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Crack No Brasil

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Por:   •  15/6/2014  •  5.393 Palavras (22 Páginas)  •  292 Visualizações

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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

JÔSE SILVA PEREIRA

O USO DO CRACK

m problema social restrito as metrópoles?

Coxim - MS

2012

JÔSE SILVA PEREIRA

O USO DO CRACK

Um problema social restrito as metrópoles?

Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, para as disciplinas de Psicologia Geral, Antropologia, Formação Social, Política Econômica da Brasil e FHTM do Serviço Social I.

Prof.ª Lisnéia Rampozzo

Prof.ª Giane Albiazzetti

Prof.º Cleiton Lima

Prof.ª Rosane Malvezzi

Coxim - MS

2012

SUMÁRIO

Resumo. ...................................................................................................... 04

1. Introdução. ............................................................................................. 05

2. Desenvolvimento. .................................................................................. 06

2.1 Uso do crack em nossa sociedade. ................................................... 06

2.2 Drogadição e o trabalho do Serviço Social. ....................................... 09

2.3 Urbanização X População. ................................................................ 10

2.4 A exclusão na expansão urbana no Brasil. ....................................... 11

2.5 Reformas realizadas por Pereira Passos. ......................................... 14

2.6 Conseqüências emocionais e afetivas do dependente químico e seus familiares. ........................................................................................ 16

2.7 Papel da família na estruturação emocional do dependente. ........... 18

3. Conclusão. ............................................................................................. 20

Referências. ............................................................................................... 22

Glossário. ................................................................................................... 24

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar através de leituras específicas, como o uso do crack está espalhado em todo território nacional, não apenas inserido nas grandes metrópoles, como temos em mente, mas também em pequenas cidades.

Analisando alguns dados estatísticos, podemos verificamos que as drogas já estão presentes no dia a dia das pequenas cidades; onde antes reinava a calmaria e a tranqüilidade, hoje já se tem a preocupação com problemas acarretados por dependentes, como pequenos furtos e pequenos delitos.

Segundo pesquisa realizada em 325 municípios paulistas em novembro de 2011, realizado pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas da Assembléia Legislativa de São Paulo (ALESP), em 31% das respostas, foi apontado que “O crack está entre as drogas mais presentes nas cidades, o álcool esteve em 49% das respostas”.

Vimos também que o uso desta droga, expande-se cada vez mais entre pessoas de baixa renda, baixa escolaridade e dependentes do álcool; este último por sua vez, dependendo do grau de dependência do álcool, serve de porta de entrada para associação com outras drogas como o crack e cocaína.

Podemos verificar também que o uso do crack já se tornou uma epidemia nacional, e que para combatê-lo não basta intervenção do poder público através tão somente do emprego de polícia. O plausível seria realizar um conjunto de medidas por parte do poder público, agindo não somente no combate ao traficante que oferece a droga; mas também com políticas públicas na área de saúde, na área social, na reeducação da sociedade de como agir de forma apropriada para com o dependente e sua família, tratando estes problemas como doença e não somente como delinqüência ou crime.

O crack é uma realidade cada vez mais presente em nossa sociedade, alastra-se como um rastilho de pólvora e invade nossos lares direta ou indiretamente, sem pedir licença.

Existem publicações bem interessantes, escritas por pessoas especializadas, geralmente ligadas a Universidades, ONGs, Fundações e Grupos de Apoio a Dependentes. Muito destes especialistas realizam pesquisas em diversos campos, com o intuito de tentar fazer um raio X da expansão desta droga bem como os efeitos fisiológicos e psicológicos que dependentes e familiares enfrentam no dia a dia.

Somente assim, avançando nas pesquisas e estudos específicos sobre esta droga maldita é que poderemos compreender melhor o usuário e familiares, e com isto podermos melhorar nossas estratégias para tratá-la e combatê-la.

1. INTRODUÇÃO

A origem do nome crack tem duas versões: uma delas diz que o nome vem do barulho que a pasta de cocaína faz quando é aquecida, geralmente em panelas simples, com bicarbonato de sódio e água. A pasta resseca e estoura [crack] formando pequenas pedras. A outra é parecida, mas diz que são os cristais [as pedras] que fazem o barulho quando o usuário está fumando.

Uma realidade em grandes metrópoles, o uso do Crack já se alastra em cidades de médio e pequeno porte tornando-se cada vez mais um problema de saúde pública e não só de segurança pública.

