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A Dimensão Cultural Do Ser Humano

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Por:   •  27/10/2014  •  1.829 Palavras (8 Páginas)  •  480 Visualizações

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A cultura como dimensão específica do humano

Na sua reflexão antropológica,× Duch, dedica uma grande atenção à dimensão cultural do ser humano. Para ele o problema decisivo de qualquer articulação antropológica coloca-se, como já vimos, na tensão existente entre uma unidade estrutural e uma diversidade cultural. Tentar saber que é o ser humano constitui, sem dúvida, a pergunta antropológica por excelência. O que se pretende é chegar a entender o que configura a condição humana como tal, independentemente das diversas situações concretas em que este se possa encontrar. Mas a este ‘em si’ da humanidade, só se pode chegar através das suas concretizações históricas e culturais. Aquilo que o ser humano é ‘em si’ só pode ser verdadeiramente percetível através daquilo que ele manifesta.Ao colocar a questão desta maneira aquilo que se afirma é que a cultura não pertence apenas ao âmbito do fazer, mas, pelo contrário, situa-se no âmbito do ser. Neste sentido,× Duch afirma sem qualquer hesitação que é «a disposição cultural do ser humano e não as possibilidades da sua dotação genética que constitui a sua verdadeira natureza.» O próprio processo de humanização, começado há mais de 15 milhões de anos, é revelador do que se acaba de afirmar: o ser humano vai tornando-se, digamos assim, cada vez mais humano na constante e progressiva PASSAGEM de uma mera adequação genética ao mundo envolvente a uma progressiva e marcante adaptação cultural. Deste modo, podemos descartar, como insuficiente e incorreta, a distinção entre homem primitivo e homem cultural, pois quando falamos em ser humano estamos sempre a falar em ‘homem cultural’, ainda que existam, como sabemos, grandes diferenças no que se refere ao património cultural. Desde o primeiro momento da sua presença no mundo, o ser humano é um ser cultural.

É verdade que, por um lado, o ser humano pertence ao que podemos chamar o mundo natural. Este constitui um espaço fundamental para a sua existência. As alterações que aí se verificarem, marcam-na indubitavelmente, facilitando ou dificultando o seu viver. O ser humano não pode, de modo nenhum, viver sem natureza. Ela é, em certo sentido, a sua casa e pertence à sua própria constituição. Contudo, basta um olhar um pouco mais atento para a experiência humana para se perceber que esta vai muito mais além do que é o ‘mero natural’. Para confirmar este dado, basta ver como o instinto é claramente insuficiente para que possamos falar em vida propriamente humana. De forma diferente do ANIMAL, o ser humano necessita de muito mais do que do instinto, para ter garantia de êxito no desempenho da sua tarefa.

Isto é de tal maneira evidente que, no caso do ser humano, nem sequer podemos considerar que os seus instintos sejam meramente naturais, uma vez que na sua vida concreta eles sempre aparecem configurados e mediados por uma determinada cultura. E a razão parece ser simples, é que o ser humano nem se encontra completamente ‘fixado’ pelos instintos que são próprios da sua espécie, nem se acha limitado e pré-definido pelas possibilidades, também sempre limitadas, que lhe oferece um determinado meio natural, sendo muitos outros fatores que intervêm de maneira decisiva na sua instalação no mundo. A vida instintiva é claramente insuficiente para que o ser humano possa realizar o seu trajeto vital desde o nascimento até à morte, pelo que obrigatoriamente necessita de desenvolver outras capacidades e competências.

Entre elas podemos destacar a capacidade, que simultaneamente é uma necessidade, que tem de se distanciar do seu «centro de vida», para sobre ele refletir e atribuir significados. Tal capacidade está vedada aos animais, os quais jamais podem deixar de viver no «centro» que lhes é próprio e que se encontra inscrito na sua instintividade característica. De facto, o ANIMAL só pode ser texto, enquanto ser humano obrigatoriamente tem de procurar os contextos. Ele é consciente do seu «centro», que faz verdadeiramente seu a partir de um processo que à primeira vista até pode ser considerado paradoxal, pois é na medida em que se desloca desse centro, para desde fora o refletir, que pode então fazê-lo humanamente seu. Neste sentido,× Duch chama ao ser humano um ser «excêntrico».

O próprio acesso do ser humano à realidade que o rodeia vem ainda sublinhar mais esta intuição. Para ele, a realidade na qual se insere e sem a qual não pode viver, nunca pode ser apreendida de uma maneira direta. O seu acesso ao real é sempre mediado e condicionado, pois a realidade não está à sua disposição de uma maneira bruta e natural. De certo modo, a natureza como natureza é inacessível ao ser humano, porque tudo o que ele faz pensa e sente, é sempre feito, pensado e sentido a partir de uma determinada perspetiva cultural. Só através deste tipo de mediação ele pode aceder ao ‘mundo natural’ para o fazer seu, para o humanizar, de modo a possibilitar a concretização de uma vida que não seja simplesmente vida, mas que seja efetivamente vida humana.

Pertencendo à natureza o ser humano supera-a constantemente como criatura criadora, ou seja, jamais poderá deixar de ser um criador de cultura sempre ‘obrigado’ a instituir determinadas formas de relação e esquemas operativos que, em cada aqui e agora, o ajudem a concretizar a sua tarefa de pensar a realidade e de pensar-se a si mesmo. De facto, até na construção da sua identidade pessoal é possível descobrir esta presença mediadora da cultura. Face à inevitável pergunta quem sou eu? (pergunta que acaba por levantar também a questão da identidade dos outros) a resposta obrigatoriamente está marcada pelos diversos contextos em que se processa. O próprio conceito de pessoa revela idêntico processo. Todos sabemos como no contexto da chamada mentalidade primitiva o conceito de pessoa e a ideia do eu é algo que não tem a tematização que hoje lhe damos. Eles foram-se lentamente desenvolvendo ao longo dos séculos e ainda hoje se encontram num processo de constante e necessária reelaboração. Hoje somos, por exemplo, capazes de afirmar que os nossos primeiros antepassados viviam ‘cosmologicamente centrados’, enquanto nós vivemos ‘antropologicamente centrados’. Claro que esta ‘nova’ orientação da existência humana só pode ser sustentada pela ‘descoberta’ e pela ‘convicção’ de que o ser humano é um ser pessoal e histórico.

Sem dúvida que este passo significou um momento de absoluta importância na historia da cultura europeia, uma vez que permitiu a edificação do ser humano a partir da sua própria responsabilidade e decisão. Mas, também sem dúvida, ele revela como a perspetiva própria de cada cultura oferece os princípios

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