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Neon Genesis Evangelion

Por:   •  24/11/2021  •  Resenha  •  1.999 Palavras (8 Páginas)  •  125 Visualizações

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Neon Genesis Evangelion: O mal necessário

Nome: Fernanda Laura Araújo

Turma: CCM, matutino

  1. Introdução

No anime lançado em 1997 de Hideaki Anno, Neon Genesis Evangelion, temos mais do que um gênero Mecha de fantasia e ficção, mas uma infinidade de reflexões filosóficas em meio a um futuro distópico entre Evas, humanos e anjos. Na trama, que se passa em 2015, temos uma Tokyo devastada pelos anjos, seres desconhecidos extraterrestres, que destruíram boa parte do planeta causando desequilíbrio ambiental e medidas drásticas de proteção para essas ameaças. Nisso, o órgão responsável pela organização e proteção se chama SEELE, comandada por Gendo Ikari, chefe e cabeça da iniciativa EVA. A animação conta sobre Shinji Ikari, filho de Gendo, que precisa lutar nos EVAs para impedir os ataques de outros anjos, juntamente com Rei Ayanami, Asuka Langley, e a sua tutora Mitsuku. Nisso, o anime fala mais sobre os EVAs, que são as inteligências artificiais que são pilotadas pela consciência de pessoas, e sim sobre a complexidade das ações humanas.

Quando tratamos esse anime como um “mal necessário”, estamos falando do principal acontecimento dele, que se encontra no seu clímax: o plano de instrumentalização humana, feito e pensado pela SEELE, uma agência de tecnologia e inteligência.  Esse plano se constitui em criar uma nova realidade, basicamente um “reset” na humanidade, onde a SEELE se julga a responsável por agir em nome divino e fazer o pecado desaparecer do mundo, como eles afirmam, o próprio pecado cometido pela humanidade que proporcionou todo aquele cataclisma. O mal, que seria a chegada de Adão, o primeiro anjo, juntamente com todos os outros anjos que iriam causar a destruição, era o fruto de todo o pecado de uma humanidade imperfeita, e como torná-la perfeita, se não fazendo a todos uma consciência só? A SEELE interfere e age como Deus, com a justificativa de que o mal para livrarmos-nos do mal acometido, era realizar a instrumentalização humana, um processo que iria levar todas as almas humanas a serem extintas criando apenas uma perfeita e livre do pecado,  que apenas era outra ação cruel em meio a imperfeição.

  1. O mal e o sagrado

Para a compreensão do mal, vou analisar da perspectiva em que os mitos da religião se misturam com o poder de Deus e da ação humana. Em evangelion, temos os anjos, supostos enviados divinos, que não são seres mensageiros, mas sim do extermínio. No texto “ a luz contra as trevas”, de Julvan Moreira de Oliveira, ele explica que a simbologia dos anjos para os hebreus para o mal foi de que ele era resultado do pecado da humanidade. Iahweh fez a raça humana feliz no Jardim do Éden, mas o primeiro casal desobedeceu e, em consequência, foi expulso do Paraíso. A  abertura  com  que  começa  a  Bíblia,  apresenta-nos  um  mundo  criado  por Iahweh e, enquanto tal, bom, no qual o homem, “imagem de Deus”, preside uma realidade harmônica e pacífica. Nisso, o cataclisma causado pela chegada do anjo Adão força a humanidade a se adaptar, porém todos sabem que é uma questão de tempo até o último anjo chegar a causar mais um impacto. O ponto principal é a SEELE se passa pelo divino ao estabelecer o destino de uma humanidade, e como exatamente os anjos poderiam ser divinos, e causar tanta destruição para humanidade? No texto “o Mal e o sagrado” de Walter Ferreira Salles, sobre traços da antropologia filosófica de Paul Ricoeur,  em suscitar o desejo de pensar mais e de maneira diferente o conflito interpretativo que perpassa a questão do mal como possibilidade de dissolução do elo entre o ser humano e seu sagrado, algo que concerne diretamente à prática das diversas tradições religiosas:

“A possibilidade da ação das religiões sobre o homem capaz de ser bom e justo leva-nos a situar a libertação da bondade original na perspectiva da esperança. A consideração do mal radical obriga a ligar de maneira estreita a realidade efetiva da liberdade a uma regeneração, que é o próprio conteúdo da esperança, e ajuda a compreender que a liberdade de escolher ao manifestar o mal na história torna-se um não poder. Entretanto, a inclinação ao mal permanece uma maneira de ser da liberdade que vem da própria liberdade (RICOEUR, 1969, p. 412-413). Ainda que não seja a origem do mal, é o ser humano que escolhe dar continuidade a algo que lhe precede; há um mal que começa e continua, e que sofre, e contra o qual deve agir. A esperança é uma negação da realidade do mal, uma resposta da superabundância do sentido ao sem-sentido, não na perspectiva da falta, da ausência {...}.”

Tal trecho liga-se com o fato de que embora Deus trouxe o chamado mal, a humanidade continuou a combater o mal com o pior, com a justificativa de que estava sendo divino e aplicando a justiça, o que supostamente Deus deveria estar fazendo. Pois a humanidade é falha, e Deus é perfeito, mas como ser perfeito poderia ser perverso? seria isso para o bem? Então porque não repetir o suposto bem através da crueldade. Embora praticar o mal pareça ser a dissolução com o sagrado, como Salles explica, devemos questionar na realidade do anime, como repetir as ações foi considerado pela humanidade uma forma de solução e de aproximação ao sagrado. Em sua tese ele finaliza também dizendo “ No mundo globalizado em que vivemos, um mundo apequenado, no qual as diversas tradições culturais e religiosas encontram-se e confrontam-se, talvez o melhor caminho para o diálogo não esteja na discussão dogmática em torno de possíveis verdades teológicas. O sentido e o futuro das tradições religiosas no mundo contemporâneo passam por aquilo que Paul Ricoeur insistiu e que foi o fio condutor desta reflexão: libertar o fundo de bondade que existe em todo ser humano, libertando-o para a prática da justiça como manifestação do amor que dá sentido à vida.” o que se conecta também com a ideia que a SEELE e ideia de libertação de bondade em todo ser humano, transformando todos numa consciência perfeita, afinal quem é perfeito é de todo bom. Outro ponto é como as ações dos personagens dos próprios personagens se encontram ligados a ação teológica, e que são movidas por uma falsa ideia de lutar pela humanidade e por si mesmos em busca de libertação, como acontece com Shinji, Rei, Asuka, os pilotos dos EVAS que são usados pela SEELE, acabam como vítimas de ações inconsequentes. Além disso, todos cometem ações cruéis, e vão se destruindo cada vez mais por estarem lutando por uma causa determinada e perdida, que no final resulta na instrumentalização humana. Na auto aceitação de cada um, de se compreender se amar, fazem que eles criem a ligação perdida com o divino, ainda que controverso por um meio cruel.

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