Segundo Félix Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, em estudo recente realizado em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro detectou um aumento do número de usuários de crack em tratamento ou internados em clínicas para atendimento a dependentes de álcool e drogas. Eles respondem por 40% a 50% dos indivíduos em tratamento, dependendo da clínica e de sua localização. A idade média dos usuários de crack (31 anos) é inferior à dos demais pacientes em tratamento (42 anos). Entre os dependentes desta droga, 52% são desempregados.

Já podemos afirmar categoricamente que o crack já chegou ao interior dos estados, cidades com menos de 50 mil habitantes já enfrentam problemas com usuários de crack. Por ser de fácil aquisição, o crack transformou-se na principal droga comercializada, tendo um elemento mercadológico que supera em muito o da cocaína.

[.....] "É impressionante a qualquer hora do dia, vemos crianças e adolescentes consumindo a droga e deitados no chão, áreas dominadas pela facção Comando Vermelho passaram a vender e isso vem como uma tsunami" [.....], descreve a socióloga Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (RJ).

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Uso do crack em nossa sociedade

Conforme apresentado na publicação “SCHEFFER, Morgana, PASA, Graciela Gema and ALMEIDA, Rosa Maria Martins de. Dependência do álcool, cocaína e crack e os transtornos Psiquiátricos” vimos que a dependência química do crack, não está relacionada tão somente pelo consumo esporádico de uma droga ilícita, mas sim pelo consumo do crack associado ao uso indistinto de outras drogas lícitas e ilícitas, como é o caso do álcool e a cocaína respectivamente.

Através de pesquisas de campo específicas, comparando grupos de dependentes de álcool/cocaína/crack e dependentes de cocaína/crack, as autoras tentam mapear os atributos que cercam os dependentes químicos bem como o tempo de uso destas drogas, dados sobre escolaridade, estado civil e histórico familiar e também as freqüências de comorbidade psiquiátrica dentre esses dois grupos.

Observando a Tabela 1 da pesquisa, verifica-se que os dependentes de “cocaína/crack” consomem o crack em média 2,3 anos. Enquanto os dependentes de “álcool/cocaína/crack” consomem em média 11,67 anos, constatando assim que o consumo do álcool associado ao uso do “crack/cocaína”, prolonga em muito a dependência química, deixando o usuário mais exposto aos problemas psicológicos, fisiológicos e neurológicos devido ao tempo excessivo na dependência.

A “política do cobertor curto”, assim foi definida pela folha.com, ao se referir aos cortes que o governo realizou entre 1998 e 2007 das verbas para tratar dependentes de álcool e em contra partida aumentando os recursos para tratamento de usuários de drogas ilícitas como crack, cocaína e maconha; segundo levantamento do economista Daniel Cerqueira, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro - RJ.

Verifica-se também que a baixa escolaridade Tabela 2 associada ao uso abusivo, mesmo que em pequenas quantidades, do álcool no histórico familiar, é fator preponderante para associações a outras drogas, e dentre os consumidores de drogas lícitas e ilícitas é alarmante os índices de transtornos de humor, transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade anti-social e esquizofrenia.

A utilização destas substâncias inicia-se muitas vezes, pela simples curiosidade, por hedonismo, alívio da dor e sofrimento.

Como vimos no Gráfico 1, no qual mostra uma redução de 45% dos recursos da união, destinados ao tratamento da dependência do álcool, entre os anos de 1998 e 2007. Em contrapartida ouve um maior investimento de 136% nos recursos destinados ao tratamento de drogas ilícitas (cocaína, crack, maconha), durante o mesmo período de anos.

Fazendo uma analogia comparativa, baseando-se nas pesquisas quantificadas na Tabela 1, na qual relata do tempo médio do consumo do crack, e, ao cruzar-mos informações com o Gráfico 1, que relata a diminuição dos recursos públicos destinados ao tratamento de dependentes do álcool; Podemos concluir que o aumento do consumo das drogas ilícitas, está ligado intimamente ao uso do álcool indistintamente. A redução de investimento no tratamento de dependentes de álcool acarretou numa escalada no aumento do consumo de drogas de baixo custo como o crack, pois alcoólatras em alto grau de dependência são mais fáceis de serem aliciados pelo consumo barato do crack, por seu psicológico estar enfraquecido e abalado.

