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O Alienista Luta Antimanicomial

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Por:   •  1/12/2014  •  10.575 Palavras (43 Páginas)  •  468 Visualizações

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Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, ISSN 1984-2147,Florianópolis, V. 2, n.4-5, p.5 - 27 5

O ALIENISTA NA LUTA ANTIMANICOMIAL

THE ALIENIST IN THE STRUGGLE AGAINST THE ASYLUMS

Marília Novais da Mata Machado

Laboratório de Pesquisa e Intervenção

Psicossocial (Lapip) – UFSJ

marilianmm@gmail.com

Izabel Christina Friche Passos

Laboratório de grupos, instituições e redes

sociais (Lagir) – UFMG

izabelpassos@fafich.ufmg.br,

izabelfrichepassos@gmail.com

Marcos Vieira-Silva

Laboratório de Pesquisa e Intervenção

Psicossocial (Lapip) – UFSJ

mvsilva@ufsj.edu.br

RESUMO

O conto O alienista, de Machado de Assis, escrito em 1882, suscita ainda sérias

controvérsias no meio psiquiátrico. Este trabalho traz os resultados de uma análise do

discurso de dois corpora: (1) o conto e (2) os artigos de Piccinini (escritos em 2000 e

em 2006) e de Amarante (de 2006) que citam O alienistae o colocam como pivô de

disputas hodiernas. Analisando o contexto dos discursos investigados, busca-se

apreender e explicitar as diferentes teorias e concepções relativas à saúde e à doença

mental que os atravessam. O primeiro discurso foi produzido no final do séc. XIX e os

outros na primeira década do séc. XXI. Na análise dos textos, é dada atenção especial

à figura de Simão Bacamarte, o alienista, presente nos dois corporae atuando como

um verdadeiro analisador do campo de saber psiquiátrico. A articulação de texto e

contexto permite responder à questão que aparentemente é o pivô da disputa – quem

foi o modelo usado por Machado de Assis para criar o personagem Simão Bacamarte?

– e demonstra como a redução da disputa a essa questão camufla tensões,

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oposições, polarizações e antagonismos muito mais importantes, relativos à definição

e redefinição da loucura e da saúde mental.

PALAVRAS-CHAVE: O alienista, Machado de Assis, Análise do discurso,

Movimento de luta antimanicomial.

O alienista, um conto que ainda desperta controvérsias

Uma busca na internet, realizada a 22 de março de 2011, mostra

aproximadamente 52300 entradas para “Machado de Assis” “O alienista”, o

que, sem dúvida, é um bom atestado da atualidade doconto escrito em 1882.

Em meio a essas entradas, destaca-se polêmica envolvendo os psiquiatras

Piccinini (2000; 2006) e Amarante (2006). Não se trata de uma simples

discussão sobre modelos que inspiram a criação de Simão Bacamarte, como

pode parecer à primeira vista, mas abrange a definição e redefinição da

psiquiatria e as atuais disputas internas desse campo, como se tenta

demonstrar neste artigo.

Para tanto, dois corpora

1

foram analisados a fim de entender por que o

conto machadiano ainda gera tanta polêmica: (1) o conto e (2) os artigos de

Piccinini (escritos em 2000 e em 2006) e de Amarante (de 2006), que o citam e

o colocam como pivô de disputas hodiernas.

Em linhas gerais, a controvérsia pode ser vista nas sequências

discursivas apresentadas a seguir. Em 2000, em texto sobre a história da

disciplina, Piccinini escreve:

Extraímos de Machado de Assis a afirmação do "alienista", dr. Simão

Bacamarte a frase "pensava que a loucura fosse uma ilha, mas é um

continente". Continente envolvido em brumas que aos poucos são

1

O corpus utilizado para a análise de O alienista foi a íntegra do conto publicado como

livro, em formato pequeno (ASSIS, 2007); para apoio nas citações, utilizou-se o texto de 36

páginas da Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro http://www.bibvirt.futuro.usp.br,

digitalizado com base em Assis (1994). Os corpora para a análise da polêmica de Piccinini

(2000; 2006) com Amarante (2006) foram os respectivos artigos, na íntegra.

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penetradas pelas luzes da ciência que permitem certa visibilidade

sobre sua forma, geologia, composição, o que permite que nos

afastemos das ideias mágicas ou preconceitos sobre suas origens e

significado.

(Aparentemente nosso Machado de Assis criou o personagem do

alienista parodiando o Dr. José da

...

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