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REFLEXÕES SOBRE A TEORIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA E O PROJETO "DO DESERTO DA METRÓPOLE: JARDIM SECRETO DE PASSIFLORA"

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Por:   •  3/4/2014  •  2.742 Palavras (11 Páginas)  •  436 Visualizações

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Ao refletir sobre as artes plásticas e a teoria da arte no período moderno e contemporâneo percebemos que ambas sofrem influência de diversas áreas do conhecimento, como a psicanálise, a linguística, a crítica social, a política, entre outras. Atualmente, encontram-se em um cenário pluralista proveniente das mudanças e transformações sócio-econômicas que estão ocorrendo de forma muito rápida, determinando uma sociedade complexa em constante mutação. Estas transformações, devido à rapidez com que vêm se impondo, estão criando uma cultura mutante, em que todos os limites nas artes plásticas foram transpassados.

De acordo com a Prof. Doutora Rosa Gabriela de C. Gonçalves, no seminário “A teoria da arte tornou-se híbrida”, hoje as artes atuam em diversas áreas, refletindo a contemporaneidade do momento.Segundo Lucia Santaella, “a história da arte, a partir do século XIX, não conhece uma linha reta, é feita de ecos, reverberações, rememorações, traduções, confrontos, projeções e refrações” ( WANNER, 2010, p. 15).

As imagens, que sempre foram uma forma de expressão do homem desde as primeiras inscisões nas cavernas, hoje nos bombardeiam com informações nos mais distintos meios, como TVs, mídias digitais, revistas, jornais etc., remetendo-nos à ideia de Guy Debord, de uma sociedade de espetáculo, na qual o capital chegou a tal grau de acumulação que se tornou imagem. Não é mais o necessário, mas, sim, o desejo que move a nossa sociedade. Dentro desta ideia, Walter Benjamin, no seu clássico A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica aponta esta tendência no campo das artes plásticas, sinalizando uma produção industrial dos objetos vinculada ao consumo. Aqui ele antecipa o pensamento de Debord da sociedade voltada a este consumo.

Dentro do contexto em que se encontra a arte contemporânea na atualidade, na ausência de parâmetros pré-estabelecidos, em que a arte liberou as fronteiras da representação, possibilitando novas pesquisas, encontramo-nos em um campo inconstante, transitório, porém extremamente rico para a pesquisa e para o devaneio do artista. Concordo com a colocação de Wanner (2010, p. 91) quando anuncia: “quaisquer que sejam as linguagens visuais o que permanecerá dando sentido a elas é o seu caráter sígnico e a necessidade de um suporte sensível para que o artista possa materializar suas ideias”.

Assim, imbuído na ideia de que o artista contemporâneo, para conseguir criar dentro deste contexto tão diversificado de manifestações artísticas, necessita estabelecer seus próprios critérios, este projeto trabalha a questão da memória como processo de construção da poética, através da flor de maracujá, a rememoração.O termo “rememorar” segundo WARNNER, foi pela primeira vez utilizado para se referir ao retorno à paisagem na obra de Anselm Kiefer por Andrew Benjamin ,sendo este termo uma aproximação com a tendência das artes pluralisas no início do século XXI.

Sendo este projeto de pesquisa uma experiência autobiográfica, fui buscar em um lugar de desejo, na minha memória, nas lembranças passadas, a poética para desenvolver o meu trabalho, tentando através deste resgate estabelecer um elo com o passado, trazendo-os para o presente de uma nova forma reinterpretados, rememorados. Este lugar que segundo WARNNER possui vários significados em diversos campos da genética à psicologia. Esse lugar de desejo eleito como a poética a ser trabalhada para WARNNER(pg92)

“É também uma lembrança sempre presente de sua infância, de lugares onde são construídas identidades, os próprios desejos em todos os seus sentidos, um lugar é uma carga de forte emoção pessoal e de consideráveis valores, ambiental e cultural.Lure, sedução, fascinação, atração, desejo, um relato pessoal que constrói um discurso rico em questões que envolvem a nossa atualidade, como proteção ambiental, ecologia, perda de identidade, dentre outros assuntos afins.”

Dentro deste contexto de conexões e reflexões com as minhas experiências elegi como poética a ser investigada a Passiflora que vêm de lembranças e reminiscências de imagens da minha infância, na pequena cidade de Tangará, em Santa Catarina, onde cresci e onde, em momentos de devaneio, saía para apreciar a paisagem. Baudelaire (1993, p. 212) afirma:

Suponham um artista que sempre estivesse, espiritualmente, em estado de convalescência, e teriam a chave do caráter de G. Ora a convalescência é como uma volta à infância. A criança vê tudo como novidade; está sempre embriagada. Nada se parece mais com o que chamamos de inspiração do que a alegria com a qual a criança absorve a forma e a cor.

Tendo a memória como processo de construção da poética, utilizei esta flor – a passiflora – que me acompanha desde muito cedo, para iniciar um diálogo com o tempo/instante, a memória e a matéria, porque acredito que temos a necessidade de rever e reaprender com a nossa própria memória, mediante instantes eleitos por nós, que ficaram guardados e que, de alguma forma, precisam ser resgatados e retrabalhados.

A passiflora, ou comumente chamada flor da paixão, recebeu este nome por possuir toda a simbologia que remete à paixão de Cristo. Sua estrutura floral fazia lembrar, aos jesuítas que desembarcaram no século XVI na América Central, os instrumentos de tortura utilizados na passagem bíblica que descreve este momento da trajetória de Cristo. As flores de cor lilás escuro simbolizam a pureza celestial. O conjunto de pétalas, a coroa de espinhos, os cinco estames (órgão masculino da flor), as cinco chagas e os três estiletes (órgãos femininos) aludem aos pregos utilizados na crucificação de Cristo. Toda esta simbologia me despertou o interesse para desenvolver uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema.

Foto Passiflora/flor de maracujá.Juliane Fuganti-2010

Imbuída na afirmação de que o artista pode utilizar-se do passado para o presente – porque o passado não é igual, ele vem rememorado – busquei neste elemento que me acompanha e fascina desde a infância a poética para desenvolver meu trabalho artístico. Para esta pesquisa, utilizei inicialmente de fotos de passiflora e estudos botânicos, os quais transferi para a gravura em metal e a cerâmica no decorrer do trabalho.

Por ser a gravura uma técnica que remete à questão de produzir uma matriz que, ao ser elaborada, tem a função de reproduzir uma imagem, é muito pertinente para a reflexão sobre o mundo de imagens no século XXI a seguinte afirmação de Walter Benjamin: “a obra de arte

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