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Filosofia e Psicanalise - Kant, Sade, Lacan, Sacher

Por:   •  31/5/2019  •  Dissertação  •  1.734 Palavras (7 Páginas)  •  230 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS[pic 1]

 O foco dessa dissertação é analisar as problemáticas em torno das expressões sexuais ligadas ao sadismo e o masoquismo e como elas se desenvolveram conjuntamente com a ética kantiana e a psicanálise lacaniana em meados dos séculos XIII e XIX.        

Barbara Bento, 160288

  1.  Introdução.        

As noções de lei e sexualidade aparecem atreladas numa parte da história da filosofia. O século dezoito é marcado por essa dualidade: Kant, na Crítica da Razão Prática, desenvolve as noções de leis e liberdade. Juntamente com ele surgem autores trazendo noções de sadismo[1] e masoquismo[2] à luz da sociedade. As leis e as liberdades subjetivas dos indivíduos conversam com os desejos e as vontades deles.

As noções de vontade e lei desenvolvidas por Kant na Fundamentação da Metafísica dos Costumes e na Crítica da Razão Prática guiaram a psicanálise na forma que os desejos dos indivíduos são expressos dentro de uma sociedade desenvolvida. Desenvolver acerca da relação entre as noções kantianas e os desejos obscuros dos indivíduos nso ponto de vista da psicanálise lacaniana é o foco dessa dissertação.

  1. Sadismo e Masoquismo: manifestações do desejo e da perversão.

O conceito de sadismo, no âmbito dos desejos sexuais humanos ligados propriamente ao falo e ao gozo, aparece inicialmente na obra Os 120 dias de Sodoma de Marquês de Sade, nela é exposta a mais profunda perversão humana visando o gozo (tratando da expressão única do sadismo, nele o gozo pelo falo é ocasionado no ato de infligir dor, voluntariamente ou não, a alguém ou observar tal ato). A obra do século dezoito trata sobre diversas torturas infringidas em um grupo de jovens sequestrados, se o conteúdo da obra fosse real, ela relataria a quebra de uma lei[3]. Nesse momento é possível pensar na filosofia kantiana atrelada aos desejos subversivos humanos: até que ponto o desejo humano pode ser considerado apenas como ato sexual ou ato criminoso?

O desejo e a vontade dos seres humanos são determinados por dois princípios, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant expõe estes princípios, atentando-se para o primeiro percebe-se que é nesse tipo de vontade que os desejos humanos repousam: a) princípio material a posteriori: ligado aos fins e móbiles da vontade. Depende da realidade de um objeto que determine essa vontade. O valor moral não se encontra na vontade material, pois sua determinação é sempre ligada a algum fim; b) princípio formal a priori: princípio do querer onde toda e qualquer inclinação foi abstraída de sua essência. Todo o princípio material foi tirado dessa vontade. O princípio formal a priori está ligado diretamente à noção de respeito à lei, que é a condição para uma vontade boa em si, e é, portanto, o que Kant denomina como dever. Se o desejo ou um ato sexual violam alguma lei moralmente necessária, então, esse desejo ou ato será criminoso.

Além da questão dos desejos subversivos sendo tratados como coisas aceitáveis ou criminosas, Lacan, em seus Escritos, disserta sobre como Kant tratava dos desejos que poderiam ser denominados como patológicos:

Note-se que esse bem só é suposto como o Bem por se propor, como acabamos de dizer, a despeito de qualquer objeto que lhe imponha sua condição, por se opor a seja qual for dos bens incertos que esses objetos possam trazer, numa equivalência de princípio, para se impor como superior por seu valor universal. Assim, seu peso só aparece por excluir, pulsão ou sentimento, tudo aquilo de que o sujeito pode padecer em seu interesse por um objeto, o que por isso Kant designa como "patológico". (Lacan, Escritos, p 766).

Para Kant, ferir o seu amor-próprio[4] ou de outro indivíduo em prol de qualquer desejo é um ato patológico, pois fere a natureza mais essencial e a priori humana: a autoconservação física e psicológica. Dessa forma, qualquer expressão voluntária que leve à degradação física ou psicológica de um sujeito é vista por Kant como uma forma de patologia.

Quase cem anos após as obras de Marquês de Sade ganharem evidência, surge um novo conceito na literatura acerca dos desejos subversivos: o masoquismo (prazer em sua própria degradação física ou psicológica). Sacher Masoch é o pioneiro neste conceito, em seu livro A Venus da Peles o autor trata de um drama psicológico causado voluntariamente por ele ao se relacionar com sua mulher amada. Claramente, essa relação voluntária de masoquismo estabelecida entre Sacher e Wanda na obra seria vista por Kant como uma manifestação de uma patologia.  Entretanto, um sujeito que causa um mal controlado a si próprio não é precisamente uma forma de destruir o amor-próprio, quando este mal é controlado vê-se que intenções realmente autodestrutivas não residem neste sujeito, logo, a lei da autoconservação ainda mantém o seu lugar, mesmo quando os desejos deste sujeito residem na destruição de seu amor-próprio, ele se emprenhará em sempre manter minimamente sua autoconservação. É possível visualizar a relação que o sujeito mantém entre prazer e dor na seguinte passagem:

No seu imenso egoísmo essa mulher é ainda assim um ideal. Se é que não posso gozar plena e inteiramente a dita do amor, necessito esgotar o cálice do sofrimento e da tortura, ser maltratado e enganado pela mulher amada, quanto mais cruelmente melhor. É um verdadeiro gozo. (Masoch, A Vênus das Peles, p. 26).

Curiosamente na obra A Vênus das Peles a relação de masoquismo estabelecida pelas partes envolvidas não era totalmente voluntária: a parte responsável por infligir danos físicos e psicológicos não compactuava totalmente com a ideia e o desenvolvimento da história acabou ganhando outros nuances. Wanda, a mulher amada por Sacher Masoch e responsável por causar sofrimento neste, não compactuava com os desejos masoquistas do amado e no decorrer da obra a protagonista se esforça ao máximo para causar tamanho sofrimento no amado para que este abandone os desejos masoquistas. Ocasiona que a violência psicológica e física infligidas são tão abusivas que o indivíduo que optava pelo masoquismo acaba fugindo de seu cativeiro voluntário. Nesta obra de Sacher Masoch é possível observar alguns conceitos da psicanálise no psicológico do autor, tais conceitos serão abordados no tópico subsequente.

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