Ilha Do Dr. Moreau

A Ilha do Dr. Moreau por H.G.Wells (1866-1946).

Wells é comumente tido como o fundador da ficção-científica moderna, posto que divide com o escritor Júlio Verne – embora os textos de ambos não tenham qualquer relação em termos temáticos ou estéticos – e, apesar de nenhum deles ter sido o primeiro a escrever um romance de ficção-científica, foram eles quem a estabeleceram enquanto gênero.

Com uma carreira sólida e consistente, Wells é autor de pelos menos quatro obras-primas: A Guerra dos Mundos (1898), O Homem Invisível (1897), A Máquina do Tempo (1895) e A Ilha do Dr. Moreau (1896), além de ter sido politicamente ativo na sociedade londrina do século 19. Ele era membro da Sociedade Fabiana, um grupo político esquerdista fundado em 1884, cujo principal objetivo era se opor à luta de classes, aos sindicatos e à ascensão do proletariado.

Vindo de uma família burguesa da sociedade britânica, Wells, assim como outros grandes nomes políticos, cientistas e intelectuais da época, não via com bons olhos as revoluções de classes que marcaram o final daquele século, acreditando que a reforma socialista deveria ser um processo gradual e natural.

Mas, apesar do posicionamento político polêmico, Wells foi, para todos os efeitos, um gênio da literatura e em A Ilha do Dr. Moreau, ele atinge um dos seus pontos mais altos. Na história, um náufrago vai parar em uma ilha habitada por um médico (o dr. Moreau do título) que fora banido da Inglaterra por realizar experiências de ética e moral duvidosa. Na ilha, livre das amarras da sociedade, Moreau atua da forma que quer e busca de todas as maneiras melhorar a condição da espécie humana. Contudo, tudo o que consegue é criar seres patéticos e disformes, híbridos de homens e animais que, ocasionalmente, são violentos e perigosos.

A discussão proposta, a qual mais de um século depois da publicação do livro, ainda é atual e: o homem tem o direito de brincar de Deus? Em mundo cujas pesquisas genéticas estão mais avançadas do que nuca; em que vários países cujo Estado laico briga com questões pertinentes a uma população religiosa; em que pesquisas com células-tronco tornam-se a polêmica da vez (isso sem contar temas que ocorrem na transversal, como os animais usados em experimentos de laboratórios), a polêmica está instaurada há tempos.

Os resultados obtidos por Moreau é um atestado dos perigos da pesquisa desregrada; e a atuação de Charles Prendick (o náufrago do livro), um contraponto a isso.

Há quem diga que, no livro, Wells critica o colonialismo europeu (as tentativas de Moreau de elevar animais à condição humana seriam uma metáfora para o processo de civilização ao qual os europeus submeterem os povos colonizados), mas, de forma geral, a trama é uma crítica à religião e aos abusos da ciência. Seja como for, A Ilha do Dr. Moreau é um dos grandes clássicos produzidos pelo homem e merece ser conhecido.

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