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Sócrates E Os Sofistas

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Por:   •  20/9/2014  •  1.804 Palavras (8 Páginas)  •  697 Visualizações

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Sócrates e os sofistas

Em meados do século V a.C., a atividade filosófica experimenta uma decisiva reorientação temática, deslocando-se dos problemas cosmológicos para as questões diretamente relacionadas aos seres humanos. As indagações acerca do Universo, às quais se dedicavam os primeiros filósofos gregos, são removidas do plano principal do cenário filosófico, sendo substituídas pelas especulações em torno da humanidade. Os sofistas e Sócrates são os protagonistas dessa significativa transformação.

Denominamos de sofistas um grupo de intelectuais que ministravam seus ensinamentos nas cidades gregas, especialmente na democracia ateniense, atuando como pedagogos na formação política dos cidadãos. Com suas habilidades retóricas, os sofistas realizavam palestras nas quais exibiam sua capacidade de construir diferentes argumentos sobre os assuntos de interesse público. Dessa forma, sua atividade consistia em uma contestação às concepções mais conservadoras da sociedade, notadamente a aristocrática, para as quais as leis e as regras morais eram naturalmente justas e, portanto, deveriam ser acriticamente aceitas. Para os sofistas, ao contrário, as normas, os costumes e as leis são convenções estabelecidas pelos seres humanos em sociedade, ou seja, não expressam verdades universais, mas, sim, padrões sociais sempre passíveis de discussão. Nesse sentido, podemos afirmar que os sofistas inauguraram a perspectiva do relativismo ético e cultural, segundo o qual os princípios morais e as explicações sobre a realidade são válidos apenas no interior das sociedades em que são cultivados, sem que possamos identificar a existência de postulados verdadeiros para o conjunto da humanidade.

Resumidamente, então, é correto dizer que os sofistas insurgiam-se contra a submissão social à moral prevalecente, posto que entendiam que as normas sociais procedem unicamente de escolhas elaboradas em sociedade e, sendo assim, não somente podem ser objeto de debate, como também são passíveis de modificações sugeridas pelos cidadãos. Nesses termos é que devemos compreender as palavras do sofista Protágoras (492-422 a.C.), quando este diz que o homem é a medida de todas as coisas, bem como as de Górgias (485-380 a.C.), para quem o ser não existe. No plano do conhecimento, por sua vez, há um ceticismo imanente a essa concepção dos sofistas, projetando-se, pela primeira vez na história da filosofia, a dúvida sobre a possibilidade de o pensamento humano atingir a verdade.

Sócrates (470-399 a.C.) era erroneamente identificado por muitas pessoas como um sofista. É certo que há pontos em comum, pois esse filósofo, assim como os sofistas, recusava as pesquisas cosmológicas e conferia importância exclusiva aos temas atinentes à humanidade. Além disso, sua postura filosófica igualmente incidia em enfrentamento com a ordem moral vigente em Atenas. Porém, as diferenças entre Sócrates e os sofistas talvez sejam mais relevantes do que as semelhanças. Essas distinções são notórias no método dialético e no projeto socrático de readequação do logos ao ser.

Sócrates criticava os sofistas por seu suposto descaso com relação à verdade, isto é, pelo fato de eles desenvolverem argumentos contrários acerca de um mesmo tema, sem a pretensão de se atingir uma proposição definitiva e verdadeira sobre a questão debatida. Para Sócrates, a atividade filosófica deve empenhar-se profundamente no conhecimento da natureza humana e da finalidade da vida dos seres humanos.

É assim que o “conhece-te a ti mesmo socrático” reivindica o exercício da filosofia como caminho para a emancipação moral dos seres humanos. Em outros termos, Sócrates propõe um percurso filosófico destinado à constatação racional dos fins realmente valiosos para

a humanidade, para que todos possam orientar suas condutas de acordo com valores morais autênticos e atingidos pela razão. Conforme esse filósofo, então, os seres humanos são capazes de discernir racionalmente entre o certo e o errado e, consequentemente, de agir de maneira moralmente autônoma e racionalmente sustentada, em vez de simplesmente seguir as normas sociais fixadas pela tradição cultural.

Para tanto, porém, haveria a necessidade de um rigoroso método que revelasse aos seres humanos a inautenticidade de sua suposta sabedoria, indicando o longo percurso racional de superação das opiniões pela verdade. Nessa perspectiva, Sócrates não ministrava conferências à maneira de um sofista; diferentemente, declarava seu total desconhecimento sobre as temáticas de interesse humano, instigando, assim, seus interlocutores à explanação de seus pontos de vista acerca dos temas em questão.

A denominada ignorância socrática é o ponto de partida para o exame da fragilidade das teses apresentadas por aqueles com quem se comunicava. Afinal, após a exposição das mesmas, o filósofo apresentava uma sequência articulada de indagações que conduziam os participantes do diálogo à identificação da inconsistência racional das ideias inicialmente defendidas. Esclarecidas, portanto, as falsas opiniões, poderiam todos se lançar à maiêutica, ou seja, à busca, sempre dialógica, pelas ideias verdadeiras.

Resumidamente, podemos dizer que esse é o método dialético defendido por Sócrates, sendo esta uma de suas decisivas contribuições para o pensamento humano: a noção de que somente devemos aceitar como verdadeiras as afirmações que resistirem intactas ao minucioso questionamento efetuado pela razão.

Assim, tanto os sofistas quanto Sócrates delinearam horizontes promissores para a atividade filosófica, conquanto a tradição filosófica ocidental tenha recolhido com apreço a herança intelectual deste e subestimado a importância daqueles, recuperando-a apenas em tempos mais recentes.

Amir Abdala

Professor de filosofia no ensino médio

A partir da leitura do texto, desenvolva as questões propostas.

1) Explique em que medida Sócrates e os sofistas desafiavam a moral vigente em Atenas.

2) Explique as diferentes concepções dos sofistas e de Sócrates no tocante à relação entre razão e verdade.

3) Identifique no texto o trecho que explica o método filosófico de Sócrates.

QUESTÃO 04. Leia o texto abaixo:

“No século V a.C. surgiu em Atenas um grupo de pensadores conhecidos pelo nome de sofistas, os quais dominavam e ensinavam as artes da oratória e da retórica. Originários de diferentes regiões

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