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Gilles Deleuze (1981). Francis Bacon: lógica Da Sensação

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Por:   •  12/5/2014  •  1.855 Palavras (8 Páginas)  •  532 Visualizações

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Prólogo

Cada uma das rubricas que se seguem considera um aspecto dos quadros de Bacon em

uma ordem que vai do mais simples ao mais complexo. Mas esta ordem é relativa e só é

válida sob uma lógica geral da sensação.

De fato todos os aspéctos coexistem. Eles convergem na cor, em uma “sensação

colorante”, que é auge desta lógica. Cada um dos aspectos pode servir de tema para uma

seqüência particular na história da pintura.

Os quadros citados aparecem progressivamente. São reproduzidos e designados por um

número que remete a sua reprodução em um segundo tomo deste livro. Agradecemos a

Senhorita Valérie Beston, da galeria Marlborough, pela ajuda preciosa a qual nos foi

prestada.

I – O redondo, a pista

Um redondo delimita seguidamente o lugar onde está sentado o personagem, esta é a

Figura. Sentado, deitado, inclinado ou outra coisa. Este redondo, ou este oval, toma mais

ou menos lugar: ele pode transbordar as laterais do quadro, estar no centro de um tríptico,

etc… Quase sempre ele é redobrado, ou ainda substituído, pelo redondo da cadeira onde

o personagem está sentado, pelo oval da cama onde o personagem está deitado. Ele se

espalha pelas pastilhas que cercam uma parte do corpo do personagem, ou no círculo

giratório que envolve o corpo. Mas mesmo os dois camponeses só formam uma Figura

com relação a uma terra arrebatada, estreitamente contida no oval em um pote.

Resumindo, o quadro comporta uma pista, uma espécie de circo como lugar. É um

procedimento muito simples que consiste em isolar a Figura. Existem outros

procedimentos de isolamento: colocar a Figura em um cubo, ou antes em um

paralelepípedo de vidro ou gelo; fazê-la colar sobre um raio, sobre uma barra estirada,

como que sobre um arco magnético de um círculo infinito; combinar todos esses meios, o

redondo, o cubo e a barra, como que em um estranho sofá largo e arqueado de Bacon.

Estes são os lugares. De todo modo Bacon não esconde que tais procedimentos são quase

que rudimentares, graças à sutileza de sua combinação. O importante é que eles não

limitam a Figura à imobilidade; pelo contrário, eles tornam sensível uma espécie de

encaminhamento, de exploração da Figura em seu lugar, ou sobre si mesma. É um campo

operacional. A relação da Figura com seu lugar isolante define um fato: o fato é…, o que

tem lugar… E a Figura, assim isolada, torna-se uma Imagem, um Ícone.

Não é só o quadro que é uma realidade isolada (um fato), nem só o tríptico em três

painéis isolados que, sobretudo, não devemos reunir em um só e mesmo quadro, mas a

Figura ela-mesma é que está isolada neste quadro, pelo redondo ou pelo paralelepípedo.

Tradução de: Deleuze, Gilles (1981) Francis Bacon: Logique de la Sensation. Paris: aux

éditions de la différence. por Silvio Ferraz e Annita Costa Malufe – sem revisão.

2

Por que? Bacon repete dizendo: para conjurar o caráter figurativo, ilustrativo, narrativo,

que a Figura teria necessariamente se não estivesse isolada. A pintura não tem nem

modelo a representar, nem história a contar. Desde então ela tem como que duas vias

possíveis para escapar ao figurativo: seguir no sentido de uma forma pura, por abstração;

ou no sentido de um puro figural, por extração e isolamento. Se o pintor tende à Figura,

se ele toma a segunda via, isto será para opor o “figural” ao figurativo1. A primeira

condição é a de isolar a Figura. O figurativo (a representação) implica, de fato, em

relacionar uma imagem a um objeto e buscar ilustrá-lo; mas ela implica também a relação

de uma imagem com outras imagens em um conjunto composto que oferece precisamente

para cada um o seu objeto. A narrativa é o correlato da ilustração. Entre duas figuras, há

sempre uma história que se insinua ou tende a se insinuar, para animar o conjunto

ilustrado2. Isolar é então o modo o mais simples, necessário, mas não o suficiente, para

romper com a representação, quebrar a narrativa, impedir a ilustração, liberar a Figura:

para deter-se no fato.

Evidentemente o problema é mais complicado: será que não existiria um outro tipo de

relação entre as Figuras, não narrativo, e que portanto não destacaria nenhuma figuração?

Figuras diversas que levariam ao mesmo fato, que pertenceriam a um só e mesmo fato

único, ao invés de remeter a uma história e de remeter a objetos diferentes em um

conjunto de figuração? Relações não narrativas entre Figuras, e relações não ilustrativas

entre Figuras e fatos? Bacon não parou de fazer Figuras acopladas, que não contam

nenhuma história. E quanto mais os painéis separados de um tríptico têm uma relação

intensa entre si, menos esta relação é narrativa. Com modéstia, Bacon reconhece que a

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