Como vimos na Tabela 2, acima ilustrada, verificamos que a baixa escolaridade (Ensino Fundamental Incompleto) está ligada diretamente na dependência química também, pois 26,7% do grupo de álcool/cocaína/crack, e 41,2% do grupo cocaína/crack, são dependentes, enquanto em comparação com dependentes que possuem Ensino Superior Completo, 6,7% e 5,9% estão ligados aos grupos respectivamente analisados. Podendo constatar cientificamente que a baixa escolaridade afeta diretamente o aliciamento dos dependentes, independente do grupo de psicotrópico utilizado, seja pela falta de informação, seja pela incapacidade de compreensão do problema.

2.2 Drogadição e o trabalho do serviço social

Drogadição ou Toxicodependência:

“É termo genérico criado para conter toda e qualquer modalidade de vício bioquímico por parte de um ser humano ou a alguma droga (substância química) ou à superveniente interação entre drogas (substâncias químicas), causada ou precipitada por complexo de fatores genéticos, bio-farmacológicos e sociais, incluídos os econômicos-políticos” (wikipédia, enciclopédia livre).

Para prestar apoio a um dependente de crack, é fundamental para o Assistente Social saber a melhor forma de agir para incentivar a recuperação. Por excesso de zelo ou até mesmo por desinformação, muitos parentes e amigos podem adotar atitudes prejudiciais ao progresso de uma pessoa que tenta interromper o uso da droga; agir com truculência, por exemplo, é uma maneira inadequada de lidar com a situação. Força de vontade e perseverança é essencial para todos os envolvidos.

[....] “o apoio afetivo e social é fundamental na recuperação do paciente. A família, no caso de uso de substâncias psicoativas, deve, se livrar de preconceitos, reconhecer que as pessoas reagem de modos diferentes a diferentes substâncias e se colocar ao lado do paciente e não contra a droga, desconsiderando as circunstâncias sociais, pessoais e a própria substância consumida” [....] diz Antonio Nery Filho, professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD/UFBA).

O afastamento e isolamento do usuário também prejudicam o processo de recuperação; por mais que o familiar pense que o dependente não está nem aí para ele, é bom ficar junto. E esse apoio não deve vir só dos mais próximos, mas também fora de casa, com oportunidades institucionais, por exemplo: às vezes o dependente não vê grandes chances lá fora, como emprego, por exemplo, e foca ainda mais nas drogas.

Psicóloga da ONG Lua Nova de Sorocaba (SP), Raquel Barros tem a mesma opinião. [....] “Para administrar as crises, a família deve saber ser firme e persistente nos limites. Apoiar um dependente de crack também requer ajuda de profissionais e ações que mostrem a ele que existe algo que possa lhe dar prazer tanto quanto a droga. Trazer para a realidade aquele usuário e com ele traçar plano buscando valorizá-lo, assim como a relação entre eles”, diz. “Os familiares precisam de suporte, mas eles devem ter na cabeça de quem usa a droga, são os dependentes, e não eles” [....].

Apoiar um dependente de crack também requer ajuda de profissionais e ações que mostrem a ele que existe algo que possa lhe dar prazer tanto quanto a droga. O Assistente Social deve oferecer um ambiente seguro e acolhedor, que facilite a socialização e a busca por equilíbrio. A transformação psicossocial promovida por essas instituições envolve o aprendizado de novos valores, comportamentos, capacidades, hábitos e responsabilidades, de modo a fornecer os instrumentos necessários para a reinserção social. Essas dinâmicas e intervenções buscam incentivar o usuário a retomar a atividade profissional, relações familiares e o exercício da cidadania, além de ajudá-lo a construir um projeto de vida.

2.3 Urbanização x população

A urbanização no Brasil é um fenômeno determinante na sua organização e transformação espacial. Verifica-se que, entre 1940 e 1980, ocorre uma verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira. Na década de 1940, a taxa de urbanização no Brasil era de 26,35%; em 1980, essa taxa cresce para 68,86%. Nesses quarenta anos, a população total do Brasil triplica, enquanto que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia. Na década de 1990, a população urbana brasileira ultrapassa os 77%, apresentando um índice quase igual ao da população total de 1980 (Santos, 1996, p. 29).

