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ECONOMIA INTERNACIONAL

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Por:   •  8/2/2014  •  4.271 Palavras (18 Páginas)  •  403 Visualizações

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O Modelo Kaldoriano de crescimento liderado pelas exportações

Nicholas Kaldor foi um dos mais destacados economistas do século XX. Seus trabalhos tratam de vários temas relacionados com teoria econômica, economia aplicada e a análise e proposição de políticas econômicas.

Como teórico, a mais importante contribuição de Kaldor foi sua análise do processo de crescimento econômico. Suas primeiras ideias sobre o assunto datam do final da década de 1930. Mas é a partir da década de 1950 que a análise do processo de crescimento econômico passou a ser o centro da reflexão teórica do autor. E assim foi até sua morte em 1986.

A última etapa de desenvolvimento das ideias de Kaldor sobre o processo de crescimento econômico começa em meados da década de 1960. Nela o autor reavalia profundamente algumas de suas ideias.

O primeiro passo na reavaliação de suas ideias se deu com a investigação acerca das “leis” de crescimento econômico em seus trabalhos na segunda metade da década de 1960 em diante. Estes trabalhos levaram o autor a abandonar a hipótese de pleno emprego da força de trabalho e sua explicação do tipo “weberiano” para as diferenças nas taxas de crescimento dos países.

Como resultado destas mudanças o autor fica sem uma teoria do crescimento minimamente articulada, o que o levou a desenvolver um novo arcabouço teórico para a análise do processo de crescimento econômico. Este arcabouço é constituído por dois modelos básicos: o modelo de crescimento liderado pelas exportações e o modelo de crescimento a dois setores (agricultura/indústria).

Trataremos especificamente do modelo kaldoriano de crescimento liderado pelas exportações. Esse modelo foi desenvolvido por Kaldor ao longo das décadas de 1970 e de 1980. No seu arcabouço teórico ele tinha o papel de prover o autor com uma explicação objetiva e empiricamente testável para as diferenças observadas entre as taxas de crescimento dos países.

O modelo kaldoriano de crescimento liderado pelas exportações é, como veremos a seguir, o resultado da combinação de um modelo de crescimento liderado pela demanda e uma condição de equilíbrio do balanço de pagamentos.

1 - Um modelo de crescimento liderado pela demanda

Uma vez abandonada a hipótese de pleno emprego da força de trabalho, Kaldor passou a defender a ideia de que o crescimento das economias capitalistas industrializadas seria liderado pela demanda. Por outro lado, o autor mantém a ideia – presente nos seus modelos de crescimento anteriores – de que a disponibilidade de capital (i.e. de capacidade produtiva) não se constituiria numa restrição de longo prazo ao crescimento da demanda.

Isto implica adotar uma função investimento em que este gasto seria basicamente induzido pela demanda final da economia. Para fundamentar teoricamente estas ideias o autor utilizou um modelo do tipo supermultiplicador inspirado no modelo desenvolvido originalmente por Hicks (1950).

Segundo este modelo, o nível de produto dependeria do nível dos gastos autônomos e do supermultiplicador. Este último difere do multiplicador keynesiano usual por também levar em conta os efeitos de indução de variações do produto sobre o investimento (i.e. o efeito acelerador).

De acordo com este modelo, o crescimento das economias seria explicado, primordialmente, pelo crescimento dos gastos autônomos e, portanto, seria liderado pela demanda. Kaldor não chega a apresentar formalmente sua especificação para o modelo do supermultiplicador. Nós o faremos aqui com o intuito de esclarecer as hipóteses utilizadas pelo autor para chegar ao seu modelo de crescimento liderado pelas exportações.

Comecemos pela condição de equilíbrio entre oferta e demanda agregadas numa economia aberta e com governo:

Y + M = C + I + G + X (1)

onde: Y é como antes o produto agregado; M são as importações de bens e serviços; C é consumo agregado do setor privado; I é o investimento agregado do setor privado; G são os gastos do governo englobando tanto o consumo como o investimento do governo; e X são as exportações de bens e serviços.

