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Geografia E Modernidade_Fichamento

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Por:   •  8/1/2015  •  767 Palavras (4 Páginas)  •  197 Visualizações

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Resumo: Há aproximadamente três anos, um debate sobre a reforma do ensino secundário francês relançou uma antiga discussão em torno do papel e da importância da manutenção da geografia no currículo do ensino básico. Argumentos bastante conhecidos vieram novamente à tona: a geografia nunca teria produ-zido resultados suficientes para fazê-la figurar ao lado das disciplinas "verdadeiramente" científicas; ela pretende integrar qua-se todos os ramos do saber, mas na verdade não ultrapassa o patamar das relações banais entre natureza e cultura; jamais teria se libertado dos estreitos limites de uma tautologia empiris-ta; e se satisfaz com análises simplistas de relações superficiais, sem se elevar ao nível de abstração requerido pela ciência moderna; enfim, ela seria uma ciência "abortada", segundo os julgamentos críticos mais severos. Em resposta, os geógrafos sublinharam os progressos rela-tivos aos diversos domínios incriminados pelos críticos, evo-cando notadamente a introdução de novas técnicas, o caráter mais operacional dos conceitos recentes, assim como o papel da geografia na definição de políticas de reorganização do terri-tório. A resposta enfatizou, portanto, os aspectos relacionados à modernização de seus métodos, a nova perspectiva prospecti-va e, sobretudo, a ruptura que foi operada com aquilo que se identifica como sendo a "velha" geografia. O prestígio e a legiti-midade se justificariam, assim, pela conformidade ao modelo normativo de ciência, e sua modernidade se exprimiria nas téc-nicas sofisticadas (imagens de satélite, tratamento informático de dados, sistemas de informações geográficas etc.) e nos métodos que ela emprega. Geografia e modernidade, eis o eixo central da questão. Assim, saber se a geografia é uma ciência consiste, em um certo sentido, em meditar sobre o caráter moderno desta disciplina. Se aceitarmos, no entanto, a idéia de que a ciência de uma época se inscreve necessariamente na representação do mundo desta época e se aceitarmos, ainda, que a geografia tem justamente como principal tarefa apresentar uma imagem renovada do mundo, parece evidente que a geografia e a modernidade estejam intimamente ligadas. Ao nível do ensino secundário, por exem-plo, ela tem por meta apresentar uma visão global e coerente do mundo, em que a dinâmica dos fenômenos naturais e as relações homem-natureza, ou sociedade-território, são articuladas à luz de uma perspectiva que nos é contemporânea. Neste sentido, o professor de geografia se aproxima da imagem do aedo grego que, através dos seus cantos, reatualizava a ordem do mundo através das aventuras dos deuses e heróis no interior de longas cosmogonias. Assim como o geógrafo atual, estes poetas descre-viam a imagem do mundo e forneciam, ao fazê-lo, uma explica-ção da multiplicidade, uma cosmovisão. Trata-se de uma dimen-são freqüentemente negligenciada do saber geográfico como pro-dutor e difusor de uma cosmovisão moderna. Que ela tenha obtido êxito ou não em estabelecer relações necessárias, leis ou teorias, a geografia é o domínio do saber que procura integrar natureza e cultura dentro de um mesmo campo de interações. Que outra disciplina moderna poderia reivindicar car este papel e esta competência? A filosofia se dedicou a esta tarefa durante séculos. Ela, aliás, tem origem nas questões colo-cadas pelos pré-socráticos sobre o que reuniria a dispersão. Tratava-se da primeira grande aventura da razão como possibi-lidade de conferir uma ordem ao espetáculo da natureza em toda a sua multiplicidade. O geógrafo herdou estas preocupa-ções e as reatualiza na compreensão do mundo atual. As cosmo-gonias modernas podem ser lidas nos manuais, nos tratados e nos atlas geográficos, as modernas odisséias são, portanto, es-critas todos os dias nas obras geográficas. Se a existência de relações entre o discurso geográfico e o espírito da época pode ser facilmente estabelecida, a leitura do sentido do "moderno" é bem menos evidente. Assim, a análise da modernidade geográfica deve, talvez, primeiramente passar pelo estudo das diferentes significações do conceito mesmo de moderno. Este campo possui uma dinâmica bem mais complexa, pois uma desconfiança crescente em relação ao projeto "moderno" emerge nos últimos anos, desconfiança que se traduz no questionamento dos modelos de ciência sob diferentes aspectos. As duas últimas décadas são, aliás, marcadas por um discurso que procura uma explicação geral na idéia de crise -crise econômica, política, social e, a que nos interessa de mais perto, crise da ciência. O recurso a esta idéia faz intervirem implicitamente diversas outras noções: falência, esgotamento e incapacidade. Nessa via, este discurso se obriga a anunciar algo de novo, uma solução substitutiva que, em princípio, poderá preencher as lacunas associadas ao diagnóstico mesmo da crise. Trata-se de uma explicação que possui sempre uma dupla face: de um lado, a condenação do antigo; do outro, o anúncio da supremacia do novo. Essa estrutura recorrente no discurso científico tem já há alguns anos conseguido arregimentar progressivamente novos adeptos.

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