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Ganhar Dinheiro é Prefácio

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Por:   •  11/12/2014  •  1.495 Palavras (6 Páginas)  •  301 Visualizações

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Ganhar dinheiro é prefácio

Por César Augusto¹

Mas e se o ramo de negócio for de livros usados, vulgarmente conhecido por sebo?

O século XXI é palco de mudanças significativas que transformam toda a estrutura sociopolítica e econômica vivenciada pelas pessoas. É um cenário no qual predomina a busca frenética pelo moderno, pelo novo e pelo atual como condição essencial para se manter integrado à sociedade contemporânea.

Essa realidade é reflexo dos constantes avanços tecnológicos e das consequentes inovações dos bens de consumo em ciclos cada vez menores.

Enquanto tais fatores são comumente reconhecidos como sinônimos de processo evolutivo, as conotações associadas ao que é antigo passam a ser valorizadas disforicamente perante a mentalidade social vigente. Pesam sobre elas o simbolismo pejorativo de arcaicas e de fora de moda.

Já, ao contrário disso, “o homem pós-moderno é aberto, criativo, não preso a formas e tradições, identificadas como 'velhas' e 'ultrapassadas' (BARTH, 2007, p. 96).

Seguramente, qualquer empreendimento visa fugir dessa reputação negativa, a fim de garantir sua permanência no mercado. E o que dizer dos Sebos, então? Não é um dos nomes mais agradáveis, e a própria origem deles comprova essa afirmação.

Como se sabe, nos idos do século XVI, historiadores e pesquisadores costumavam comprar papiros e documentos das mãos de mercadores. Estes eram chamados de alfarrabistas, termo derivado de alfarrábio, cujo significado é livro velho ou de pouco préstimo (HOUAISS, 2001).

Acontece que, numa época desprovida de energia elétrica, as pessoas liam à luz de velas. O contato com estas acabava por sujar e engordurar os livros, deixando-os ensebados (MARCO ZERO, 2009). Daí a expressão sebo, que não só carrega o estigma de lugar antiquado, mas também a famigerada visão de ambientes sujos, desorganizados e empoeirados.

São adjetivos depreciadores ainda presentes, atualmente, na maioria desses estabelecimentos, onde os espaços são apertados, desordenados e de estruturas obsoletas.

É comum, por exemplo, ter que se fazer uma verdadeira ‘garimpagem’ pelas pilhas de livros espalhadas nesses locais para encontrar determinada obra, conforme Ribeiro (2011).

Entretanto, por outro lado, há quem sustente que essas características são justamente a razão de ser dos sebos. Isto é, a atmosfera deles deve conter pouca luz, quase na penumbra. As suas dependências também sem muita limpeza, bastando passar raramente um espanador para não sufocar os alérgicos, segundo o jornalista e crítico literário André Luís Mansur (GLOBO.COM, 2007).

Para este jornalista, é conveniente até priorizar espaços menores no interior do recinto, porque as pilhas de livros precisam formar corredores e esquinas estreitas. Isso fará com que os leitores se sintam literalmente (ou literariamente) cercados pelos livros. Já as seções, por sua vez, não devem ser muito organizadas, pois um dos princípios atrativos dos sebos é o elemento surpresa, ou seja, achar aquilo que jamais se esperaria encontrar naquela prateleira, finaliza Mansur.

Seja como for, percebe-se que essa é uma área de atividade na qual a relação com os livros exerce uma espécie de fascínio entre seus aficionados. Trata-se de algo semelhante a um ritual prazeroso que passa por segurar o livro, tocá-lo, cheirá-lo e desfrutá-lo em toda sua plenitude. “Imaginar quem já o tocou e o leu, o porquê daquela dedicatória à determinada pessoa com um telefone anotado, é uma sensação indescritível”, conforme Cristina Marques, frequentadora de sebos há seis anos (MARCO ZERO, 2009).

O charme desses locais está nas suas peculiaridades seja na música de fundo, seja na sua decoração ou, inclusive, naquele cheiro de papel antigo, amarelado e cheio de histórias para contar, complementa Bilobran (2009).

Como não reconhecer o teor sentimental carregado de romantismo nesses relatos?

Isso também ocorre com muitos dos proprietários de sebos que geralmente são movidos pela devoção a este ramo de negócio. O prazer e a dedicação pela profissão é comum entre a maioria das pessoas que trabalha com sebos. Muitas delas até abrem mão de outras atividades mais rentáveis para estar envolvidas no que gostam, afirma Cavaglieri (2007).

Aliás, a atuação nesse ramo costuma ser encarada como hobby ou um passatempo predileto dos amantes da leitura, mesmo porque há um consenso geral de que ele é pouco rentável e sem possibilidades de ganhos extraordinários, de acordo com pesquisas feitas por Cavagliery.

Tanto é assim, que esse tipo de ofício, normalmente, acaba sendo visto como tarefa para aposentados ou professores, bibliotecários e demais profissionais abnegados pelas causas de formação social e cultural dos indivíduos.

Obviamente, a primeira impressão sobre os sebos mostra um negócio economicamente inviável, porém, a segunda, demonstrará que se trata de um senso comum não necessariamente verdadeiro.

Basta acompanhar o mercado literário brasileiro e verificar o volume recorde na comercialização de livros, em 2011. Foram 470 milhões de exemplares, registrando aumento de 7% em relação a 2010, segundo dados da CBL (Confederação Brasileira de livros), divulgados pela revista Veja (2012).

A leitura feita por prazer e gosto também vem conquistando cada vez mais adeptos, passou de 70%, no ano de 2007, e atingiu 75%, em 2011. Além disso, a média de livros lidos em casa subiu entre 2007 e 2011, indo de 25 para 34, respectivamente. Um crescimento de 36% (RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL 3, 2012).

Provavelmente, todos esses números já permitiriam vislumbrar um ponto vista mais empreendedor para o comércio de sebos, não fosse a concorrência desafiadora dos livros digitais. Contudo, isso não significa a morte do formato tradicional, pelo contrário, ele se torna mais importante a cada ano.

Aproximadamente um milhão de obras a mais são impressas no mundo anualmente, segundo o pesquisador, professor e presidente da biblioteca de Harvard, Robert Darnton (ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

No exterior, as publicações digitais até ajudam a impulsionar a venda dos livros

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