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Fichamento O lugar Do Olhar

Por:   •  18/3/2021  •  Abstract  •  3.019 Palavras (13 Páginas)  •  242 Visualizações

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INTRODUÇÃO

VISIBILIDADE E ESPACIALIDADE

Sensações, momentos, experiências, lugares, pessoas, parece que qualquer coisa para existir deve necessariamente ser fixada sobre um suporte imagético. Segundo Jean Baudrillard, nos últimos anos, um fato, para ser verdadeiro, precisa antes ser apresentado como imagem, e verdadeiro não quer dizer real. P. 5

Em um universo de múltiplas e contínuas possibilidades colocadas ao olhar, as imagens que conseguem prender nosso interesse estabelecem para si um campo de visibilidade privilegiado. Ao mesmo tempo, essas imagens, objetos centrais de nossa atenção, tornam as outras desinteressantes ou despercebidas, ou seja, paralelamente se estabelece um campo de relativa invisibilidade. Assim, existem aquelas imagens que, por conseguirem se extrair do fluxo da continuidade, se singularizam; mais do que percebidas, elas são individualizadas e recebidas com destaque. P. 6

É preciso capturar o olhar e, simultaneamente conservá-lo. Há muitas astucias, das mais sutis às mais evidentes, para justificar, de forma convincente, a razão de se conferir e guardar aquela visão. Algumas imagens se impõem sobre outras e parecem legitimamente gozar do direito de ofuscar as demais. P. 7

Desde o final do século XVIII, ficou claro, pela voz de Alexandre von Humbold, para todos aqueles que praticariam a geografia da contemplação da diversidade terrestre unia duas fontes de prazer: aquela advinda da sensibilidade estética e aquela proveniente da possibilidade de compreensão dos fenômenos observados. P. 8

Atualmente, a tendência mais valorizada é criar quadros teóricos cada vez mais complexos e enfeitados de muitos novos conceitos e expressões sem que isso, entretanto, mantenha qualquer correspondência necessária com um quadro de análise empírico. Por isso, as imagens perderam seu lugar como elementos de análise; no máximo, elas são tomadas como exemplos, meras ilustrações de propósitos autônomos, gerados independentemente de qualquer observação. O trabalho de campo em geografia se transformou assim em um procedimento metodológico secundário, momento de coleta de dados ou simples recurso pedagógico, demonstração de um saber que se constrói fora da observação. P. 9

DUAS ADVERTÊNCIAS A CONSIDERAR

O procedimento de falar a partir de conceitos, de generalizar as informações sem identificá-las diretamente a algo específico é amplamente praticado, sem que isso se constitua de fato em um problema. P. 12

Assim, somos bombardeados por milhares de imagens, vemos se multiplicarem os tipos de suportes e veículos e as formas de registro, mas, concomitantemente, também assistimos a uma progressiva corrida para regular e, por isso, restringir seus usos. O paradoxo é sensível na madeira mesmo como as pessoas se relacionam com os aparelhos de registro, e suas reações são muito diversas P. 13

A pergunta que nos guiou foi a de saber se haveria alguma possibilidade de constituir uma nova abordagem a partir de um ponto de vista geográfico. Quando apresentamos assim a questão, se evidencia imediatamente o fato de que abordagens são também formas de olhar - então podemos dizer que a pergunta fundamental que nos guiou foi saber a especificidade do olhar geográfico quando o tema é justamente o da visibilidade dos fenômenos. Quando procuramos essa especificidade do ponto de vista geográfico fica também claro para todos que estamos querendo observar o papel da espacialidade. P. 16

UMA QUESTÃO DE POSIÇÃO: PONTO DE VISTA, COMPOSIÇÃO E EXPOSIÇÃO

A ideia de espacialidade aqui está sendo empregada no sentido de trama locacional associada a um plano, uma superfície ou volume. P. 17

Três expressões nos interessam particularmente nessa discussão. Elas fazem parte tanto do nosso vocabulário cotidiano mais comum quanto daqueles que é frequentemente utilizado nos discursos sobre as artes. P. 17

A consequência mais grave de as utilizarmos sem que essa dimensão apareça com clareza é perdermos de vista o fenômeno original que gerou o próprio vocábulo, ou seja, perdemos de vista (se é possível utilizar essa palavra) aquilo que constitui a raiz da expressão, aquilo para que a expressão foi criada. P. 18

A consideração do ponto de vista como um elemento relativo à posição no espaço tem, todavia, uma importantíssima decorrência direta que é a compreensão daquilo que "vemos" como uma contingência das posições. Por isso, um ponto de vista sempre deve ser contextualizado em relação ao campo onde estão estabelecidas as posições que o definem. P. 19-20

Empregar a expressão ponto de vista com um sentido metafórico de concepção quer dizer que. tal qual quando olhamos uma paisagem. escolhemos a posição do nosso olhar e, a partir dessa posição, serão determinados o angulo, a direção a distância entre outros atributos que são posicionais. P 20

No caso do ponto de vista concreto, esses atributos são geométricos, mas podem facilmente ser compreendidos também de forma metafórica quando expressão está sendo empregada nesse sentido. Isso nos ajuda perceber que, ao assumirmos uma posição, estamos sempre privilegiando um campo de observação, tornando, por conseguinte, outras parcelas desse campo periféricas sempre “dando as costas” para outra imensa parcela. P. 20

A segunda expressão, composição, é comumente utilizada para designar um conjunto estruturado de formas, cores ou coisas. Nós a entendemos, assim, como o resultado de uma combinação que produz algo novo, formado pela junção estruturada de diversos elementos. Nas artes, fala-se em composição para uma peça ou para uma forma de representação capaz de produzir um resultado original. Diz-se assim, por exemplo, de uma imagem (fotografia, pintura etc.) que ela possui uma composição, ou seja, as diversas coisas figuradas têm uma estrutura que as associa dentro de um mesmo enquadramento. A paisagem é também, nesse mesmo sentido, sempre uma composição. Formas de relevo, diferentes tipos de cobertura vegetal, ocupação das terras, entre muitos outros elementos, se associam de maneira original e configuram uma paisagem. P. 21

Uma paisagem é constituída de inúmeros aspectos, mas como eles estão combinados, em que proporção, distância e situação? Isso significa que composição é um jogo de posições relativas, de coisas que estão dispersas sobre um mesmo plano. A ordem espacial dessa dispersão é um constituinte. Essa é, aliás, a raiz etimológica da palavra. Assim, analisar uma composição é compreender sua espacialidade, o lugar dos elementos nesse conjunto. P. 22

Como a própria designação indica, trata-se de uma posição de exterioridade e isso tem implicações fundamentais. A primeira delas é que passamos a compreender as coisas segundo uma classificação que institui o que deve ser exibido e o que deve ser escondido. Dito de outra maneira: há uma delimitação que estabelece o que deve ser visto e o que não deve e isso é o resultado de uma classificação relacionada ao espaço, é uma questão de posição. Lugares de exposição são lugares de grande e legítima visibilidade. P. 22-23

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