Para Santos (1996), é entre o período de 1970 a 1980 que o crescimento numérico da população urbana supera o da população total. Isso significa que o processo de urbanização no Brasil conhece uma aceleração e ganha novo patamar, consolidando-se na década de 1980. Desse modo, o forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da Segunda Guerra Mundial e mostrou-se associado a um intenso crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, elementos estes mantidos pelos progressos sanitários e, pela melhoria relativa nos padrões de vida.

Outro elemento da ascendente urbanização brasileira vincula-se aos processos hegemônicos de expansão e concentração do capitalismo mundial, desencadeados nos países subdesenvolvidos através da industrialização.

2.4 A exclusão na expansão urbana no Brasil

Fonte: http://perdasdanos.blogspot.com.br

Em busca de oportunidades na terra nova, para cá vieram os suíços, que chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo). Os alemães que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, São Leopoldo) e Santa Catarina (Blumenau, Joinville e Brusque).

Os eslavos originários da Ucrânia e Polônia, habitando o Paraná, os turcos e os árabes, que se concentraram na Amazônia, os italianos de Veneza, Gênova, Calábria e Lombardia, que em sua maior parte vieram para São Paulo, os japoneses, entre outros. O maior número de imigrantes no Brasil são os portugueses, que vieram em grande número desde o período da Independência do Brasil.

Os primeiros imigrantes destinados à colonização aportaram no Rio de Janeiro em 1819, cumprindo um acordo do governo português com o agenciador Nicolas Gachet, representante do governo do Cantão de Friburgo, Suíça. Nesse caso, um grupo de cerca de mil e setecentos indivíduos, compondo unidades familiares, fundaram a colônia de Nova Friburgo (RJ), dando início à implantação de uma forma de exploração agrícola diversa da grande propriedade escravista.

Havia outros estrangeiros estabelecidos no Brasil desde 1808, sobretudo no Rio de Janeiro, dedicados a atividades comerciais, mas interessa registrar o caso dos suíços porque é revelador dos princípios que nortearam as políticas imigratórias implementadas pelo governo brasileiro, inclusive no período da grande imigração. Nesse sentido, o tratado assinado por D.João VI refere-se à imigração como fator civilizatório, estabeleceu a preferência por agricultores e artífices e estipulou as condições de prestação do serviço militar objetivando reforçar o contingente de milicianos brancos.

Fonte: www.imigraçãoitaliana.com.br

Esses poucos dados apontam para os principais critérios de seleção de imigrantes: deviam ser europeus e brancos, algo imprescindível, mas não suficiente porque "promover e dilatar a civilização do vasto Reino do Brasil", conforme consta do decreto de 16.05.1818 que autorizou a vinda dos suíços, significava trazer colonos para povoar o território, produzir alimentos e desenvolver as artes e ofícios, mais precisamente, nos termos dos discursos imigrantistas desde essa época, gente "afeita" ao trabalho. Não há menção direta à escravidão ou aos negros nesses documentos, mas a idéia de civilização como corolário da imigração traz consigo pressupostos de exclusão, melhor evidenciados na composição das milícias, onde o uso da categoria “brancos”, mostra que as distinções feno típicas já eram relevantes muito antes do conceito de raça surgir no Brasil.

Devem ser destacados, ainda, dois elementos fundamentais das práticas relativas à imigração: os subsídios e a localização na condição de colonos.

Os imigrantes, portanto, foram localizados na periferia das grandes propriedades escravistas, iniciando um processo de ocupação que, após a independência, seriam deslocados para o extremo sul, onde a colonização aparece como sinônimo de povoamento. Isto é, a imigração subsidiada devia atender ao princípio geopolítico de consolidação do território. Mais nitidamente delineado a partir da fundação da colônia de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, em 1824, e de três outras colônias em Santa Catarina e Paraná, estabelecidas em 1829 em caminhos de cargueiros que ligavam o litoral ao planalto e este à província de São Paulo.

