, lança o último golpe - “plus ultra!” exclama - e se converte em sujeito e objeto, trancafiando-se em definitivo na Casa Verde. Só assim o ideal científico de unificação entre sujeito e objeto poderá se realizar: Simão Bacamarte é a ciência e aquilo sobre o que a ciência falará. Realização vivaz e irônica da imagem positivista: estar à janela e ver-se passando na rua. (GOMES, Roberto. Tempo social. São Paulo: USP, v.5, n.1-2, p.151, 1993). Machado ironicamente nos mostra que ciência é incapaz de desvendar os mistérios da mente humana e da sociedade, que os ideais positivistas não podem resolver os problemas da sociedade brasileira, nada é absoluto, muito menos a ciência. 15 5 CONCLUSÃO Através do material de pesquisa, podemos concluir que Machado de Assis com sua ironia costumeira usou a obra "O alienista" para criticar os ideais de Augusto Comte, que cresciam e ganhavam força no Brasil. Machado não entrou no modismo de sua época, inclusive teve atritos com alguns intelectuais, que acreditavam que encontrariam na ciência a resposta para tudo e que o conhecimento científico lhes dava imunidade e os colocavam acima do bem e do mal. Concluímos também que Machado de Assis estava muito alem de seu tempo e sutilmente crítica a mesquinharia da sociedade brasileira, sociedade essa que mesmo lendo a obra não tinha noção de que estava sendo criticada. 16 REFERÊNCIA ASSIS, Machado. O alienista. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2014. BARROS, Roque Spencer Maciel de Barros. O papel de Pereira Barreto na evolução do positivismo brasileiro. A evolução do pensamento de Pereira Barreto. São Paulo: USP, p.33-66, 1967. BRANDÃO, Ana Rute Pinto. A postura do positivismo com relação às ciências humanas. Theoria - Revista Eletrônica de Filosofia. Revista eletrônica: http://www.theoria.com.br/edicao0611/a_postura_do_positivismo.pdf COMTE, Auguste. Curso de Filosofia positiva; Discurso sobre o espírito positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1983. COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. São Paulo: Global, 7.ed 2004 apud SILVA, Edilza, 2009 GIANNOTTI, José Arthur. Prefácio de COMTE: vida e obra. Os Pensadores São Paulo: Abril Cultura, 1983. GOMES, Roberto. O alienista: loucura, poder e ciência. Tempo social. São Paulo: USP, v.5, n.1-2, p.145-160, 1993. PAIM, Antonio. História das ideias filosóficas no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1967. REALE, Miguel. A filosofia na obra de Machado de Assis: "antologia filosófica de Machado de Assis" . São Paulo: Pioneira, 1982 SILVA, Antonio Ozaída. O Alienista: Literatura, Ciência e Poder. Espaço Acadêmico, n.72, maio 2007. http://www.espacoacademico.com.br/072/72ozai.htm SILVA, Edilza Maria. Aspectos do positivismo em Machado de Assis. São Paulo: PUC 2009. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp116826.pdf 17 SITES http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/quefoipositivismo.html

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