As seguintes hipóteses podem ser feitas em relação ao comportamento das variáveis envolvidas. Consideramos que tanto os gastos do governo como as exportações são determinados exogenamente. Supomos que as importações são proporcionais ao nível de produto, isto é:

M = mY (2)

onde m (m>0) é o coeficiente de importação. Com respeito ao investimento, adotamos a seguinte função investimento que procura captar a ideia de investimento induzido necessário a um modelo de crescimento liderado pela demanda:

I = ag*Y (3),

onde “a” é relação técnica capital/produto e “g* ” é a taxa esperada de crescimento da demanda.

Em relação ao consumo vamos supor que ele se comporte de acordo com a seguinte função consumo:

C = c (Y – T) (4)

com 0 < c < 1. Nesta equação: T é a renda líquida do governo (i.e. receitas correntes do governo menos juros da dívida pública e transferências de assistência e previdência sociais); e Y - T é a renda disponível do setor privado. Além disso, para simplificar nossa exposição vamos supor que a renda líquida do governo seja proporcional ao nível de produto, ou seja:

T = tY (5),

em que ” t “ (positiva, mas inferior à unidade) é a renda marginal líquida do governo.

Substituindo as equações (2), (3), (4) e (5) na equação (1) chegamos a seguinte expressão,

Y + mY = c (1 – t)Y + .ag*Y + G + X

Dela podemos obter a seguinte expressão para a determinação do produto de equilíbrio

onde A = G + X é o gasto autônomo total e o termo entre colchetes é o supermultiplicador cujo denominador supomos ser estritamente positivo . De (6) podemos constatar que no modelo do supermultiplicador, o crescimento da economia dependeria fundamentalmente do crescimento dos gastos autônomos.

O modelo do supermultiplicador definiria então os determinantes do crescimento liderado pela demanda.

2 – A condição de equilíbrio do balanço de pagamentos

Todavia, mesmo na ausência de uma restrição associada ao pleno emprego da força de trabalho, o ritmo do crescimento liderado pela demanda poderia encontrar um limite.

Segundo Kaldor tal limite seria dado por uma restrição efetiva de balanço de pagamentos. Na verdade, o autor interpreta tal restrição como se fosse uma condição de equilíbrio do balanço de pagamentos.

Vejamos mais de perto como Kaldor define esta condição de equilíbrio. Nesse sentido, o nosso ponto de partida é a identidade que define o resultado do balanço de pagamentos de um país num determinado período de tempo.

Kaldor trabalha com uma versão simplificada desta identidade onde ele desconsidera a existência de fluxos de capitais e de outros itens no balanço de pagamentos em conta corrente que não as exportações e importações de bens e serviços (não fatores). Assim, esta identidade poderia ser apresentada da seguinte maneira:

BP = X – M (7),

onde BP é o resultado geral do balanço de pagamentos. O balanço de pagamentos estaria em equilíbrio quando não houvesse nenhuma variação nas reservas internacionais de um país em determinado período. Isto corresponde a uma situação em que o saldo geral do balanço de pagamentos é nulo (i.e., BP = 0).

Assim, o equilíbrio do balanço de pagamentos pode ser representado da seguinte maneira:

X = M (8)

Podemos encontrar um valor para o nível de produto compatível com o equilíbrio do balanço de pagamentos como definido acima. Para tanto, basta substituirmos a equação (2) na equação (8) e dividirmos os dois lados da equação resultante por m obtendo:

,

onde o subscrito BP é usado para identificar o nível de produto compatível com o equilíbrio do balanço de pagamentos.

A comparação do nível de produto associado ao equilíbrio do balanço de pagamentos (i.e. YBP) com o nível de produto correspondente ao equilíbrio entre oferta e demandas agregadas (i.e. Y*) pode ser usada para inferirmos a situação externa da economia.

Com efeito, se Y* for maior do que YBP as importações seriam superiores às exportações, fazendo com que a economia se encontre numa situação de déficit externo. Por outro lado, se Y* for menor que YBP teríamos, pelo motivo contrário, uma situação superávit externo.

Assim, um equilíbrio entre oferta e demanda agregadas compatível com uma situação de equilíbrio externo só seria possível quando a seguinte condição fosse satisfeita:

Y*=YBP (10)

Segundo Kaldor, esta condição seria atendida caso: (i) o orçamento do governo estivesse em equilíbrio; e (ii) a poupança do setor privado fosse igual ao investimento privado. A condição (i) implica que os gastos do governo são iguais a sua renda líquida, isto é:

G = tY (11)

Desta condição podemos deduzir que o nível de produto determinado pelo modelo do supermultiplicador seria:

Por sua vez, do ponto de vista das hipóteses específicas aqui adotadas, a condição (ii) é equivalente à supor que:

Desse modo, o produto de equilíbrio entre oferta e demanda agregadas seria determinado pela equação

Y* = X / m (13)

e, então, é fácil verificar, a partir da equação (9) acima, que a condição (10) seria satisfeita.