O Brasil recebeu perto de cinco milhões de imigrantes entre 1819 e fins da década de 1940. Os três principais contingentes eram formados por Italianos, Portugueses e Espanhóis, e somaram mais de 2/3 do total, seguidos pelos Alemães e Japoneses. Outros grupos foram numericamente menos expressivos, como por exemplo, foi o caso dos Russos, Austríacos, Sírio-libaneses e Poloneses (Seyferth, 1990). Até meados da década de 1880 a maior parte dos imigrantes dirigiu-se, sob os auspícios do governo imperial, para o sul, situação que se modificou durante a "grande imigração", quando São Paulo passou a ser o destino da maioria dos estrangeiros entrados no país. Essa mudança na direção do fluxo, contudo, não alterou muito os preceitos imigrantistas de exclusão, visto que a passagem do trabalho escravo para o trabalho livre consistia na substituição do escravo pelo trabalhador imigrante, e os negros não tiveram acesso ao sistema de colonização.

[....] Ao iniciar-se a imigração européia as exclusões de natureza racial ou cultural tinham importância secundária. Isso não significa tolerância quanto ao perfil do imigrante ideal. A existência da imigração coincidindo com o regime escravista e o discurso sobre "trabalho livre", por princípio, excluía os negros - desqualificados, sobretudo após a proibição do tráfico, em 1850, por sua suposta inferioridade racial e cultural, considerados incompatíveis com a civilização e incapazes de produzir desenvolvimento econômico. Antes e depois da abolição, dizia-se que cogitar uma corrente imigratória da África para o Brasil seria equivalente ao indireto restabelecimento do tráfico [....] (Seyferth, 1991).

Nessa representação, o Brasil precisava de trabalhadores brancos e sadios, agricultores exemplares oriundos do meio rural europeu, com todas as "boas qualidades" do camponês e do artífice, obedientes à lei, dóceis e morigerados, de moral ilibada, etc. Por outro lado, ser europeu não bastava: os "piores elementos colonizadores" segundo diretores de colônia, eram comunistas, condenados, ex-soldados e a "escória das cidades" que os governos europeus "expeliam" e que o Brasil devia mandar de volta. Refugiados, deficientes físicos, ciganos, ativistas políticos, velhos, etc., também estavam arrolados, inclusive na legislação, como "indesejáveis".

Finalmente, o maior volume de entradas de estrangeiros após a abolição reavivou o debate sobre assimilação dos imigrantes (presente desde meados do século XIX), no contexto de afirmação da tese do "branqueamento", e que, na prática, culminou com a campanha de nacionalização no Estado Novo. O postulado assimilacionista tinha dois aspectos: por um lado, a tese do branqueamento da população vislumbrava os europeus como parte de um processo de caldeamento racial e, por outro lado, estes europeus deviam integrar-se ao "melting-pot" também na forma de abrasileiramento cultural (o que significava a condenação das etnicidades produzidas pelo processo imigratório).

Desde o início da colonização brasileira por imigrantes europeus, já se firmava o propósito de exclusão de classes sociais, no caso o negro; o objetivo principal do governo brasileiro era de povoar o Estado Novo através da miscigenação e clareamento da raça brasileira.

2.5 Reformas realizadas por Pereira Passos

No início do século XX, o Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais, decorrentes, em grande parte de seu rápido e desordenado crescimento, alavancado pela imigração européia e pela transição do trabalho escravo para o trabalho livre.

Na ocasião em que Pereira Passos assume a prefeitura da cidade, o Rio de Janeiro, com sua estrutura de cidade colonial, possuía quase um milhão de habitantes carentes de transporte, abastecimento de água, rede de esgotos, programas de saúde e segurança.

No centro do Rio de janeiro, a Cidade Velha e adjacências, eclodiam habitações coletivas insalubres (cortiços), epidemias de febre amarela, varíola, cólera, conferindo à cidade a fama internacional de porto sujo ou "cidade da morte", como se tornara conhecida.

A reforma urbana de Pereira Passos, período conhecido popularmente como “Bota - abaixo”, visou o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao Rio de Janeiro ares de cidade moderna e cosmopolita.

Inspirado nas reformas de Haussmann, em quatro anos Pereira Passos transformou a aparência da cidade: aos cortiços (locais serviam de moradia para aqueles que não seriam benquistos na "cidade higienizada") e às ruas estreitas e escuras, sobrevieram grandes bulevares, com imponentes edifícios, dignos de representar a capital federal.

Apesar das melhorias sanitárias e urbanísticas, o plano de Pereira Passos implicou alto custo social, com o início das formações de favelas na cidade.

