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Adorno - Industria Cultural

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Por:   •  12/9/2013  •  3.391 Palavras (14 Páginas)  •  681 Visualizações

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A cultura contemporânea a tudo confere um ar de semelhança, desde os projetos urbanísticos até industrial cultural, impondo o poder dos economicamente mais fortes sobre toda sociedade e mostrando a falsa identidade do universal e do particular.

Todas as condições de produção de cultura de massas são idênticas, os meios técnicos empregados são uniformes, as diferenças são evidenciadas e difundidas dissimuladamente e as qualidades e desvantagens servem para demonstrar uma aparente concorrência e possibilidade de escolha.

Os produtos da indústria cultural que registram a realidade social são produzidos pelo mesmo processo técnico de trabalho. O cinema, as revistas, o rádio, a televisão, a música se autodefinem como indústrias, moldando da mesma maneira o todo e as partes, padronizando a cultura que antes era arte e agora é técnica produzida como mercadoria. Essa padronização, aceita sem resistência resultaria na falta de autonomia dos indivíduos, e na sua dominação inconsciente. Isto ocorre porque o indivíduo está incluído numa sociedade em que seu senso crítico não tem importância.

Ao assistir um filme, o indivíduo é levado a se preocupar mais com o entretenimento, com os atores e personagens, do que com as características ideológicas transmitidas. A produção de um romance já tem em mente o filme até seus efeitos sonoros, desde o começo é possível saber como um filme terminará, quem será punido ou recompensado, até a música o ouvido acostumado consegue adivinhar e sente-se feliz ao ouvi-la. O entretenimento seria uma extensão da dominação, de forma inconsciente, no tempo livre, no momentos de lazer, atuando enquanto desvio de atenção e do pensamento do indivíduo.

Cada produto da indústria cultural, ou seja cada filme ou transmissão radiofônica, é um modelo do gigantesco mecanismo econômico que mantém tudo sob pressão, tanto no trabalho quanto no lazer, que serão espirituosamente e distraidamente consumidos. Tudo o que é produzido tem necessidade de efeitos novos, no entanto permanece ligado a velhos esboços que faz aditar a autoridade do que já foi transmitido.

Na indústria cultural a ideia de estilo como coerência estética é uma fantasia, o estilo autêntico oculta-se como o estilo da dominação, finalmente absolutiza a imitação, reduzindo a obediência à hierarquia social. Aquele que resiste só pode continuar a viver integrando-se e, uma vez assinalado em sua diferença já faz parte dela, sobrevivendo assim a tendência do liberalismo em deixar aberto o caminho para os capazes. Quem não se adapta é massacrado pela impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do excluído. O domínio da razão humana deu lugar ao domínio da razão técnica e os valores da razão humana foram trocadas pelo interesse econômico.

Na produção material, o mecanismo de oferta e procura atua como controle em proveito dos patrões. Os consumidores são os operários e os empregados, fazendeiros e pequenos burgueses, aprisionando-os de corpo e alma que sucumbem sem resistência a tudo que lhes é oferecido, seu conformismo adquire uma boa consciência satisfazendo-se com a reprodução do sempre igual. O marasmo regula a relação com o passado, o dinamismo garante o triunfo universal do ritmo de produção e de reprodução mecânica garantindo que nada mude ou surja que não pode ser enquadrado. A repetição foi o falso denominador comum a que a indústria cultural reduziu os elementos inconciliáveis da cultura, arte e divertimento.

Em razão do interesse do consumidores, as inovações da indústria cultural consistem sempre e tão somente em melhorar os processos de reprodução em massa, levando tudo para técnica e não para os conteúdos rigidamente repetidos e esvaziados, não impedindo que continue a indústria do divertimento. A cultura passa a ser produzida na esfera da circulação e do consumo para o entretenimento e ocupação do tempo livre.

A diversão é o prolongamento do trabalho e a mecanização adquiriu tanto poder sobre o homem, que em seu tempo de lazer pode-se apenas captar cópias e reproduções do próprio processo de trabalho na fábrica cuja única fuga é adequar-se ele mesmo no ócio. Todo prazer não deve exigir esforço intelectual e não deve trabalhar com a própria cabeça. Toda conexão lógica que exija força intelectual é meticulosamente evitada, devem se contentar com a sensação de prazer da situação quase sem nexo interno. Seria a destruição da capacidade crítica da obra de arte, dominando assim os indivíduos. Todos os produtos seriam uma diversão alienante. A ilusão de que o mundo é uma extensão daquilo que se vê no filme faz com que a resignação mostrada habitue os indivíduos a um padrão de comportamento, reproduzindo as pessoas da mesma forma como as modela em momentos de trabalho e de descanso, condicionando-as ao mundo do trabalho.

Até os desenhos animados que eram representantes da fantasia contra o racionalismo, agora confirmam a vitória da razão tecnológica sobre a verdade onde desde a primeira sequência é anunciado o motivo da ação para que durante o seu curso possa exercitar-se a destruição: atirar o protagonista por todas as partes como um trapo, transformando assim a quantidade de divertimento na qualidade da crueldade organizada, vigiando para que a duração do delito prolongado seja um espetáculo divertido e martelando nos cérebros que o mau trato contínuo, a destruição de toda resistência individual, é a condição da vida nesta sociedade.

A indústria cultura, tolhendo a consciência das massas e seguidamente enganando seus consumidores não cumprindo que lhes é prometido, representa a satisfação na sua própria negação convertendo o próprio desejo em privação. Não sublima o instinto sexual mas o reprime e sufoca, coloca a renúncia alegre em lugar da dor, a lei suprema é que nunca se chegue ao que se deseja e que disso até se deve rir com satisfação, oferecendo-lhes algo e ao mesmo tempo privando-lhes dele, fazendo-os acreditar que devem se contentar com o que é oferecido. O divertimento promove a resignação que nele procura-se esquecer, não só manipulando as distrações como estragando o prazer.

Divertimento significa que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, é uma fuga não da realidade mas sim da resistência que a realidade ainda pode ter deixado. A indústria cultural deslealmente realizou o homem como ser genérico, um exemplar absolutamente substituível.

A indústria cultural também realiza da cultura de massa com o trágico, que convertido em momento calculado e aprovado, torna-se a bênção do mundo e o tédio da felicidade consagrada interessante. O

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