E daí? Onde chegaremos?

3 – O modelo de crescimento liderado pelas exportações. A equação (13) acima é o “multiplicador do comércio exterior” proposto originalmente em Harrod (1933). De acordo com este modelo, o nível de produto e, consequentemente, o nível das importações variaria até que o equilíbrio externo da economia seja alcançado.

Trata-se de um modelo de ajustamento do balanço de pagamentos totalmente baseado em variações do nível de produto. Kaldor usa este modelo para determinar o produto de equilíbrio da economia.

Uma versão dinâmica do multiplicador do comércio exterior pode ser obtida com base na equação (13) acima se admitirmos que tanto as exportações como o coeficiente de importações crescem a uma taxa determinada.

Neste caso, o crescimento da economia seria explicado, aproximadamente, pela diferença entre a taxa de crescimento das exportações () e a taxa de crescimento do coeficiente de importações (), de acordo com a seguinte expressão:

g* = gX - gM (14).

Onde a taxa de crescimento g* é a taxa de crescimento do produto consistente com a manutenção do equilíbrio do balanço de pagamentos.

Além disso, na equação anterior, um valor positivo, nulo ou negativo de gm indica que o crescimento das importações de um país é, respectivamente, maior, igual ou menor do que o crescimento do seu produto.

Se o coeficiente de importação cresce, uma taxa de crescimento positiva para o produto só pode ser obtida quando a taxa de crescimento das exportações for maior do que a taxa de crescimento do produto. Já se o coeficiente de importação decresce, uma taxa de crescimento do produto positiva seria compatível com uma taxa de crescimento das exportações menor que a taxa de crescimento do produto.

A taxa de crescimento do coeficiente de importação de um país refletiria, por sua vez, o “dinamismo” dos mercados dos bens e serviços que compõem sua pauta de importações. O mercado de um bem ou serviço importado pode ser considerado tanto mais “dinâmico” quanto maior for a diferença entre a sua taxa de crescimento (da demanda ou do produto) e a taxa de crescimento do produto do produto do país.

Do ponto de vista de Kaldor, tal “dinamismo” dependeria fundamentalmente de fatores relacionados com o estágio de desenvolvimento tecnológico e com a evolução do padrão de consumo dos bens e serviços envolvidos.

De (14) podemos constatar também que quanto maior for, ceteris paribus, o crescimento das exportações de um país tanto maior seria a taxa de crescimento do seu produto. Até aqui consideramos as exportações e sua taxa de crescimento como dados exogenamente.

No entanto, é possível ir um pouco mais adiante, analisando os determinantes diretos destas duas variáveis. Para tanto, basta lembrarmos que o valor das exportações de um país é, por definição, igual ao valor das importações dos seus bens e serviços pelo resto do mundo, ou seja:

X = MR.

Supondo que as importações do resto do mundo sejam proporcionais ao nível de produto então a equação anterior pode ser apresentada da seguinte maneira:

X = xYr

onde x é o coeficiente de exportações do país e YR é o produto do resto do mundo. Neste caso, a taxa de crescimento das exportações dependeria do crescimento do coeficiente de exportação (i.e.gx ) e do crescimento do produto do resto do mundo (i.e. gR), isto é:

gX = gR + gx

aproximadamente. Substituindo a equação acima na equação (14) podemos obter o seguinte resultado:

(15).

Um valor positivo, nulo ou negativo indica que o crescimento dos mercados externos para os bens e serviços produzidos no país é, respectivamente, maior, igual ou menor do que o crescimento do produto do resto do mundo.

Tal como o crescimento do coeficiente de importações, o crescimento do coeficiente de exportação de um país seria explicado pelo “dinamismo” dos mercados dos bens e serviços que compõem a sua pauta de exportações, só que este “dinamismo” refletiria a diferença entre a taxa de crescimento dos seus mercados externos e a taxa de crescimento do produto do resto do mundo.