A reforma promoveu uma grande valorização do solo na área central, ainda ocupada parcialmente pela população de baixa renda. Cerca de 1.600 velhos prédios residenciais foram demolidos. A partir destas demolições, a população pobre do centro da cidade se viu obrigada a morar com outras famílias, a pagar altos aluguéis ou a mudar-se para os subúrbios, uma vez que foram insuficientes as habitações populares construídas em substituição às demolidas. Parte considerável da imensa população atingida pela remodelação permanece na região e os morros situados no centro da cidade (Providência, Santo Antonio, entre outros). Surgem as favelas, que marcariam a configuração da cidade até os dias de hoje.

Nos dias de hoje, na cidade de São Paulo, está ocorrendo de certa forma um “Bota - abaixo” do século XXI, pois recentemente a prefeitura de São Paulo decidiu acabar de vez com a cracolândia, no centro da cidade, e com várias moradias insalubres, utilizadas por usuários de crack. A PM da capital cercou a região da cracolândia, onde foram presos cerca de 70 micro - traficantes e 150 usuários de droga, e recolhido 78 toneladas de lixo do local.

A sociedade ficou com opiniões divididas, a respeito do modo em que a operação se desenrolou, pois a estratégia da operação de dificultar o acesso dos usuários ao crack e, por meio de "dor e sofrimento", forçar que procurem tratamento adequado.

2.6 Conseqüências emocionais e afetivas do dependente químico e seus familiares

A preocupação com filhos de dependentes químicos vem notoriamente ocupando um espaço maior na área de saúde. Investir nesta população significa trabalhar com o setor de prevenção seletiva em dependência química, preocupação relevante na atualidade.

Crescer em uma família que possui um dependente químico é sempre um desafio, principalmente quando a criança ou adolescente passam a ter um contato direto com a dependência de um dos pais. Filhos de dependentes químicos apresentam risco aumentado para transtornos psiquiátricos, dentre eles o risco elevado para o consumo de substâncias psicoativas, bem como para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtorno de conduta e fobia social.

E trabalho realizado com filhos de dependentes e suas respectivas famílias, com faixa etária entre 0 à 18 anos, assistidos em um serviço de prevenção seletiva, em um bairro da periferia da cidade de São Paulo, através de uma entrevista semi-estruturada, incluindo dados demográficos; classificação econômica; Child Behavior Checklist (CBCL - Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência) para avaliação de comportamento da criança e do adolescente; Short Alcohol Dependence Data (SAAD), e Drug Use Questionnaire (DAST) para avaliação do consumo e avaliação de problemas relacionados em relação ao álcool e drogas respectivamente e Self Report Questionnaire (SRQ) para avaliação do estado emocional do cônjuge não dependente, também responsável pela criança ou adolescente.

De 106 entrevistados, 42% são do sexo masculino, e 58% do sexo masculino. Dentre a faixa etária prevalente encontra-se 21% (22) entre 6 a 8 anos de idade, seguido por 15% (16) de 9 a 11 anos e 115% (12) entre 12 a 14 anos de idade. Através do CBCL, foi identificado que 45% dos filhos apresentaram problemas de comportamento, 10% apresentaram quadro de ansiedade e depressão, 20% avaliados como condição limítrofe em relação problemas de pensamento, 15% com problemas de atenção e 16% com comportamento agressivo.

Em relação às respectivas famílias, 48% situam-se na condição econômica da classe D, sendo compostas por 39% casados e amasiados e 24,5% separados. Quanto aos dados da dependência química, 47% dos filhos convivem com um dependente e o restante 53% com mais de um dependente. Sendo que como substancia prevalente o álcool assumi destaque 53% seguido por cocaína e crack 13,5%.

A partir disto, torna-se evidente o quanto que o ambiente familiar que presencia a dependência química interfere no desenvolvimento da criança e do adolescente, acarretando graves conseqüências emocionais, comportamentais e também psiquiátricas. Além disso, os resultados apontam mais um agravante no que tange a situação sócia econômica dos participantes, pois é mais um aspecto que se revela como fator de risco para o desenvolvimento de problemas deste grupo.

Mais ainda assim, é importante refletirmos que embora os dados revelem as conseqüências do convívio com a dependência, durante a fase de crescimento; é importante ressaltar que grande parte dos filhos de dependentes, tanto da amostra estudada, bem como de outros estudos científicos, são bem ajustados e, portanto, uma abordagem preventiva de caráter terapêutico e reabilitador podem ser de vital importância no desenvolvimento de filhos de dependentes químicos.

