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CIDADE MODERNA E EXPANSÃO DO CONDOMÍNIO DA CLASSE INFORMATIVA

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Por:   •  27/8/2014  •  Trabalho acadêmico  •  3.109 Palavras (13 Páginas)  •  282 Visualizações

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A CIDADE MODERNISTA E A EXPANSÃO DE CONDOMÍNIOS DE CLASSE MÉDIA INFORMAIS: CONTRADIÇÕES DA CIDADE PLANEJADA

Profª. Ms. Marizângela Aparecida de Bortolo Pinto

Instituto Federal de Goiás – IFG/Luziânia – maribortolo@gmail.com

Profª. Drª. Marília Luiza Peluso

Departamento de Geografia – GEA/UNB - peluso@unb.br

INTRODUÇÃO

A sociabilidade expressa pelo homem metropolitano é um aspecto importante para a compreensão da cidade atual, cujas transformações têm exigido esforços teóricos em busca da compreensão de novos fenômenos que se manifestam no espaço. A cidade moderna, enquanto artefato socialmente construído sugere o imaginário e os desejos do indivíduo como elo fundamental para a compreensão dos processos que moldam o urbano. Cabe então avaliar como novas formas espaciais que emergiram na metrópole contemporânea são resultado de aspectos relevantes do indivíduo urbano que, ao internalizar processos econômicos, sociais e culturais, reproduzem com intensidade a paisagem urbana.

A identidade urbana moderna passa a representar um misto de signos e objetos de consumo, estabelecendo uma nova lógica de reconhecimento da cidade. As mudanças se cristalizam no urbano, conduzindo ao surgimento de novas práticas sócio-espaciais, cujas características se associam as expectativas das diferentes classes sociais. A cidade passa a expressar o universo do indivíduo urbano ligado ao consumo de mercadorias, de estilos de vida que perpassam as diversas esferas da vida social, transpassando a arte, o lazer e também o morar.

Os condomínios horizontais fechados representam como a casa e o morar transformaram-se, na metrópole, em objetos de segregação sócio-espacial, resultado de valores simbólicos inerentes ao indivíduo metropolitano e que se materializam no espaço urbano de forma irreversível. O objetivo do presente trabalho é analisar como, na Capital Federal, os condomínios horizontais irregulares e ilegais correspondem a modelos estéticos contemporâneos, que representam o desejo de individualidade do homem metropolitano. Parte-se do pressuposto de que Brasília, planejada nos moldes modernistas, apresenta uma rigidez de formas, que terminou por não contemplar novos valores que buscam a diferenciação e terminou por fracionar-se irreversivelmente.

Na primeira parte do trabalho vai-se apresentar teoricamente a contradição entre o urbanismo modernista e os valores simbólicos dos moradores; na segunda, como os valores simbólicos se materializaram nos condomínios horizontais irregulares em Brasília; na terceira parte, como os valores simbólicos justificaram a irregularidade da apropriação do espaço. Finalmente, retoma-se o simbolismo como um dos elementos constitutivos da construção do espaço urbano da Capital Federal.

A CIDADE PLANEJADA E AS SUAS “DEFORMAÇÕES”

A escolha do projeto urbanístico da cidade foi feito mediante concurso e o vencedor, Lúcio Costa, apresentou um projeto modernista audacioso, baseado na linha urbanística de Le Corbusier, arquiteto suíço. O projeto previa reforçar o espaço social, além de organizar fisicamente o núcleo urbano com comércio, habitações, locais de trabalho e lazer setorizados. Destaca-se que Brasília sempre esteve relacionada à idéia de planejamento. Desde sua concepção, a preocupação foi sempre a efetivação de um processo de ocupação ordenado e eficaz do território.

A singularidade de Brasília esteve, portanto, concebida de maneira que todas as esferas da vida urbana girassem em torno de um único ideal, relacionando a nova capital, a uma nova vida para a sociedade brasileira. Por isso, a cidade deveria imprimir novas características sociais e econômicas, deveria conduzir um novo tempo, o do progresso e da soberania (KUBITSCHEK, 2000). A cidade modernista deveria representar um novo caminho a ser seguido, centrado no discurso desenvolvimentista que buscava proporcionar condições igualitárias para a sociedade.

Mas, pressões sobre a cidade planejada se tornaram mais fortes e assim, somado à necessidade de abrigar os operários que construíram a cidade, e aos intensos fluxos migratórios que se dirigiram para a Capital Federal desde seus primórdios, desencadearam-se fortes tensões entre o ideal de cidade planejada e as necessidades reais da população. O simbolismo que envolvia a cidade passou se esfacelar em meio às expectativas da população que massificava a cidade real.

Paralelamente às tensões impostas na periferia da nova Capital por aqueles que não faziam parte do plano original, surgiram também os impasses quanto ao modelo de sociabilidade imposta à população pensada para o Plano Piloto. O modelo modernista foi confrontado com o estilo de vida de uma parcela da população, cujos anseios e expectativas se relacionavam a um modelo de sociedade consumista e individualista.

Simmel (1979) dá indícios de como se originam atitudes individualistas diante da perspectiva de vida urbana moderna. Em decorrência do alto grau de liberdade que a cidade moderna proporcionou e o alto grau de divisão social do trabalho, os homens se vêem obrigados a adotar medidas de reserva como atitude de auto-preservação, tornando-se objetivos e frios. Como resposta surgem atitudes individualistas, como meios de se sobrepor aos demais indivíduos, criando-se a necessidade de diferenciação. Para Harvey (2006) a moda reflete bem aquilo que o indivíduo moderno almeja, já que: “[...] combina a atração da diferenciação e da mudança com a da similaridade e conformidade, quanto mais nervosa uma época, tanto mais rapidamente mudam as suas modas [...]” (HARVEY, 2006, p.34).

Nesse sentido, o projeto modernista favoreceu o desenvolvimento de práticas individualistas, pois, como indica Holanda, o traçado de Brasília condicionou uma vivência sócio-espacial particular, pois agregou espaços predominantemente formais, opondo-se aos espaços urbanos do cotidiano, com características construtivas de permeabilidade e barreiras, que dificultam o movimento de pessoas e interferem no nível de co-presença nos espaços públicos e no grau de urbanidade da cidade (HOLANDA, 1997, 331-332).

De maneira contraditória, o projeto modernista fortaleceu o individualismo, ao mesmo tempo em que impôs equipamentos de uso coletivo, gerando tensões a sociabilidade igualitária proposta pelo planejamento idealizado. Ocorreu a desvalorização dos espaços públicos e proliferam espaços privados com uso restrito ou exclusivo às classes de maior

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