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Homens invisíveis e relatos de humilhação social

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Por:   •  17/5/2014  •  Seminário  •  525 Palavras (3 Páginas)  •  310 Visualizações

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Relatório

Homens invisíveis e relatos de humilhação social

“O desaparecimento simbólico de indivíduos pobres com profissões que não exigem qualificação escolar ou técnica”.

O psicólogo Social Fernando Braga da Costa, vestiu uniforme de gari e trabalhou cerca de um mês, na mesma universidade que estudava. Chamando a atenção que nem mesmo amigos ou professores o reconheceram, ali constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são seres invisíveis, sem nome. Em sua tese de mestrado, conseguiu comprovar a existência da “invisibilidade pública”, ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada á divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.

Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400,00 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida. “Descobriu que um simples bom dia, que nunca recebeu como gari, podia significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”. Sentiu na pele ao ser tratado como um objeto e não um ser humano. Professores que o abraçavam nos corredores da USP passavam por ele, não o reconheciam por causa do uniforme. Ás vezes. Esbarravam no seu ombro e, sem ao menos pedirem desculpas, o seguiam ignorando, como tivessem encostado em um poste ou em um orelhão.

Ocupante do cargo mais raso, denominado “ajudante de serviços gerais”, o gari não é consultado sobre qual trabalho deve ser feito antes, não escolhe suas ferramentas e delas não pode reclamar, mesmo que sejam inadequadas - enfim, mesmo que nem ao menos pareçam projetadas para o corpo humano. O trabalho - sujo, insalubre, braçal, repetitivo, humilhante- é exercido sob hierarquia severa e autoritária. Pior: por tudo isso, quem é gari deixa de ser visto como pessoa e passa a ser visto- quando visto- apenas como função. Geralmente passa despercebido, não é notado ou cumprimentado, vira homem invisível.

Braga relata que durante essa experiência existiram três episódios que considera cruciais e que marcaram a sua inicialização ao grupo de garis: o episódio da vassoura, o episódio do uniforme, e por fim, o episódio da caneca. No primeiro episódio ele relata as reclamações sobre essa ferramenta com o qual realizam seus trabalhos (cabos curtos, cerdas muito flexíveis, etc.). No episódio do uniforme, é relatada a angustia do autor em não ser percebido por ninguém, nem mesmo os que o conheciam (colegas de curso, professores), além de desviarem dele como se fosse um objeto ou obstáculo. Já no terceiro episódio, “da caneca”, o autor relata o que para ele foi um processo de inicialização do grupo. Na hora do café não latinhas tinham copos, então um deles se dirigiu à lata de lixo e colheu algumas de refrigerante, sujas e grudentas, nelas compartilharam o café, olhares e sentimentos diversos.

Com o ambiente de trabalho sofrível, o gari desempenha suas atividades munidas de carrinho, pá e vassoura, em prol do asseio e a beleza da cidade. Além das adversidades do ambiente de trabalho, enfrenta diariamente o preconceito e o desrespeito de muitas pessoas. Isso os torna de certa forma em homens invisíveis por exercerem atividades cronicamente reservadas a uma classe de homens que se tornam historicamente condenados ao rebaixamento

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