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Crônica Doce Desilusão

Por:   •  22/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  575 Palavras (3 Páginas)  •  140 Visualizações

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Doce Desilusão

Semana passada, minha mulher e eu decidimos fazer um almoço com os amigos, no domingo. Nada de mais, coisa simples, só os mais chegados. E enquanto eu tirava os pratos e as visitas riam alto, eu via minha esposa com o canto dos olhos se aproximando com uma caixa de bombons nas mãos, opção para os que não comiam manjar branco.

Eu, que tinha ainda de completar meu dever como anfitrião, levar os pratos para a pia e pegar os copos para as bebidas, me pus, enquanto caminhava, a pensar de forma vaga, naquele sentimento reconhecível que a caixa de chocolates deixava para trás.

A caixa de bombons é uma daquelas delicatéssens que todos conhecem, as quais se assemelham muito ao contato com um ambiente novo e desconhecido. No primeiro momento há apenas o entusiasmo, embalagens coloridas, muitas opções de escolhas que podem ser feitas, mas sempre são os bombons recheados vão primeiro. Os de creme de avelã, creme branco, chocolate cremoso, enfim, apenas felicidade e o orgulho de ter comprado aquela caixa de pequenas satisfações.

Conforme os bombons recheados acabam, todos se entreolham de uma maneira um tanto suspeita, e de maneira mais suspeita ainda para a bendita caixa. Restam os bombons de amendoim, os não recheados, os de fruta e aqueles que ninguém realmente encontra em nenhum outro lugar além do interior de uma caixa de chocolate.

Todos tentam, da melhor forma possível, pegar o maior número de chocolates, sem parecerem rudes, mesclados em risadas quase distraídas, e espiadelas na direção genérica onde a caixa está.

Acabam então os bombons de amendoim, os crocantes, e os de coco, que são aceitos nas grandes rodas, por falta de opção melhor.

Agora é o ponto onde o entusiasmo de estender a mão à caixa já não é tanto, e poupam-se olhadas fugazes na direção da mesma, onde os bombons de fruta e aqueles que não se reconhece estão parados, observando, julgando.

Um aventureiro estende a mão para um bombom sem recheio, por nenhuma outra razão além da gula, e os outros o observam com cautela, sendo forçados pela convenção social, então, a fazerem o mesmo.

Restam então, dois bombons que jamais se verá além dali, um bombom não tão bom de banana, e um bombom crocante, que gruda nos dentes.

E o assunto é dado por encerrado.

Até o começo da tarde, mais dois bombons somem, ninguém realmente sabe como, mas nenhuma questão é levantada.

No fundo da caixa sobram então, o bombom de banana, que de bom tem apenas o nome, e o bombom crocante que exige demais da dentição de um adulto sem muito cálcio nos dentes.

Os participantes da mesa sentem-se, então, responsáveis pelo termino do sofrimento daquela caixa, que pesa todas as vezes que olham para ela, o anfitrião silenciosamente aguarda que alguém faça algum movimento, pois também não quero portar nenhuma responsabilidade sobre os restos mortais daquela antiga glória, há muito desbotada.

Limpa a garganta um dos convidados, e já na saída, guarda um dos bombons no bolso, sem dar muita atenção a qual.

Resta então aquele único bombom solitário, deixado para trás sobre os olhos de desprezo dos demais.

E fica, e fica, até que por piedade, dias depois, alguém se encarrega de comê-lo para poder jogar a caixa fora, que a essa altura, já ocupava espaço hábil.

Enquanto voltava para a sala, munido de copos e meus pensamentos, minha mulher e os outros pegavam da caixa enquanto riam-se de alguma coisa que havia sido dita.

Suspiro, e decido que prefiro o manjar.

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