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O ESPAÇO PÚBLICO COMO LUGAR DOS IGUAIS E DESIGUAIS, A PARTIR DA LEITURA DE HANNAH ARENDT.

Por:   •  2/7/2017  •  Artigo  •  3.403 Palavras (14 Páginas)  •  271 Visualizações

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O ESPAÇO PÚBLICO COMO LUGAR DOS IGUAIS E DESIGUAIS, A PARTIR DA LEITURA DE HANNAH ARENDT.

VANILDA MOREIRA DE CARVALHO

Universidade Federal da Bahia, Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades.

RESUMO:

O artigo apresenta a compreensão da filósofa alemã Hannah Arendt *acerca da condição humana, da relação entre os homens e a polis, e a banalização do mal. A visão Arendtiana está expressa em sua obra “A condição humana”, na qual a filósofa aborda questões como a liberdade, a pluralidade e a política de ação entre os homens. A banalização do mal é tratada na obra “ Eichmann em Jerusalém, na qual a filósofa fala de um mal burocrático, baseada no julgamento de um nazista – Adolf Eichmann -.

Hannah Arendt nasceu em 1906, em Hannover, Alemanha, numa família judia e intelectualizada. Estudou filosofia, teologia e jornalismo, destacando-se no pensamento político contemporâneo por ser sensível à crise de valores humanos. Duas, dentre outras, obras de peso da autora foram: “A condição humana (1958) e “As origens do totalitarismo (1951).

PALAVRAS-CHAVE: indivíduos, sociedade, política, Estado, relações sociais, Modernidade.

INTRODUÇÃO:

Os fundamentos da visão de Arendt partem da premissa que o homem é um ser sociável. Nenhuma vida humana, nem mesmo um eremita, é possível sem um mundo que direta ou indiretamente, testemunhe a presença de outros seres humanos. A filósofa alemã defende muito bem essa tese em sua obra” A condição humana”, na qual ela observa o agir humano na esfera privada (lar) e na esfera pública (a pólis), e parte para o epicentro das necessidades do homem do século XX.  Para Arendt, as condições da existência humana – a própria vida, a natalidade, a mortalidade, a mundanidade e a pluralidade, jamais podem explicar o que é a humanidade pela simples razão a qual, o homem jamais de condiciona de um modo absoluto. O interesse da filosofia Arendtiana gira em torno daquilo que homens constróem com o objetivo de conciliar as suas existências dentro de um espaço comum, no qual comunicam-se e interagem. Dentre outras ações, Arendt observa a pluralidade entre os homens, a questão da liberdade, do labor e a ação entre homens de acordo com seus interesses e necessidades. Outra preocupação da filósofa é a despotização das sociedades, pois segundo ela, esta é a causa do rompimento do homem com sua capacidade de discernir critérios e referências de convivência que permitam a cada um agir e comunicar-se em presença da pluralidade humana no espaço público. Outra obra de grande peso da escritora é “Eichmann em Jerusalem”, na qual Arendt faz uma ampla abordagem sobre o poder do Estado na figura de um soberano. O cenário foi o Nazismo e um dos discípulos de Hitler – Eichmann -  estava sendo julgado. A filósofa testemunhou o julgamento como jornalista (uma de suas formações) e observou uma nova modalidade de mal. Um mal que ela chamava de técnico, burocrático, banal e sem sentido, fruto da perda de uma orientação de vida nas sociedades contemporâneas. Arendt, com seu olhar crítico, assistiu ao julgamento como jornalista da revista The New Yorker, explorando as implicações do caso Eichmann.

“Deus criou o homem, os homens são um produto humano mundano e produto da natureza humana. A Filosofia e a Teologia sempre se ocupam do homem, e todas as suas afirmações seriam corretas, mesmo se houvesse apenas um homem, ou apenas dois homens ou apenas homens idênticos”. (Trechos do fragmento 1 do Texto “ O que é política?” – 1950).

AS RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO DE ACORDO COM O PENSAMENTO ARENDTIANO

Arendt, a partir do pensamento grego, caracteriza a vida política por dois elementos estruturais: a ação (práxis) e o discurso (lexis).

 O discurso e a ação constituem a relação entre homens e de homens com o mundo externo. O homem é o único animal que dispõe desses dois recursos  através dos quais consegue modificar a vida humana. Segundo Arendt, o homem  é um ser sociável por natureza, pois não consegue viver em um mundo que direta ou indiretamente dependa de outros homens, associando-se  uns aos outros de maneira espontânea. Através dessa associação natural o homem constuitui-se  da casa e da família (esfera privada).

No espaço público, todos são iguais e sem necessidade de comandos de violência, condição fundamental para que os homens exercessem sua cidadania, sendo livres e espontâneos. Enquanto que o produto realizado na vida privada era um artefato, o produto da vida pública era a formação do ser humano, segundo Arendt.

Na esfera privada era a necessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas dentro do lar, ao passo que a esfera pública era o âmbito da liberdade. A força e a violência foram formas de monopólio criadas pelo Estado.

Arendt conceitua a esfera privada e a esfera pública como complementares – as duas vidas -.Na visão Arendtiana, os problemas sociais se dão inicio a partir da tranferência do modelo para a polis (público) em busca de reconhecimento de outros.Transferir o modelo do lar para a pólis é um equívoco.

Essa busca pela excelência e reconhecimento se dá a partir do momento que o homem sai da esfera privada (oikos) e vai viver na esfera pública (pólis) - o lar e o público (bios politikos). Para Arendt, as atividades humanas fundamentais são: o labor, o trabalho e a ação, pois cada uma delas correspondem as condições básicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na terra

As atividades citadas por Arendt, estão relacionadas a um aspecto de uma determinada concepção do ser humano que pode ser descritas por três maneiras: animal laborans, que é quando o homem se encontra aprisionado em suas necessidades biológicas e trabalha tão somente para prover sua subsistência; homo faber , quando o homem como fabricante de artefatos duráveis, constrói um mundo mediante o domínio de uma técnica, e ora como zoon politikon, neste caso, o homem é o agente da política, o que caracteriza as relações entre eles na esfera pública. A política deveria administrar a “grande família”, que é a sociedade.

No quadro familiar, a política da convivência baseia-se no entedimento e grau de parentesco – fator que pode ligar aos mais diferentes interesses - .No lar há uma convivência entre diferentes com iguais interesses porém ligados pelo parentesco.

Já a  politica trata da convivência entre diferentes com iguais interesses sem parentesco. O que une os membros de uma organização política são os interesses em comum.

Outra questão apontada por Arendt é a  liberdade, a qual situa-se exclusivamente na esfera política, enquanto que a necessidade é um fenômeno pré-político, característico da dinâmica do lar (esfera privada). A comunidade natural do lar decorria da necessidade de seus membros. A esfera da polis, ao contrário, era a esfera da liberdade, e se havia uma relação entre essas duas esferas era que a vitória sobre as necessidades da vida em família constituía a condição natural para a liberdade na polis. A política, para Arendt, não podia ser apenas um meio de proteger a sociedade – uma sociedade de fiéis como na Idade Média ( Hobbes, Locke e Marx) - .

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