2.7 Papel da família na estruturação emocional do dependente

A relação de pai/mãe e filhos é uma relação de profundo laço emocional; o impulso dos pais é sempre o de continuar tratando o dependente como criança e o de querer direcioná-lo.

O primeiro passo da família é conscientizar-se de que se trata de uma doença; o dependente não tem qualquer controle sobre o uso de substâncias psicoativas. O que realmente ajudai a família a estruturar-se seria enfrentar os fatos e agir buscando ajuda especializada em dependência química.

Normalmente a família consegue “controlar” o abuso de drogas pelo usuário; mas não conseguirá fazer com que ele deixe de usá-las efetivamente, somente perseguindo-o ou controlando sua vida; a família tem que tentar inserir o dependente um algum programa anti-drogas de seu bairro ou município, pois nestes núcleos de atendimento normalmente são disponibilizados profissionais especializados.

Mesmo inconscientemente, os familiares, com a maior das boas intenções, acabam por gerar comportamentos facilitadores que alimentam a continuidade do problema, como por exemplo: negando que possuem um problema de dependência dentro da família; minimizando dos problemas achando que não está tão ruim assim a situação; tranqüilizar-se diminuindo seus sentimentos para evitar problemas; culpa, culpando somente o dependente pela situação que se encontra.

O aconselhamento é o primeiro passo para a reabilitação e a integração social, e o envolvimento da família e da comunidade é essencial. O Relatório Mundial da Saúde traz também em suas recomendações básicas para ações na área da saúde mental, (álcool/drogas), no qual o envolvimento da família, comunidade e usuários, são essenciais para uma correta recuperação.

A Política Pública da Secretaria Nacional Anti-Drogas, órgão ligado à Presidência da República, busca dentre outras diretrizes, garantir, incentivar e articular, o desenvolvimento de estratégias de planejamento e avaliação nas políticas de educação, assistência social, saúde e segurança pública, em todos os campos relacionados às drogas.

[....] “é preciso compreender a família como um grupo social em constante movimento de organização – desorganização – reorganização, movimento este em estreita relação com o contexto sócio-cultural” [....]. (AMAS-BH, 1995)

Considerando que a família é fator de risco e de proteção do dependente químico, torne-se necessário incluí-la nas ações do trato desta questão. A preparação psicológica da família é muito importante, pois somente num esforço mútuo entre usuário e familiares, é que poderão ser resolvidas as questões das drogas com mais eficiência.

A família tem papel fundamental na formação da estrutura emocional do dependente, pois ela significa o alicerce para o dependente; este por sua vez encontrando o apoio incondicional e irrestrito de seus familiares e profissionais da área da saúde, conseguirá superar seus problemas com menos sofrimento minimizando seqüelas emocionais futuras.

3. CONCLUSÃO

Após realizar várias leituras específicas e analisar informações de profissionais especializados no tratamento com dependentes, comparando pesquisas e avaliações por eles realizadas, podemos concluir que sim, o crack já pode ser considerado uma epidemia nacional; este psicotrópico está presente em todos estados da união e em vários municípios de pequeno, médio e grande porte.

O crack espalha-se de forma ameaçadora, e está presente entre todas as classes sociais, não escolhendo rico ou pobre preto ou branco. Pequenas cidades já enfrentam problemas deste tipo; por ser uma droga de baixo custo torna-se fácil sua comercialização, e uma vez dependente o indivíduo não consegue deixar o vício tão facilmente.

Muitos usuários quando em abstinência e por falta de dinheiro, começam a roubar materiais de dentro de casa para trocar por drogas, chegando ao ponto de começarem a realizar pequenos furtos para poder alimentar o vício.

Outro fator preponderante para o alastramento do crack é a utilização do álcool também como fator de dependência; verificamos em pesquisas o número de dependentes químicos é maior, assim como seu tempo de dependência, quando a droga é associada à dependência do álcool.

Comparando grupos de consumidores de álcool/cocaína/crack e cocaína/crack, verificamos que o grupo que consome o álcool, em média permanece viciado quatro vezes mais do que o grupo cocaína/crack.

