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As Mulheres no Conflito Armado do Ruanda

Por:   •  2/4/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.843 Palavras (8 Páginas)  •  458 Visualizações

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As mulheres no conflito
     armado do Ruanda







                                                                                         
                                                                         
                                                                                         




                                                 

2013

O Genocídio e o pós Genocídio



    O genocídio praticado em Ruanda é o evento mais trágico da segunda metade do século passado. Todavia, dez anos depois, ele está quase totalmente esquecido.  Certamente é fato a notável descida no Ruanda na primeira metade dos anos 90 provocada pelo genocídio.
   A Ruanda pré-colonial certamente não era um país onde todos gozassem de suficiente dignidade e oportunidade, havia divisões sociais, tribais e as monarquias distribuíam privilégios e riqueza de maneira articulada. Mas os colonizadores, inicialmente alemães e, depois, belgas tiveram grande responsabilidade na exasperada divisão do país entre dois grupos rivais, os hutus e os tutsis. Em 1932, quando os belgas criaram o documento de identidade étnica, chegou-se a uma situação sem retorno: os twás, além dos hutus e os tutsis, viram-se oficialmente divididos.
    Em um período de cem dias, cerca de 800 mil pessoas foram mortas em Ruanda, no que ficou conhecido como o maior genocídio africano dos tempos modernos.
   Mesmo para um país conhecido por sua história turbulenta, a escala e a rapidez do genocídio chocaram o mundo. A maioria dos mortos era da etnia tutsi, e a maioria dos autores das mortes, da etnia hutu.
   O que deu inicio ao genocídio foi a morte do presidente do país, Juvenal Habyarimana, um hutu, quando seu avião foi derrubado ao sobrevoar o aeroporto da capital, Kigali, no dia 6 de abril de 1994. A morte do presidente, no entanto, deu inicio ao massacre, porém não foi a única causa do genocídio.
   Sempre houve conflitos entre a maioria hutu e a minoria tutsi, mas as hostilidades entre os dois grupos aumentaram consideravelmente desde o período colonial. Os dois grupos étnicos são na verdade muito parecidos, falam a mesma língua, vivem nas mesmas áreas e seguem as mesmas tradições. Entretanto, tutsis tendem a ser mais altos, mais magros e de pele um pouco mais clara do que a dos hutus. Alguns acham que a etnia teria sua origem na Etiópia. Durante o genocídio, os corpos dos tutsis foram atirados em rios. Seus assassinos diziam que os mortos estavam sendo enviados de volta para a Etiópia.
   Quatorze mil pessoas foram então devolvidas a Ruanda, enquanto outras 150.000 refugiaram-se nas montanhas. Mais de 500.000 pessoas foram massacradas. Quase todas as mulheres foram estupradas. Muitos dos 5.000 meninos nascidos dessas violações foram assassinados cruelmente. As atrocidades envolveram também os religiosos e também os da etnia hutu, que apoiaram ou até mesmo colaboraram com os matadores.
   Após o genocídio de 1994, motivado pelo poder político e militar do governo pró-Hutu, e com a entrada de capacetes azuis, que constituiram a Operação Turquoise, houve um grande número de pessoas, na sua maioria BaHutu, entre as quais responsáveis e partes activas no genocídio, que saiu do Ruanda, dando origem a campos de deslocados internos no Ruanda e a campos de refugiados/ no Norte do Kivu, na RDC, em Goma e Bukavu, bem como no sul do Kivu.
   É conveniente considerar que as consequências deste conflito armado, estão relacionadas com as migrações forçadas, a que ao longo da história do Ruanda, foram sujeitas milhares de pessoas.
  No período pós-genocídio assistiu-se à deslocação de milhares de BaHutu que foram obrigados ao exílio, o que deu origem a mais campos de refugiados, onde a vida era extremamente precária. Na maioria dos casos perderam tudo o que tinham no seu local de vivência e a insegurança a todos os níveis era flagrante.
  Dezenove anos depois do genocídio e o Ruanda ainda permanece um país dividido e refém da oposição entre hutus e tutsis, colonizados e colonizadores, carrascos e vítimas, muitos continuam sofrendo o trauma, o ódio e o medo pelo ocorrido. Só um processo de reconciliação entre os ruandeses e a sua história, e uma renovação da forma como se vê e se faz política, permitirá uma transição real e segura para a democracia.

 As mulheres no conflito do Ruanda

    O conflito armado mostra a ascensão inflexível das mulheres. As mulheres no Ruanda, mesmo depois da independência, eram pouco ativas na vida política. A participação política das mulheres era diminuta, a maioria não era alfabetizada nem tinha direito à propriedade, e para desenvolverem atividades económicas necessitavam do aval do marido. Assim, pode afirmar-se que, no sistema formal político e económico, a participação foi vedada às mulheres.

   BaHutu e BaTutsi consideram-se dois grupos distintos com uma estrutura patriarcal hierarquizada onde as elites manipulam e incentivam à cisão, não só étnica como de e entre mulheres e homens. As mitificações históricas, que aconteceram desde a época colonial e que incentivaram à cisão entre os grupos Hutu e Tutsi, reproduziram uma série de concepções e estereótipos sobre as mulheres, fulcrais para a construção de identidades étnicas e de género com base na discriminação e no ódio entre BaHutu e BaTutsi.
   As mulheres são particularmente afetadas, devido ao seu sexo e à sua condição social. As partes envolvidas no conflito violam frequentemente as mulheres, utilizando, por vezes, a violação de forma sistemática como táctica de guerra. Outras formas de violência de que as mulheres são alvo em situação de conflito incluem o assassinato, o abuso sexual, a gravidez forçada e a esterilização forçada.
   Certamente, as mulheres não devem só ser vistas como vítimas da guerra. Elas assumem um papel essencial de garante do sustento familiar, no meio do caos e da destruição, são particularmente ativas nos movimentos pela paz, ao nível das suas comunidades. No entanto, a ausência das mulheres nas mesas das negociações é um facto inegável.
   Analisando o conflito do Ruanda, desde o seu início até ao genocídio de 1994 e período pós-genocídio, sobre as experiências e práticas das mulheres neste contexto de conflito armado. É fácil perceber que as principais causas que levaram ao processo de etnicização do poder político e à luta entre as elites Hutu e Tutsi pelo domínio do Estado e que estiveram na origem de um conflito que parece não ter fim, tendo provocado já milhares de mortes e de pessoas deslocadas e refugiadas. Dessa forma dá pra identificar as problemáticas específicas relativas às mulheres, quer no processo de formação das identidades étnicas, quer no conflito armado do Ruanda, ou nas acepções limitadas do olhar das ciências sociais sobre as mulheres nos conflitos armados.

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