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A PASSAGEM DO MODELO REALISTA TRANSCENDENTE PARA O IMANENTE ATRAVÉS DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Por:   •  11/8/2019  •  Ensaio  •  1.797 Palavras (8 Páginas)  •  170 Visualizações

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A PASSAGEM DO MODELO REALISTA TRANSCENDENTE PARA O IMANENTE ATRAVÉS DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Graziela Hoffmann

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

grazielakhoffmann@gmail.com

Resumo: Este ensaio busca um maior esclarecimento de uma das críticas dirigidas de Aristóteles a Platão, o argumento do terceiro homem. Para tal, é feita uma breve análise da ontologia de ambos os filósofos e, ao final, apresentado o argumento.

Palavras-chave: argumento do terceiro homem, modelo imanente, modelo transcendente.

Introdução

Os filósofos que sustentam que devemos apelar aos universais para explicar a natureza das propriedades e relações são chamados de “realistas de propriedades”. Tanto Platão quanto Aristóteles são considerados realistas de propriedades, porém, entre suas teses, há uma diferença de pensamento que faz com que a tese do primeiro seja considerada uma concepção transcendente e, a do segundo, imanente.

Dentre outras, o argumento do terceiro homem é um dos argumentos que foi utilizado por Aristóteles para criticar a teoria das ideias de Platão. Esta teoria exige um dualismo, duas realidades opostas, então verificaremos se o argumento do terceiro homem constitui uma dificuldade efetiva ao realismo transcendental de Platão.

Ontologia platônica

A metafisica desenvolvida por Platão é dualística, baseada em uma divisão de dois mundos opostos e coexistentes: o mundo sensível e o mundo das ideias. Como de costume, Platão apresenta suas ideias ontológicas através de mitos. De acordo com o filósofo o mundo concreto no qual vivemos foi criado por um ser determinado, o qual chama de demiurgo, demiurgo criou os seres sensíveis (materiais) a partir dos seres inteligíveis, os seres sensíveis seriam cópias imperfeitas dos seres inteligíveis. Os seres inteligíveis são o que Platão vem a chamar de ideias, sendo inteligíveis, são seres eternos e são apreendidos somente pela mente, enquanto os sensíveis estão em mudanças constantes e são apreendidos pelos sentidos.

O mundo inteligível ou o mundo das ideias serve de modelo para o mundo sensível, os seres do mundo sensível participam de uma ideia presente no mundo inteligível. O universo das ideias é uma realidade autônoma e seus seres são eternos, imutáveis, transcendentes e abstratos. As ideias são consideradas transcendentes porque estão no mundo separado do sensível, são transcendentais, no sentido de existirem em outro mundo e, neste caso, é o mundo inteligível. Também esses seres são abstratos, porque são imperceptíveis pelos sentidos, pois nossa compreensão é feita somente pelo pensamento.

Os seres do mundo sensível são corpóreos e sua relação com os seres inteligíveis se dá através desta suposta participação do sensível no inteligível. Assim, as coisas sensíveis possuem determinados atributos, justamente porque há uma participação delas no inteligível. Por exemplo, a propriedade amarela, presente em muitos seres sensíveis, participa de uma única ideia de amarelidão que habita no mundo das ideias – as ideias do mundo inteligível, nos termos platônicos, são determinadas “formas”. As formas sendo eternas, imutáveis, transcendentais e abstratas constituem o modelo para a criação dos seres concretos.

Alguns autores sugerem que dentro do discurso platônico há certa dificuldade em definir exatamente se as formas seriam o que hoje entendemos como universal isso porque Platão carece de termos técnicos para “particular” e “universal”, em parte porque o contraste entre universal e particular não é uma de suas preocupações centrais, sua preocupação principal seria argumentar pela existência de um determinado tipo de entidade não sensível, as formas. Mas levando em consideração sua proposta, pode-se concluir que o universal aplicado na ontologia de Platão é um ser real que existe no mundo das ideias. Por sua vez, o mundo sensível seria aquele onde existem os seres particulares. Nos termos de Platão, os particulares também podem ser denominados de sensíveis ou concretos e, os universais, de Ideias ou formas. [1]

Ontologia aristotélica

Já Aristóteles por sua vez valoriza o mundo material e, na sua investigação ontológica, desenvolve a teoria da substância. De acordo com esta teoria, a realidade é composta de dois tipos de entidades: o ser e os acidentes ou as propriedades. O ser é a entidade que existe por si, enquanto que os acidentes necessitam de algo para existir. Assim, qualquer tentativa de descrever a realidade deverá usar essas duas entidades. Para compreender a questão dos universais em Aristóteles é necessário antes entender sua teoria da substância. Na metafísica, Aristóteles denomina a substância primeira de substrato. O termo “substância” deriva do termo grego ousia, um substantivo da língua grega formado a partir do feminino do particípio presente do verbo "ser", que hoje corresponde à ideia de “essência”.  Na Metafísica, Aristóteles define substância como:

  1. Os corpos simples, do que são exemplo a terra, o fogo, a água e similares; e, em geral, os corpos e as coisas deles compostos, animais e divinas, incluindo as partes destes. Todas essas coisas são chamadas de substância porque não são predicadas de nenhum sujeito, embora tudo o mais seja predicado delas.
  2. Aquilo que, estando presente em tais coisas, que não são predicadas de um sujeito, é a causa de seu ser, como, por exemplo, no animal a alma é a causa de seu ser.
  3. Todas as partes presentes nas coisas que são definidoras e indicadoras de sua individualidade e, cuja supressão acarreta a supressão do todo, como, por exemplo, segundo alguns, o plano suprimiria o corpo e a linha o plano. Alguns pensam que o número em geral também seja dessa natureza, sob o fundamento de que se ele fosse suprimido nada existiria, sendo ele o que determina tudo.
  4. A essência, cuja fórmula é a definição, também é chamada de substância de cada coisa particular.[2]

A partir daí Aristóteles introduz a ideia de substrato que seria a substância básica, aquilo de que são predicadas todas as outras coisas, enquanto ele não é predicado de nenhuma outra, representa algo sem nenhum atributo, acidente. Quando abstraímos todos os atributos e acidentes de algo, o que resta seria o substrato. A substância como substrato fundamenta-se em dois princípios, distintos, mas complementares: matéria e forma.

A matéria é aquilo que, por si, não é nem algo determinado, nem uma quantidade, nem qualquer outra determinação do ser. A matéria pode ser entendida como aquilo porque uma coisa existe ou quando algo é feito, por exemplo: um cálice feito de cristal, tem o cristal como sua principal substância, o cristal é o fundamento da sua essência. Por outro lado, quando o cristal bruto foi transformado em cálice, adquiriu uma forma, determinação que se entende por forma. A forma determina que uma coisa seja uma coisa e não outra, porém, seu aspecto referencial é meramente acidental e não substancial.

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