[...] “o alcoolismo está inevitavelmente arraigado na rede de interações familiares. Essas interações incluem tanto comunicações abertas e impactos diretos, como processos dinâmicos de grande sutileza” [....]. (GRIFFITH, 1987)

Abaixa escolaridade também está presente entre os maiores consumidores de crack, pois 26,7% do grupo de álcool/cocaína/crack, e 41,2% do grupo cocaína/crack, dos dependentes, possuem Ensino Fundamental Incompleto, enquanto 6,7% e 5,9% respectivamente dos mesmos grupos avaliados possuem escolaridade de Ensino Superior Completo, demonstrando que quanto mais baixa a escolaridade, mais fácil é o aliciamento.

Vimos também que o papel do Assistente Social se torna cada vez mais expressivo, pois as famílias ao enfrentarem um problema de dependência química dentro de sua casa, muitas vezes não possuem as ferramentas necessárias para enfrentar o problema satisfatoriamente.

A infestação do crack em nossa sociedade, não tem que ser combatida somente pela polícia, mas sim com emprego de um conjunto de políticas públicas na área da saúde, assistência social, incluindo os dependentes em programas de geração de renda, educação e cultura.

Somente expulsarmos os usuários de crack das ruas de nossas cidades, como foi feito em São Paulo, não resolverá o problema, estaremos tão somente espalhando o problema para outras áreas. O enfrentamento é necessário, o investimento público também; tratar a dependência química como doença e não o dependente como criminoso e delinqüente.

O trabalho do Assistente Social, no tratamento de dependentes é árduo, mas nobre e gratificante, pois fazer parte do processo de regeneração social de um indivíduo dependente, resgatando sua dignidade e entregando novamente à sociedade um indivíduo sadio e íntegro; contribuindo muito para mudar os rumos das políticas sociais de um país.

REFERÊNCIAS

AUN, Juliana G; ESTEVES DE VASCONCELOS, Maia José; COELHO, Sonia V. Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais. Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2007.

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BARROS, Raquel. Fundadora da ONG Lua Nova; Sitio: http://www.luanova.org.br

CHILD BEHAVIOR CHECKLIST (CBCL) Inventário de Comportamentos da Infância e Adolescência; Sitio: http://www.unifesp.br

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Conselho Nacional de Assistência Social; Sitio: http://www.mds.gov.br/cnas

DROGADIÇÃO: Sitio: http://portal.saude.gov.br

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Enciclopédia livre; Sitio: http://pt.wikipedia.org

FILHO, Antonio Nery. Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD/FMB/UFBA/SESAB), publicado no sitio: https://twiki.ufba.br

GRIFFITH, Edwards.1987, O Tratamento do Alcoolismo; Editora: Martins Fontes.

Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas da Assembléia Legislativa de São Paulo (ALESP); Sitio: http://www.al.sp.gov.br/

KESSLER, Félix. Vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Sitio: http://www.hcpa.ufrgs.br

Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, publicado no sitio http://www.abead.com.br

MYRIAN, Elsy. Blog Perdas & Danos; Fonte: http://perdasdanos.blogspot.com.br

Secretaria Nacional Anti-drogas; Sitio: http://portal.mj.gov.br

SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. Editora Hucitec, 3 Edição, 1996. São Paulo, SP.

RAMOS, Sílvia. Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (RJ). Sitio: http://www.ucam.edu.br

SCHEFFER, Morgana, PASA, GRACIELA GEMA and ALMEIDA, ROSA MARIA MARTINS DE. “Dependência do álcool, cocaína e crack e os transtornos Psiquiátricos”.

Short Alcohol Dependence Data (SAAD)

Relatório Mundial da Saúde; Sitio: http://www.onu.org.br

SEYFERTH, Giralda; Colonização, Imigração uma questão racial do Brasil.

Imigração Italiana no Brasil; Fonte: www.imigraçãoitaliana.com.br

Glossário

Civilizatório: Que tem atuação positiva no processo de civilização.

Comorbidade psiquiátrica: “refere-se à ocorrência de duas doenças distintas em um mesmo indivíduo”. Comorbidade refere-se a transtornos problemas comportamentais e psicológicos que diferem da normalidade.

Corolário: (do latim tardio corollarium) é uma decorrência imediata de um teorema.

Descenso: sofrer rebaixamento, ou passar para uma categoria inferior.

Fenótipo: são as características observáveis em um organismo.

Hedonismo: (do grego hedonê, "prazer", "vontade") é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.

Melting-pot: “metáfora usada para designar sociedades formadas por indivíduos de diferentes culturas e religiões”.

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