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Por:   •  15/9/2014  •  3.656 Palavras (15 Páginas)  •  194 Visualizações

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Jonas Madureira

"Quebre os grilhões de uma cela. Mas não se assuste se o prisioneiro não sair. Talvez a cela seja absurdamente confortável."

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abr 21 2009

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Por Jonas Madureira Axiologia, Ética, Fenomenologia, Filosofia

A “ÉTICA MATERIAL DOS VALORES” DE MAX SCHELER: uma reflexão sobre a reformulação da noção de ética a partir da axiologia fenomenológica

Resumo: O objetivo específico desta reflexão é descrever a proposta scheleriana de reformulação da noção de ética a partir da “ética material dos valores”. O estudo se concentra em descrever as três bases essenciais da ética formal de Kant e ao mesmo tempo apresentar as objeções de Max Scheler. Este estudo não se propõe a justificar a necessidade da reformulação da noção de ética, mas a apresentar as novas bases sobre as quais Scheler justificou a própria reformulação da ética material dos valores. O estudo está dividido em três partes essenciais, sendo a primeira parte o ponto nevrálgico do trabalho e as outras duas os seus desdobramentos.

Prolegômenos

Todas as ciências devem doravante preparar o caminho para a tarefa futura do filósofo, sendo esta tarefa assim compreendida: o filósofo deve resolver o problema do valor, deve determinar a hierarquia dos valores.[1]

Friedrich Nietzsche

Em 1559, Camões e Dinamene, companheira chinesa do poeta, navegavam pelo rio Mecon, na Indochina, quando sofreram um naufrágio. Dizem, as más línguas, que Camões teria conseguido salvar a si mesmo e aos manuscritos de Os Lusíadas enquanto Dinamene morria afogada. Suponha-se que isto tenha realmente acontecido. Quais seriam as razões de Camões justificar tal escolha? O que o fez pensar que aqueles manuscritos expressavam um grau de valor acima da vida de sua mulher? É possível encontrar algum fundamento que possa assegurar ao poeta de que ele agiu bem ao escolher salvar os manuscritos ao invés de resgatar Dinamene?

A axiologia[2] é a disciplina filosófica que se propõe a refletir sobre o fundamento valorativo de questões como as que apresentamos acima. No entanto, só recentemente o termo “axiologia” foi reconhecido de modo significativo na linguagem filosófica. Embora seja recente, o objeto de análise da axiologia já foi arrazoado por muitos filósofos no passado. Filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e os escolásticos, por exemplo, ao tratarem do conceito do bem e do mal, inevitavelmente terminavam por considerar o tema do real “valor” das ações humanas. Ora, o mesmo parece ocorrer com os filósofos modernos como Descartes, Hume, Leibniz, Wolff e Kant, por exemplo.

De fato, o tratamento específico desse tema somente se tornou avidamente pleiteado em meados do século XIX. Friedrich Nietzsche é um exemplo nítido dessa necessidade de concentrar a reflexão ética especificamente na noção de valor. Este filósofo da “tresvaloração dos valores” se vê como uma espécie de João Batista, alguém responsável em preparar o caminho do “filósofo do futuro”; aquele que, quando vier, dará uma tratamento definitivo ao problema do valor e da determinação da hierarquia dos valores. Na verdade, antes de Nietzsche, Rudolf Lotze já havia realizado uma investigação profunda do tema, contrapondo as noções de “valor” e “ser”, “o mundo dos valores” e “o mundo do ser”.[3] Contudo, as distinções e contraposições elaboradas por Lotze não foram suficientes para constituir uma consistente teoria dos valores, como queria Nietzche.

Talvez, Max Scheler seja esse “filósofo do futuro” preconizado por Nietzche nas últimas linhas da primeira dissertação de Genealogia da moral. Afinal, é um consenso afirmar que foi Scheler o primeiro filósofo que realizou uma consistente teoria dos valores, que, por sua vez, influenciaria uma legião de pensadores como Munsterberg, Rickert, Stern, Hartmann, Litt, Troeltsch, Ortega y Gasset e etc. Das suas obras principais, destaca-se Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik [O formalismo na ética e a ética material dos valores]. Nessa obra, Scheler abandona o projeto de uma fundamentação da ética ancorada numa epistemologia formalista e lança mão do intento de fundamentar uma “ética material dos valores”. Para justificar essa mudança de projeto, Scheler radicalizou a necessidade a priori de uma teoria dos valores como o ponto de partida para uma renovação da reflexão ética, que, por conseguinte, buscaria sua legitimidade no estudo das vivências humanas.

Segundo Scheler, é preciso distinguir a noção formalista de ética da “ética material dos valores” e, sobretudo, demonstrar a superioridade desta. De acordo com Scheler, o protagonista da noção formalista da ética é o renomado filósofo de Königsberg, Immanuel Kant. Por que Kant? Para Scheler, Kant foi o filósofo que, de fato, conseguiu atingir o paroxismo de uma reflexão ética já iniciada em Aristóteles. Entretanto, como veremos no decorrer deste estudo, o objetivo de Scheler não era meramente apresentar uma refutação da ética kantiana. Ou seja, a sua “ética material dos valores” não pretende ser uma tese antikantiana.[4] No entanto, Scheler admite que para ir além de Kant é preciso abandonar aquelas tentativas de superação da ética formalista, que não conseguem abrir mão das bases em que ela, a ética formalista, foi construída. Em suas palavras: “a ética de Kant foi criticada, corrigida e ampliada pelos filósofos que a tem seguido, porém, sem jamais ter sido tocada consideravelmente em suas bases essenciais”.[5] Com isso, percebe-se que Scheler, para fundamentar a sua noção de ética, irá, portanto, mexer nas bases que solidificaram toda a estrutura da noção kantiana de ética. Ora, que bases são estas? De acordo com Scheler, é possível compreender que as bases essenciais da ética de Kant se constituem, primeiro, em um princípio formal que visa garantir a validade universal e necessária da moral (formalismo), segundo, no apriorismo do sujeito transcendental (subjetividade) e, finalmente, no princípio de razão suficiente, que é suporte não somente da ética, mas, também, de todo o intelectualismo kantiano

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