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Análise Fílmica e Semiótica de Maria Antonieta

Por:   •  1/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.864 Palavras (8 Páginas)  •  134 Visualizações

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CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO

JULIANA ALVES DA SILVA

VINÍCIUS OLIVEIRA DE SOUZA RODRIGUES

ANÁLISE FÍLMICA

Discussão sobre o cinema pós-moderno e breve análise semiótica

Salto – São Paulo

2018

JULIANA ALVES DA SILVA

VINÍCIUS OLIVEIRA DE SOUZA RODIGUES

ANÁLISE FÍLMICA

Discussão sobre o cinema pós-moderno e breve análise semiótica

Análise fílmica e semiótica, apresentada ao Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, como parte das exigências para a obtenção da nota A2 nas disciplinas de História do cinema contemporâneo e Semiótica e comunicação.

Salto, 09 de maio de 2018.

  É importante esclarecer a diferença, desde o início, entre pós-modernidade e pós-modernismo. No livro “História do cinema mundial”, Renato Luiz Pucci Jr identifica pós-modernidade como um conceito histórico, e pós-modernismo como um conceito referente a um campo cultural. Portanto, nem todas as obras podem ser consideradas pós-modernistas em um contexto pós-moderno. Com base nessa afirmação é possível sustentar um debate sobre o pertencimento ou não de obras audiovisuais nessa configuração pós-modernista.

  Muito se discute sobre a legitimidade não só das pautas debatidas na pós-modernidade, mas também sobre a credibilidade de obras (principalmente audiovisuais) que se sentem contempladas nas características pós-modernistas. Ao se levar em consideração que a pós-modernidade sucedeu um período de contestações significativas, onde a esmagadora maioria das obras desse ramo artístico trazia consigo discussões políticas profundas e questionava os padrões vigentes, é compreensível que alguns teóricos afirmem, de maneira imediata, que as obras pós-modernistas não tenham o mesmo teor das obras modernistas precedentes.

  Caracterizado, principalmente, pela oposição aos moldes do Cinema Clássico, o Cinema Moderno representa um meio de revelação do discurso, de problematização de diversos modelos estabelecidos e de posicionamento político evidente. Essas características inseridas num contexto onde obras cinematográficas se destacam pela monumental idade, pelo virtuosismo, pela aceitação fetichista da tecnologia, pelo antinaturalismo e pela utilização de elementos de filmes antigos (PUCCI, 1996, p.216), fazem com que a validade das obras seja questionada por aqueles que não aceitam a capacidade de um filme de sustentar um debate coeso usando uma linguagem baseada em elementos diferentes aos usados no Cinema Moderno e democratizando as questões debatidas pelas obras. Simultaneamente, era criticada a aparente posição apolítica com discussões fúteis, por uns, e reconhecida e valorizada a liberdade dentro de uma sociedade tradicionalmente opressora, por outros.

  Aliada a semiótica, essa análise que reflete sobre a adequação de obras nos moldes pós-modernistas permite uma visão ampla dos significados presentes nos elementos de linguagem cinematográfica com essa estética, e expande o número de possíveis interpretações desses elementos escolhidos para as obras.

  Maria Antonieta é um filme de Sofia Coppola que conta um período da vida da rainha da França no final do século XVIII. O elemento que possivelmente tem maior destaque na obra de Sofia é a inserção de peças naturais das últimas décadas do século XX, como a trilha musical, por exemplo; em meio a músicas correspondentes com a época retratada no filme, existem canções conhecidas do pop rock dos anos 70 e 80 e rock contemporâneo. Algumas escolhas da diretora, apesar de causarem estranhamento, trazem consigo um grau de familiaridade. Essa sensação de familiaridade, na linguagem do filme, é vital e é usada como mecanismo para lembrar o espectador a todo tempo que a trama, com todas as suas complexidades e transformações, gira em torno de uma jovem de 14 anos que passou por momentos decisivos em sua vida durante a adolescência.

  A força do filme de Sofia Coppola está na abordagem incomum de um tema desgastado pelo uso, que valoriza todas as características de seu filme e as valida como ferramentas para um debate amplo sobre o lugar ocupado pela mulher na sociedade. Analisando de acordo com os conceitos de Linda Hutcheon (1991, apud PUCCI, 2006, p.371), a obra de Sofia se encaixaria nas características de filme pós-moderno, uma vez que este é considerado híbrido de ilusionismo clássico e distanciamento modernista. Além de que são identificáveis recursos não clássicos na obra, que se articulam a fim de romper o que o senso comum admite como semelhante ao real, mas sem restringir o público a uma parcela intelectual, facilitando o acompanhamento da narrativa (ibid., p.372-373).

  As características do recorte temporal do século XVIII, que se confundem com elementos mais atuais, presentes na trilha musical e em alguns elementos de cena, tem correspondência com o conceito de Hutcheon, que menciona essa hibridez no cinema pós-moderno. Outro aspecto de Maria Antonieta que merece destaque para análise é a discussão implícita sobre o lugar que uma mulher ocupa na sociedade.

   A amplitude das situações vividas por Maria Antonieta durante a sua adolescência é exposta ao longo do filme todo e, aos poucos vão sendo revelados para o espectador os efeitos causados por cada um desses acontecimentos. É perceptível a carga de responsabilidade imposta sobre a arquiduquesa em todas as situações que implicam interesses de terceiros, como, por exemplo, a exigência de abandonar sua vida na Áustria aos 14 anos e casar-se com o delfim de França, Luís Augusto, em uma tentativa de estabelecer laços com um inimigo histórico. Ou a pressão para consumar o matrimônio e gerar um herdeiro do trono.

  Maria Antonieta foi introduzida em uma vida carregada de responsabilidades e compromissos que demandavam maturidade e posicionamento, mesmo estando no auge da adolescência e, justamente, por essa razão ela construiu a figura retratada no filme de Sofia Coppola. Vários elementos na obra têm caráter hiperbólico: o figurino da nobreza, as festas, as refeições, o próprio Palácio de Versalhes, até o consumo de Maria Antonieta com relação a bens materiais. Esse viés de excessos e intensidade, associado aos elementos contemporâneos inseridos nesse contexto de época podem ser traduzidos como uma alusão ou um lembrete constante da juventude e de suas características, que são sempre tão marcadas no filme. Nesse debate sobre a posição de Maria Antonieta, enquanto mulher, na sociedade é interessante considerar também o grau de maturidade. Restringindo essa noção de amadurecimento precoce à época que o filme retrata, a relevância dessa discussão pode ser contestada, uma vez que essa prática era comum em sociedades dos séculos passados. Contudo, o filme possui esse caráter pós-modernista, mas que, ao invés de fazer a utilização explícita e irônica de elementos de filmes antigos, ambienta a obra inteira no contexto de uma sociedade do século XVIII, com hábitos completamente elitizados, para questionar a construção da imagem de Maria Antonieta a partir de uma expectativa de amadurecimento de uma pessoa tão jovem em situações tão decisivas e categóricas quanto as que ela foi inserida.

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