Na perspectiva de Kaldor, por trás do “dinamismo” dos mercados externos de um país estariam as mesmas forças que explicam o “dinamismo” dos mercados internos por bens e serviços importados: o estágio de desenvolvimento tecnológico e a evolução do padrão de consumo dos bens e serviços envolvidos.

Por outro lado, de acordo com a equação (15), o crescimento de um país seria maior, menor ou igual ao crescimento do resto do mundo, conforme gx seja, respectivamente, maior, menor ou igual à gm.

Sendo assim, o crescimento de um país em relação ao resto do mundo dependeria fundamentalmente do “dinamismo” dos mercados para suas exportações em relação ao “dinamismo” dos mercados internos para os bens e serviços importados.

Resulta disto que o desempenho de um país em relação ao resto do mundo dependeria dos conjuntos de bens e serviços que compõem, respectivamente, suas pautas de exportação e de importação.

Nesse sentido, o crescimento de um país em relação resto mundo seria tanto maior (menor) quanto mais (menos) dinâmicos fossem o mercados dos bens e serviços que compõem sua pauta de exportação e quanto menos (mais) dinâmicos fossem os mercados dos bens e serviços que compõem sua pauta de importação.

Esta seria, em suas linhas gerais, a explicação de Kaldor, no estágio de evolução de suas ideias em análise, para as diferenças existentes entre as taxas de crescimento dos países capitalistas industrializados.

O modelo de crescimento de Thirwall (1979)

Um economista inglês, A.P. Thirlwall, construiu um modelo extremamente simplificado que sugeria uma resposta à pergunta: por que os países registram taxas de crescimento econômico diferentes?

Em lugar de reduzir o desenvolvimento econômico apenas a uma combinação feliz de disponibilidade de mão-de-obra, de capital e de incorporação da tecnologia, ele chamava a atenção para o fato de que a existência dessas condições era necessária, mas não suficiente para pôr em marcha o processo produtivo.

A conclusão do modelo do professor Thirlwall é a de que o fator efetivamente limitante da taxa de crescimento de longo prazo de uma economia é a taxa de crescimento de longo prazo das suas exportações combinada com a elasticidade de longo prazo da demanda de importações com relação à produção total, o PIB.

Essa elasticidade é apenas um número que liga a porcentagem de crescimento das importações à taxa de crescimento do PIB no longo prazo.

έm = (dM/M) / dY/Y

Por exemplo, se ela for de 2, um crescimento do PIB de 5% implica um aumento das importações de 10%.

"Longo prazo" é aqui um tempo suficientemente amplo para eliminar as flutuações do PIB, das importações e das exportações devidas a choques, como a crise do petróleo ou mudanças de tarifas, por exemplo. O modelo completo que leva em conta a possibilidade de movimento de capitais para financiar possíveis déficits de conta corrente é de explicação mais complicada e será deixado de lado.

.

No "longo prazo", a acumulação de déficits em conta corrente aumenta o passivo do país e aumenta, portanto, a necessidade de remessas de juros, royalties, dividendos etc., o que exige a criação de superávits comerciais crescentes.

No "longo prazo", isto é, depois de acumulado o passivo sustentável, a economia tem de encontrar um equilíbrio dado pela relação: (aumento do PIB) multiplicado pela (elasticidade das importações) = taxa de crescimento das exportações.

dY/Y . έm = dX/X

Por exemplo, se o PIB crescer à taxa de longo prazo de 6% e a elasticidade de longo prazo for 2, as importações crescerão 12% ao ano. No longo prazo o equilíbrio exige que a taxa de crescimento das exportações seja também de 12%.

A chamada "lei de Thirlwall" diz exatamente isso: a taxa superior de crescimento de longo prazo de uma economia é dada pela taxa de crescimento de longo prazo de suas exportações dividida pela elasticidade de longo prazo da demanda de importações.

dY/Y = (dX/X) / έm

Desde o artigo original tem havido sucessivas tentativas de verificação empírica dessa "lei". O surpreendente é quando se considera períodos superiores a dez anos; a resposta dos números se aproxima fortemente dos sugeridos por ela.

Por isso – e por outras razões – o velho Delfim Netto sempre usava um de seus bordões preferidos: “Exportar é a solução”.

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