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Hannah Arendt- Antropogia Filosofica

Por:   •  21/11/2016  •  Artigo  •  2.893 Palavras (12 Páginas)  •  369 Visualizações

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ANTROPOLOGIA FILOSOFIA EM HANNAH ARENDT: A BUSCA DA PARADOXAL PLURALIDADE DE SERES SINGULARES SOB A PERSPECTIVA DA AÇÃO E DO DISCURSO

Alana Amancio Sousa[1]

RESUMO: Em sua investigação antropológica sobre a condição e a natureza humana, Hannah Arendt apresenta-nos a pluralidade e a singularidade existente nos seres humanos e que consequentemente levam o homem a necessitam do uso da ação e do discurso para viverem uma vida legitima entre homens, afinal, somente por meio da ação e discurso o agente é revelado, diante da necessidade da revelação ontológica do ser a autora apresenta a história como o ápice de tal revelação, e como garantia da remição da história e do próprio homem as faculdades de perdoar, a faculdade de prometer e cumprir promessas,  contudo sua maior aposta encontra-se na natalidade, na possibilidade de um novo começo a cada nascimento.

Palavras chaves: Arendt, Pluralidade, Ação e Natalidade.


A cientista política Hannah Arendt apresenta-nos um grande acervo de produções que perpassam sobre variados âmbitos dos conhecimentos humanos que a colocaram entre uma das mais influentes pensadoras do século XX. A vida pessoal de Arendt a coloca em uma posição de crítica diante dos acontecimentos de sua época, nascida em 1906, sua juventude se dá no auge das grandes guerras mundiais, portanto não apenas exercem influência, mas são um dos principais alvos de suas críticas e reflexões. Contudo o presente trabalho se debruça em uma análise de uma de suas obras mais complexas e extensas, cujo título é A condição Humana, no capitulo quinto encontra-se mais especificamente nosso tema em questão, afinal é da AÇÃO que iremos tratar ao longo da análise proposta neste artigo.

   Como primeiro tópico apresentado, Arendt propõe A Revelação do Agente no Discurso e na Ação, o título é sugestivo a propósito de sua intenção, anuncia ela que o homem ou o agente revela-se no uso da ação e do discurso, contudo, para isso é preciso entender por que o homem faz o uso da ação e do discurso, para ela é a pluralidade humana a condição básica da ação e do discurso, tal pluralidade humana contém uma dualidade de igualdade e diferença, uma vez que, se há a igualdade é possível o entendimento entre os homens e se há a diferença todo homem é singular. Para Arendt “(...)a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade de seres singulares”. (ARENDT, 1987, pág.189).

A pluralidade humana, condição básica da ação e do discurso, tem duplo aspecto de igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da ação para se fazerem entender. Com simples sinais ou sons, poderiam comunicar suas necessidades imediatas e idênticas. (Idem. 188).

Essa paradoxal pluralidade torna possível e necessária o uso da ação e do discurso, necessária para que o homem possa distinguir-se dos outros e para se fazerem entender em comunidade. Caso a ação e o discurso não fossem necessários ou utilizados pelo ser humano, a vida “deixa de ser uma vida humana, uma vez que já não é vivida entre os homens”. (Idem, 189).

 O pensamento arendtiano vê a vida humana como uma vida em conjunto, afinal o discurso e a ação não são possíveis no isolamento, depende de outrem para ser realizado “a ação e o discurso são os modos pelos quais os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens”. (Idem. 189). Portanto é no discurso e na ação que o agente se revela, o homem age e fala com o outro e mostra sua consciência, seu espirito, todavia, essa manifestação depende de uma iniciativa da qual que nenhum homem pode escapar se quiser inserir-se no mundo.  

Anos antes o autor britânico Eric Arthur Blair salienta o perigoso caminho do desuso ou o mau uso do discurso, no romance despótico clássico 1984 de George Orwell (pseudônimo de Blair), inspirado nos regimes totalitários vividos no início do século XX, descreve a situação de Oceania, país que está sob um regime totalitário e tem os direitos dos cidadãos limitados pelo Big Brother (O Grande Irmão) que controla a tudo e a todos, inclusive a linguagem. A Novafala é um dos métodos para garantir a limitação do próprio pensamento do homem, a limitação do pensamento aconteceria consequentemente com a falta de palavras que pudessem dar significados e conceitos ao que quer que fosse contra o partido instaurado em Oceania.

Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo (...) Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência com um alcance cada vez menor (...) Alguma vez lhe ocorreu, Winston, que lá por 2050, no máximo, nem um único ser humano vivo será capaz de entender uma conversa como a que estamos tendo agora? (...) A literatura do Partido será outra. Os slogans serão outros. Como podemos ter um slogan como ‘Liberdade é escravidão’ quando o conceito de liberdade foi abolido? Todo o clima de pensamento será diferente. Na realidade não haverá pensamento tal como entendemos hoje. Ortodoxia significa não pensar – não ter necessidade de pensar. Ortodoxia é inconsciência. (Orwell, 2010, pág. 68, 69 e 70)

 Uma reformulação da linguagem e da comunicação pretende garantir o fim do pensamento, o fim do discurso e consequentemente a impossibilidade do homem fazer o uso da ação, posto que a comunicação entre entres os habitantes do país era limitado pelo controle exercido pelo partido, a possibilidade de uma ação contra o regime ou na própria dos cidadãos é quase nula, e até mesmo o romance vivido por Winston e Julia se torna efêmero, o herói sofre as consequências pela tentativa de viver uma vida humana em meio a um contingente de “desvida”[2].

As perguntas que se podem fazer são: por que Winston e Julia se relacionam mesmo sabendo das consequências de suas ações? Por que arriscar as suas vidas mesmo sabendo que seriam descobertos a qualquer momento?  Por que desafiar o poder do partido? Por que fazer o uso da ação e do discurso?  A resposta é dada por Hanna Arendt: “O fato de que o homem pode agir significa que pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável” (ARENDT, 1987, pág. 191) o infinitamente improvável como fizeram os personagens do romance é a capacidade e a necessidade de o homem ser homem, ou seja, eles precisaram fazer o uso da ação e do discurso para se entenderem como seres humanos, não só precisavam, tinham a capacidade de fazer acontecer, aí estão as respostas sobre as a necessidade de ação e discurso para o homem viver uma vida humana, ao encontrarem-se Winston e Julia percebem que podem ter algo verdadeiramente humano e segundo Arendt somente “a ação e o discurso são os modos pelos quais os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens. ” (Idem. 189).

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