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O Demmatau Futebol e Sociedade

Por:   •  5/3/2023  •  Trabalho acadêmico  •  5.802 Palavras (24 Páginas)  •  49 Visualizações

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O futebol no Brasil

reflexões sobre paisagem e identidade através dos estádios

Gilmar Mascarenhas

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MASCARENHAS, G. O futebol no Brasil: reflexões sobre paisagem e identidade através dos estádios. In: BARTHE-DELOIZY, F., and SERPA, A., orgs. Visões do Brasil: estudos culturais em Geografia [online]. Salvador: EDUFBA; Edições L'Harmattan, 2012, pp. 67-85. ISBN 978-85-232- 1238-4. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

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O futebol no Brasil: reflexões sobre paisagem e identidade através dos estádios[pic 4]

Gilmar Mascarenhas

Introdução

Ao longo da primeira metade do século XX, o futebol se disseminou completamente pelo Brasil, tornando-

-se fator de integração territorial e um dos mais po- derosos  elementos  definidores  da  nacionalidade. Para aquilatar um pouco da sua importância e ubi- quidade, basta um mirar panorâmico sobre qualquer porção de seu vasto território. Mesmo nas mais re- motas regiões, notar-se-á que dois objetos na paisa- gem caracterizam o essencial de nosso ecúmeno: um pequeno templo católico e  um campinho de  futebol.

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Costuma-se dizer que a capela pode eventualmente faltar, pois haverá sem- pre aquela outra do povoado mais próximo. Mas não o campinho, lugar de animado encontro regular domingueiro, centralidade que comparece como unidade básica referencial na vida de relações.

O presente capítulo pretende abordar o futebol, este vigoroso agente produtor de paisagens, tradições e identidades, seu significado e expressão na cidade. Uma forma simbólica que, desde sua introdução e difusão no urbano brasileiro nas primeiras décadas do século XX, vem apresentando intensas transformações, efetivamente combinadas à dinâmica mais geral da sociedade.

Inicialmente, o futebol no Brasil se estabeleceu como uma prática cir- cunscrita a empregados de firmas britânicas e a certos jovens da elite, de- sejosos de adotar aspectos “civilizadores” do modo de vida europeu. Uma atividade discreta que se espacializa apenas esporadicamente em parques públicos, praias e praças. Posteriormente, com a popularização do futebol, e o concomitante advento do profissionalismo, se disseminam os estádios, equipamentos erigidos exclusivamente para a prática deste esporte, e que atuam como lugar fundamental na construção e reprodução de identida- des sociais. (Hughson, 1998, p. 407)

Os estádios, que pretendemos pensar enquanto paisagem-marca (Ber- que, 1998) da magnitude do futebol, apresentam uma trajetória de mudan- ças, em seu porte, ou em termos de localização, arquitetura e significado. Enquanto paisagem, não apenas têm sua inscrição formal na configuração do território, mas precisam se reproduzir através de rituais públicos re- gulares. (Cosgrove, 1998, p. 115) Tal função nos estádios é cumprida pelos duelos clássicos entre grandes clubes rivais, que periodicamente aglome- ram multidões e  condensam  tensões  e  conflitos  identitários,  compondo o calendário festivo e cultural local. Na cidade de Porto Alegre (capital do Rio Grande do Sul1), Grêmio e Internacional são os clubes que cumprem este papel.

Fundados na primeira década do século XX, Grêmio e Internacional apresentam uma trajetória plena de construção de identidades e, por con-

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  1. O Rio Grande do Sul é um dos 26 estados que formam a Federação Brasileira, e situa-se no extremo sul do país.

seguinte, das alteridades, densamente relacionadas a lugares e grupos so- ciais. Enquanto entidades rivais e de ampla penetração social, convergem para si praticamente todas as tensões e identidades que permeiam a evolu- ção da sociedade gaúcha no transcorrer do século, forças que se expressam no simbolismo da paisagem produzida.

O capítulo se divide em três segmentos. No primeiro, tecemos breve- mente nossos pressupostos teórico-metodológicos, buscando enquadrar o fenômeno futebol como forma simbólica dotada de expressões identitá- rias e produtora de paisagens. Na segunda parte, tratamos do processo de popularização do futebol no Brasil, que produziu a paisagem urbana de grandes estádios, bem como sua base geográfica, marcada pela forte influ- ência local, a condicionar o contexto de formação de identidades em torno dos clubes. A terceira parte, a mais extensa, analisa o caso da cidade de Porto Alegre e seus dois principais clubes de futebol como síntese de con- flitos ou ambiguidades identitárias no interior da sociedade. Destacamos a paisagem mutante do futebol, este universo de práticas e representações que evolui e se transforma profundamente no transcorrer do século XX.

Identidades e paisagens do futebol: breves notas

O conceito de paisagem cultural emerge com vigor nos anos 1980, no contexto da virada cultural da geografia, mas, de acordo com Andreotti (2007, p. 23), permite ainda um numero infinito de interpretações. Veja- mos como aplicar tal conceito ao estudo do futebol e mais precisamente de seus estádios. Devemos antes registrar que o fato esportivo ainda não foi devidamente incorporado a estudo geográfico, condição que dificulta nossa aventura. Mas encontramos suporte em Augustin e Dupont (2006,

p. 4), que afirmam a necessidade de inserir, no estudo das culturas urba- nas,

pratiques ludo-sportives qui participent largement a d´autres imaginaires urbaines. Les foules se rassemblent dans les espaces publiques ou dans les cathédrales de béton pour participer hors du temps profane à dês celebra- tions multiples.

Segundo Cosgrove (1998, p. 98), a paisagem é, mais que um objeto tan- gível, uma maneira de ver o mundo. Entendemos que a principal forma/ paisagem no futebol moderno é o estádio. Um estudo de geografia cultural deve, pois, abordá-lo não apenas como um grande equipamento dotado de uma poderosa semiótica, mas como conjunto de relações sociais que dele se apropriam e o re-significam.

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